Gisele Oliveira, a brasileira detida em Coimbra por suspeitas de ter matado cinco dos sete filhos, usava sedativos para deixar as vítimas - com idades entre os 10 meses e os três anos - inconscientes e depois asfixiava-as. A mulher é ainda suspeita de ter tentado matar o filho mais velho e o marido.
Em conferência de imprensa, na quinta-feira, a Polícia Civil de Minas Gerais, no Brasil, explicou que os crimes ocorreram na cidade de Timóteo e o primeiro caso ocorreu em 2008, quando a mulher, de 40 anos, tentou matar o filho com Neocid, um inseticida usado para matar piolhos, colocado no biberão. A criança sobreviveu após ser assistida no hospital.
"No decorrer das investigações, descobrimos também uma tentativa de homicídio ocorrida em 2008, quando teria sido encontrado veneno na mamadeira da criança", explicou Valdimara Teixeira de Paula, da Delegacia de Homicídios de Timóteo, em conferência de imprensa.
Em 2010, duas crianças morreram com um intervalo de 32 dias. Uma tinha 10 meses, a vítima mais nova, e apresentava sintomas de intoxicação por Fenobarbital, um medicamento antiepiléptico e anticonvulsivante. Na altura, o caso chegou a ser investigado, mas não foi possível apurar a autoria do crime.
Em 2019, outras duas crianças morreram com intervalo de dois meses e meio. Uma das vítimas tinha uma prescrição médica para Fenobarbital e, segundo a autoridade, terá sofrido uma convulsão.
"As autoridades não tiveram acesso a essas mortes na época. Não foi registado um boletim de ocorrência", frisou Valdimara Teixeira de Paula.
A responsável explicou que, em 2022, também o marido de Gisele Oliveira foi hospitalizado com sintomas de intoxicação por sedativos, mas ninguém suspeitou do caso.
"Chegava com consciência rebaixada, ficava cerca de 24 horas sonolento e, quando retomava a consciência, continuava confuso, da mesma forma como as crianças", destacou.
A última morte ocorreu em 2023 e foi o ponto de partida para a investigação que culminou na detenção da brasileira na noite de terça-feira, em Coimbra. O alerta à Polícia Civil foi dado por uma assistente social, que ouviu uma tia da criança a afirmar no hospital que se tratava da "quinta morte e que a justiça precisava de ser feita".
"As testemunhas relataram que as crianças ficavam sob os cuidados de parentes e sempre voltavam diferentes após passarem alguns dias com a mãe. Voltavam grogues, prostradas e com sintomas incomuns. Uma testemunha chegou a apresentar um áudio em que ela afirmava ter matado as cinco crianças", explicou o escrivão Leonardo Félix na conferência de imprensa, citado pelo G1.
A delegada Valdimara Teixeira de Paula explicou, ainda, que, "depois de ouvir dezenas de pessoas, fazer um trabalho de campo de forma minuciosa, e ter acesso a muitos prontuários", apurou-se que a mulher deixava as crianças inconscientes com sedativos antes de as asfixiar.
Cinco crianças foram assassinadas por envenenamento em um intervalo de 15 anos. A Polícia Civil de Minas Gerais confirmou nesta quinta (7) a prisão de uma mulher de 40 anos, suspeita de matar os próprios filhos - com idades de 10 meses e 3 anos - na cidade de Timóteo, no Vale do… pic.twitter.com/OGtqAzVeV0
— O Tempo (@otempo) August 7, 2025
"A redução do nível de consciência sempre acontecia por meio de diferentes medicamentos e depois elas [as vítimas] eram asfixiadas", disse. "Uma das crianças foi encontrada com uma fralda na boca e a outra com o rosto virado para o sofá".
Gisele fugiu para Portugal após começar a ser investigada. Acabou detida em Coimbra
Segundo Valdimara Teixeira de Paula, "logo que se iniciaram as intimações" relacionadas com as mortes, Gisele "fugiu do distrito da culpa e foi para Portugal".
A suspeita acabou por ser detida pela Polícia Judiciária (PJ), na noite de terça-feira, em Coimbra, na sequência de um "mandado de detenção internacional emitido pelas autoridades judiciárias brasileiras em julho".
Em comunicado, enviado às redações na quarta-feira, a autoridade portuguesa explicou que a mulher, que chegou a Portugal em abril, era "suspeita da prática dos crimes de homicídio e coação, ocorridos entre 2008 e 2013, tendo recorrido à administração intencional e reiterada, de substâncias sedativas que alegadamente provocaram a morte a cinco dos seus filhos menores".
Três das cinco vítimas mortais era "filhos em comum com o companheiro", que estava também a residir em Portugal. Além do marido, Gisele estava com outra criança, um menino de 12 anos, filho de ambos, que foi sinalizado junto da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ).
A mulher foi presente ao Tribunal da Relação de Coimbra e ficou sujeita à medida de coação de prisão preventiva, e a aguardar o ulterior processo de extradição.
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