"Acho que o problema da Europa não é a regulamentação", diz Pedro Faustino, salientando que esta "tem um desequilíbrio neste momento importante que é a velocidade da inovação, a intensidade da inovação, do R&D".
Contudo, "neste momento há uma oportunidade muito importante no mundo para que a Europa possa aproveitar e ser, se quiser, o porto de abrigo da ciência, da tecnologia, do desenvolvimento, do pensamento livre" e do "espírito crítico", prossegue o gestor.
"Acho que a Europa tem de aproveitar essa oportunidade", refere, salientando que a economia europeia é do tamanho da economia chinesa.
Aliás, "achamos que a China é um bicho-papão económico", mas é do tamanho da União Europeia "e a nossa economia é um pouco menor do que a economia americana", diz.
Portanto, "a Europa tem um potencial brutal para acolher o desenvolvimento e a inovação e, num momento em que a tecnologia tem um papel tão importante no mundo, a relevância da Europa no mundo tem uma oportunidade agora de ouro para poder crescer e para se poder consolidar", defende.
O gestor refere que a Europa, na inovação, "como noutras coisas, nas últimas décadas, fez um percurso fácil de utilizar a confiança que tinha noutros parceiros, nomeadamente nos Estados Unidos".
Ou seja, "quando eu tenho inovação a entrar pela porta dentro, é mais fácil eu acomodar-me a isso e utilizar essa inovação e depois transformá-la e criar uma cadeia de valor em cima disso". Isso aconteceu nas últimas décadas, mas com a conjuntura atual a Europa "tem uma grande oportunidade" de atrair talento e inovação.
A União Europeia tem 450 milhões de habitantes, "é mais do que os EUA", e não é só mercado, mas também talento, pelo que, insiste, esse potencial "gigante" para desenvolver tecnologia existe e "é urgente que se aproveite".
Questionado sobre se a Europa ainda vai a tempo, Pedro Faustino diz que sim: "Vai perfeitamente a tempo de fazer, o que importa é que faça e rápido".
O diretor executivo assinala que "a tecnologia sempre foi um instrumento de poder, mas também sempre foi um instrumento de desenvolvimento social, melhoria das condições de vida, desenvolvimento humano e isso vai continuar a ser assim".
A inteligência artificial (IA) traz outras ferramentas que têm um enorme potencial de desenvolvimento humano, social e económico, diz.
"A nossa responsabilidade enquanto empresas, enquanto líderes empresariais ou líderes políticos (...) é defender uma utilização benigna da tecnologia e não nos podemos desresponsabilizar disso", defende Pedro Faustino, que desfaz o mito de que a Europa é super burocrática comparativamente aos EUA por causa da legislação.
"A legislação é feita para nos proteger. Claro que se houver exagero, isso é um obstáculo à velocidade, mas ela está lá para nos proteger", defende.
Agora, "prefiro uma sociedade mais protegida do que uma sociedade totalmente desregulada. Portanto, eu não vejo a regulamentação europeia nem o AI Act [regulamento sobre a IA] como um travão", mas antes como "uma forma de prevenir o mau uso da tecnologia, nomeadamente a inteligência artificial".
A IA tem riscos, admite, apontando que na sua opinião o maior nem sequer é jurídico, político ou social.
"É nós perdermos o nosso sentido crítico", considera o gestor.
Pedro Faustino considera que tudo o que envolve a regulação europeia de IA "é um tema sério" que as empresas "devem olhar com seriedade".
"Nós estamos a fazer o nosso caminho de preparação para isso", diz, defendendo que tem de haver cuidados diferentes com a tecnologia de IA porque esta tem uma natureza diferente.
Na sua perspetiva, não há um problema na Europa de adotar uma inteligência artificial por causa do AI Act ou outra legislação qualquer.
"Pelo contrário, acho que ela vem trazer para a Europa uma doutrina de utilização do AI Act, uma espécie de uma perspetiva ética e isso é muito importante (...) porque a inteligência tem esses riscos", sendo que um deles é o risco do desconhecimento.
"Ainda estamos numa fase muito embrionária, muito preliminar", não se sabe exatamente o que é que lá está, remata.
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