Durante uma apresentação perante uma comissão parlamentar, a ministra do Trabalho e da Segurança Social, Marta Elena Feito, negou na segunda-feira a existência de mendigos na ilha.
Negou ainda que as pessoas que apanham lixo nas ruas o façam em busca de comida e criticou ainda as pessoas que ganham dinheiro a limpar os para-brisas nas estradas, acusando-os de procurar uma "vida fácil".
"Vemos pessoas que parecem mendigos, mas quando se olha para as suas mãos, quando se olha para as suas roupas, percebe-se que estão disfarçadas de mendigos, não são mendigos. Não há mendigos em Cuba", sublinhou a ministra.
Estas declarações, feitas durante uma sessão parlamentar e transmitidas pela televisão nacional, geraram protestos, principalmente nas redes sociais, numa altura em que a população cubana enfrenta uma inflação galopante e as pessoas a pedir esmola ou a vasculhar contentores do lixo são cada vez mais visíveis em Havana.
"Lembrem-se: estas pessoas não são mendigos em Cuba, são pessoas disfarçadas", brincou um utilizador da rede social Facebook, ao publicar fotografias que mostravam pessoas a vasculhar contentores do lixo.
Miguel Díaz-Canel respondeu hoje na sua conta no X, considerando "altamente questionável" a "falta de sensibilidade na abordagem da vulnerabilidade".
O Presidente cubano voltou ao assunto um pouco mais tarde, durante uma sessão parlamentar.
"Nenhum de nós pode agir de forma arrogante, presunçosa, alheio à realidade que vivemos", insistiu, em declarações que duraram cerca de 20 minutos.
"Estas pessoas, que por vezes descrevemos como mendigos ou pessoas ligadas à mendicidade, são, na realidade, expressões concretas das desigualdades e dos problemas sociais" que Cuba enfrenta, reconheceu ainda o governante cubano.
Os níveis de pobreza têm aumentado nos últimos anos na ilha, que enfrenta uma profunda crise económica, impulsionada pela fraca produção local e pelo endurecimento do embargo norte-americano.
Miguel Díaz-Canel não utilizou a palavra 'pobre', preferindo os termos vulnerável ou vagabundo, que as autoridades costumam utilizar para se referirem a esta matéria.
Até 2024, 189 mil famílias e 350 mil pessoas consideradas vulneráveis receberão programas de assistência social na ilha de 9,7 milhões de habitantes, segundo o governo.
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