"A anexação progressiva da Cisjordânia ocupada é ilegal, tem de acabar. A destruição generalizada de Gaza é intolerável", afirmou António Guterres, na conferência internacional sobre a solução de dois Estados (Palestina e Israel).
Estes não são "acontecimentos isolados", mas sim "parte de uma realidade sistémica que está a desmantelar as bases da paz no Médio Oriente", salientou.
António Guterres reiterou que "nada pode justificar os horríveis ataques terroristas de 07 de outubro" perpetrados pelo movimento islamita palestiniano Hamas ou a captura de reféns.
Da mesma forma, afirmou que "nada pode justificar a destruição de Gaza", a fome do povo palestiniano, bem como "o assassínio de dezenas de milhares de civis, a fragmentação crescente dos territórios palestinianos ocupados, a expansão dos colonatos, o aumento da violência dos colonos" ou "a demolição de casas e as deslocações forçadas".
Na semana passada, o parlamento israelita (Knesset) aprovou uma moção não vinculativa pela anexação da Cisjordânia. Para o Ministério dos Negócios Estrangeiros palestiniano, trata-se de "uma nova declaração de guerra contra o povo palestiniano".
Sobre esta conferência, Guterres defendeu ser preciso garantir que "não se torna apenas em mais um exercício de retórica bem intencionada".
"Pode e deve servir como um ponto de viragem decisivo que catalise um progresso irreversível no sentido de pôr fim à ocupação e concretizar a aspiração comum a uma solução viável de dois Estados", sublinhou.
A conferência devia ter decorrido em meados de junho, mas foi suspensa devido a questões "logísticas e de segurança" face aos ataques entre Israel e o Irão.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, tinha planeado reconhecer o Estado da Palestina durante o evento, um passo que irá dar em setembro.
Na sessão de abertura, o ministro dos Negócios Estrangeiros saudita, Faisal bin Farhan, saudou a decisão de Macron, o que reflete "um consenso internacional crescente sobre o direito do povo palestiniano a estabelecer o seu Estado independente".
Não existe "nenhuma alternativa" a uma solução de dois Estados, com israelitas e palestinianos a viverem lado a lado, considerou também o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Noel Barrot, na abertura do encontro, em Nova Iorque.
"Só uma solução política de dois Estados pode satisfazer as aspirações legítimas de israelitas e palestinianos de viverem em paz e segurança. Não há alternativa", reforçou Barrot, pedindo "medidas concretas" para preservar a perspetiva de um Estado palestiniano viável.
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