O candidato às eleições presidenciais António Filipe referiu, esta quarta-feira, que se candidata a Belém com "o apoio do PCP", realçando, no entanto, que é "uma candidatura que não se limita a um quadro partidário" e esclarecendo que se candidata a "um órgão unipessoal e que é uma função suprapartidária".
"Neste momento, a Direita controla todos os órgãos na soberania. Tem uma maioria na Assembleia da República, tem o Governo, tem o Presidente da República, que vem do PSD", disse quando questionado no programa 'Importa-se de repetir?' da SIC Notícias, acerca das suas palavras na apresentação da candidatura às Presidenciais sobre ser uma candidatura capaz de unir democratas e sem reservas com os valores de Abril.
"É uma candidatura a um órgão suprapartidário. E, nesse sentido, esta minha candidatura não é uma candidatura de uma quadro partidário. Sou apoiado pelo PCP, mas esta candidatura dirige-se a todos os portugueses e no exercício da função presidencial. O Presidente da República é alguém que tem até um papel de arbitragem no sentido de garantir o respeito pela Constituição na atividade dos vários órgãos da soberania de acordo com aquelas que são as suas responsabilidades", referiu.
Perguntado se António José Seguro e Luís Marques Mendes não se reveem nos valores de Abril, António Filipe sublinhou que não têm "a mesma conceção sobre qual deve ser o papel do Presidente da República".
"Não faço juízo de valor sobre eles. Agora, a forma como eu entendo que o Presidente da República deve exercer as suas funções, de garantir o cumprimento da Constituição e fazer por isso no exercício das suas competências - eu acho que o Presidente da República não deve extravasar as suas competências. Nós não devemos alinhar na ideia de que queremos um Presidente da República de pulso forte. Tem as suas competências e deve respeitá-las e não deve extravasar, mas deve exercê-las", prosseguiu.
"Militares têm todo o direito de se candidatar"
O candidato a Belém salientou que "não se identifica com candidatos que são candidatos do 'centrão'", referindo-se a António José Seguro e Luís Marques Mendes.
Já sobre ter ficado com mais vontade de se candidatar por haver também um candidato militar, António Filipe disse que "não". "Acho que os militares têm todo o direito, tal como os cidadãos que não sejam militares de se candidatar".
"Nós já tivemos um militar como Presidente da República que foi o general Ramalho Eanes [...]. Eu creio que um cidadão pode ser militar e que tem o direito de se candidatar. Creio é que, ligada à candidatura do almirante Gouveia e Melo e ao seu anúncio, há algumas ideias de um certo poder pessoal e eu não me identifico com isso", notou.
Afirmou ainda que, "dos candidatos apresentados", a sua "candidatura não é substituível para nenhum deles". "Tenho um espaço próprio, que se dirige a todos os cidadãos, não é uma candidatura partidária. Ao longo da minha atividade política, já exerci um cargo suprapartidário como vice-presidente da Assembleia da República e, ao longo desses 12 anos, dirigi muitas horas à Assembleia da República e nunca tive nenhum reparo de ninguém relativamente à isenção que tive no exercício do cargo".
"Não é excesso de modéstia dizer que demonstrei ser capaz de fazer pontes com várias forças políticas, exercendo uma posição suprapartidária", referiu.
'Corrida' a Belém? "Neste momento, está zero a zero"
António Filipe reiterou ainda, no mesmo espaço na SIC Notícias, que "esta candidatura é para ir a votos" e que é dirigida "a todos os cidadãos".
"Neste momento, está zero a zero. O atual Presidente da República não se pode recandidatar, portanto não há nenhum repetente. Nós lançamos esta candidatura com a expectativa muito positiva porque temos sinais claros de apoios fora das fronteiras do PCP, até pessoas que, no passado, votaram em outras forças políticas. Temos uma expectativa muito positiva, desde o seu anúncio [da candidatura] e desde o lançamento que fizemos na passada segunda-feira", acrescentou.
O antigo vice-presidente da Assembleia da República disse que quer fazer "uma candidatura muito próxima dos problemas das pessoas" e que vê "dos outros candidatos muitas afirmações taticistas sobre equilíbrios, sobre políticas, sobre consenso, sobre estabilidade", acrescentando que "aquilo com que o Presidente da República se deve preocupar é com os problemas que as pessoas estão a sentir no seu dia-a-dia".
"O Presidente não vai governar, mas tem importância. O seu posicionamento político relativamente a questões que dizem respeito aos portugueses e a sua preocupação é importante", frisou.
Sobre Marcelo Rebelo de Sousa, António Filipe sublinhou que não é seu adversário. No entanto, apontou que o atual Presidente da República esteve "mal", por exemplo, quando dissolveu a Assembleia da República após o Orçamento do Estado de 2022 não ter sido aprovado.
"Os meus adversários são aqueles que estão, neste momento, no terreno e que eu creio que tenho uma visão que se distingue. Não é substituível nem pelos que existem e creio que esta candidatura não vai desistir, independentemente de quem sejam os candidatos que venham a ser apresentados", afirmou.
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