"É um dia sombrio aquele em que uma aliança de povos livres, reunidos para afirmar os seus valores e defender os seus interesses, se resigna à submissão", reagiu o chefe do Governo francês na rede social X.
O acordo comercial anunciado no domingo em Turnberry, na Escócia, pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, e pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, fixa em 15% as tarifas aduaneiras norte-americanas sobre os produtos europeus.
O acordo prevê também o compromisso da União Europeia (UE) sobre a compra de energia norte-americana no valor de 750 mil milhões de dólares (cerca de 642 mil milhões de euros) -- visando nomeadamente substituir o gás russo - e o investimento de 600 mil milhões adicionais (514 mil milhões de euros), além de aumentar as aquisições de material militar.
As duas principais potências comerciais trocam diariamente cerca de 4,4 mil milhões de euros em bens e serviços, e Washington ameaçava impor, já a partir de 01 de agosto, tarifas aduaneiras de 30% sobre todas as importações europeias.
Também os ministros do Comércio Externo e dos Assuntos Europeus franceses, Laurent Saint-Martin e Benjamin Haddad, respetivamente, lamentaram um acordo "desequilibrado".
"Vamos ter de continuar a trabalhar, nomeadamente na parte dos serviços", em especial os serviços digitais, afirmou Laurent Saint-Martin em declarações à rádio France Inter, acrescentando que os Estados Unidos têm um excedente comercial em relação à UE, ao contrário do que acontece com os bens.
Para o ministro do Comércio Externo, "há uma questão política por detrás disto" e a Europa precisa de mostrar que é uma potência económica.
"Agora vai haver uma negociação técnica", afirmou, acrescentando: "Podemos aproveitar este momento para nos fortalecermos", acrescentou.
Além disso, Laurent Saint-Martin afirmou que as isenções setoriais são muito importantes para França, considerando o setor aeronáutico essencial para o equilíbrio da balança comercial do país.
Paralelamente, pediu à Comissão Europeia que prepare "medidas de apoio para os setores mais afetados" pelo aumento das tarifas aduaneiras, que em França se fará sentir particularmente nas exportações de vinhos, queijos e cosméticos.
Laurent Saint-Martin sublinhou também que os 27 Estados-membros têm de avançar no processo de simplificação administrativa e burocrática, bem como numa "diversificação comercial", para baixar as taxas em países como a Índia, a Indonésia, o Golfo Pérsico ou a América Latina, em que a França é atualmente o principal bloqueio ao acordo UE-Mercosul alcançado em dezembro passado.
Já o ministro da Indústria, Marc Ferracci, mostrou a mesma cautela relativamente aos setores que poderão escapar às novas tarifas aduaneiras.
"Certos setores importantes para a indústria europeia, como a aeronáutica e os espirituosos, deverão ser isentos", afirmou Ferracci na rádio RTL, acrescentando que ao longo do dia serão divulgados os detalhes do acordo e que dará origem a "uma negociação técnica nas próximas semanas" em Bruxelas.
Embora se reconheça que este acordo traz "estabilidade" para as empresas, os negociadores europeus devem usar "todas as ferramentas à sua disposição", incluindo o mecanismo que permite, por exemplo, "limitar o acesso das empresas norte-americanas aos concursos públicos europeus", salientou Ferracci.
O Grupo das Indústrias Francesas Aeronáuticas e Espaciais (GIFAS) saudou, numa declaração enviada à agência France-Presse, uma isenção "positiva para uma indústria equilibrada entre a França e os Estados Unidos", que permitirá "manter empregos qualificados em todos os níveis da cadeia de fornecimento".
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