O município espanhol de Torre Pacheco, na região de Múrcia, vive, desde sábado, dias de tensão devido à existência de distúrbios desencadeados por mobilizações contra imigrantes e já houve várias detenções.
De acordo com o balanço mais recente, emitido esta terça-feira, as perturbações já fizeram pelo menos 13 detidos.
Mais recentemente, na última madrugada, foram detidas três pessoas, que estão acusadas de lançar objetos contra os agentes da polícia mobilizados para o local. Os restantes são suspeitos de crimes de ódio, agressões e desordem pública. Haverá, pelo menos, cinco feridos devido aos distúrbios.
Para além dos 13 detidos, há mais de 120 pessoas que já foram identificadas, a sua maioria não residente na região, para a qual se dirigiam à localidade em grupos organizados.
O coronel chefe da Guarda Civil de Múrcia, Francisco Pulido, disse ainda que foram apreendidos vários objetos que poderiam ser usados como armas.
Mas o que se passa?
As perturbações começaram no final da semana passada, quando foram conhecidos apelos a uma "caça" a imigrantes, lançados por grupos extremistas e nacionalistas, na sequência de uma manifestação pacífica organizada pela autarquia de Torre Pacheco, depois de um idoso, de 68 anos, ter sido agredido por três jovens de origem marroquina, na quarta-feira.
A onda de violência começou na sexta-feira, logo após esta manifestação pacífica, que mobilizou cerca de 500 pessoas neste município, de acordo com os dados do jornal espanhol El País. Grupos extremistas e nacionalistas aproveitaram as circunstâncias para lançar uma cruzada contra os imigrantes residentes na região, tendo inclusive apelado a uma "caça".
A extrema-direita
Logo após as primeiras distúrbios, o poder político condenou a situação, apontando também o dedo ao Vox, que estaria a "utilizar a agressão de um idoso por uma pessoa mal-intencionada para incentivar a violência indiscriminada contra a população estrangeira", como acusou a porta-voz do Podemos, María Marín.
Note-se que o presidente do partido de extrema-direita Vox, Santiago Abascal, exigiu "deportações massivas", enquanto o líder regional, José Ángel Antelo, associou a imigração à insegurança sentida pelos cidadãos.
"Não queremos gente assim nas nossas ruas, nem no nosso país. Vamos deportá-los a todos: não ficará um único", disse, em Torre Pacheco, num protesto sob o mote ‘Defiéndetete de la inseguridad’ [Defende-te da insegurança, em português].
Perante a situação sensível, houve também outras informações a circular, o que acabou por fazer com que a extrema-direita tirasse algum proveito da situação. Imagens de uma agressão foram partilhadas por uma conta ligada ao partido nacionalista Vox, bem como outras imagens do género noutras contas também associadas ao partido.
Após verificação da Lusa, é possível perceber que, apesar de ter realmente existido um ataque violento a Domingo Martínez, em Torre Pacheco, ainda não se conhece a identidade nem a motivação dos autores, embora a polícia espanhola já tenha anunciado a detenção dos três suspeitos de nacionalidade marroquina.
O Ministério Público da região de Múrcia já anunciou, no entanto, que será feita uma investigação por crimes de ódio às declarações do líder regional, José Ángel Antelo. A investigação é aberta após as queixas de partidos políticos como PSOE, Izquierda Unida e Podemos.
Já na segunda-feira, dez imãs da mesquita de Torre Pacheco reuniram-se com dezenas de jovens marroquinos para lhes pedir que ficassem em casa, para evitar novos tumultos nas ruas.
"Nós, os mais velhos, estamos a tentar acalmar os miúdos [referindo-se aos jovens] para que não haja nada e que a violência passe neste momento", afirmou um dos porta-vozes, não identificado, que apelou também para que se evite o "racismo".
"Queremos paz e queremos que a Guardia Civil e a polícia façam o seu trabalho, porque estamos fartos de delinquentes. Não os queremos, não queremos pessoas que atacam um idoso", sublinhou.
A agressão ao idoso: O que aconteceu?
Na madrugada da passada quarta-feira, a vítima, identificada como Domingo, saiu de casa para fazer o sua caminhada diária de quatro quilómetros, em direção ao cemitério de Torre Pacheco, quando foi agredido por um jovem de origem marroquina, aparentemente "sem motivo algum."
"Estava a passear, por volta das 5h50, junto ao cemitério e à estação de autocarros, quando reparei em três indivíduos, possivelmente marroquinos. Um deles estava ao telefone, outro não estava a fazer nada, e o terceiro veio na minha direção e, sem justa causa, começou a dar-me murros na cara", contou o idoso ao El Español.
Domingo frisou ainda que foi espancado "por diversão", já que os jovens não o roubaram: "Tinha o meu relógio e as chaves de casa comigo e aquele jovem nem sequer me tirou o relógio: só me bateu para me magoar", disse.
Quanto às imagens que têm sido partilhadas em contas de extrema-direita, e citadas acima, Domingo esclareceu e garantiu que deixou "bem claro à Guardia Civil que o homem de t-shirt branca" não é ele.
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