O luso-franco-israelita Ofer Calderon, que esteve refém do Hamas cerca de um ano e meio, foi presença na final na Volta a França (também conhecida por Tour).
Calderon, de 54 anos, foi o convidado especial da Israel-Premier Tech, a equipa israelita que participa na competição de ciclismo e que teve o seu final este domingo, nos Campos Elísios, em Paris.
"Ainda estou em choque por estar aqui, numa bicicleta, na Volta a França", disse Calderon à publicação The Times of Israel.
"Nunca estive em Paris e muito menos numa bicicleta. Estou muito emocionado por estar aqui com a equipa. Mas também estou dividido: esta alegria não pode ser completa porque, a par de todas estas emoções, é muito difícil lidar com o que está a acontecer comigo e com todo o povo de Israel - que ainda temos reféns em Gaza, os nossos soldados estão lá e alguns estão a ser mortos", continuou Calderon, que é amante do ciclismo há já muito tempo. "Por isso, nada estará completo enquanto não estiverem todos de volta a casa. É altura de acabar com esta história e trazer toda a gente de volta", alertou.
Calderon fez o percurso ao lado de Sylvan Adams, que é o dono da equipa de cliclismo e que, ainda Calderon era refén, prometeu que quando este fosse libertado iria pedalar com ele na Tour.
Segundo o Times of Israel, a Israel Premier Tech marca a sua sexta participação consecutiva na Volta a França, dedicando este ano a corrida aos reféns ainda sob controlo do Hamas.
À imprensa israelita, Calderon apontou ainda que "é uma pessoa otimista por natureza" e que isso não mudou nos 484 dias em que esteve refém: "Nesse sentido, continuei a ser o mesmo Ofer. A esperança foi o que me fez continuar lá. Eu acreditava que saíria de lá. Acreditava que voltaria a montar. E aqui estou eu, com aquela sensação única que todos os ciclistas conhecem. Eu agarrei-me a isso. Não desisti. E agora estou aqui."
O refém com cidadania portuguesa estava entre os três prisioneiros do Hamas em fevereiro às autoridades israelitas, no âmbito do acordo de cessar-fogo.
Calderon obteve a nacionalidade portuguesa pela sua origem sefardita, depois de ter sido feito refém, a 7 de outubro de 2023. Dois filhos de Calderon foram libertados pouco mais de um mês após o ataque, em novembro, mas a sogra e uma sobrinha foram mortas na ação do Hamas.
Só no início deste ano é que soube que um dos filhos, de 19 anos, tinha sobrevivido ao ataque de 7 de Outubro. Reencontrou-se com os filhos após ser libertado, e o momento foi registado.
Face a um aumento alarmante de mortes por desnutrição na Faixa de Gaza, o exército israelita anunciou no sábado uma "pausa tática" diária de 10 horas nas suas atividades militares em três zonas do enclave para permitir a distribuição de ajuda humanitária "todos os dias até novo aviso".
No entanto, pelo menos 31 pessoas morreram nas últimas horas, enquanto aguardavam ajuda humanitária ou em resultado de bombardeamentos.
O governo de Gaza alertou que, se nos próximos dias não entrar leite em pó e suplementos nutricionais, mais de 100.000 crianças em Gaza correm o risco de morrer de desnutrição.
O número total de vítimas por desnutrição desde o início da ofensiva israelita contra a Faixa de Gaza, em 7 de outubro de 2023, ascende a 127, das quais 85 eram crianças, de acordo com dados do departamento de Saúde de Gaza.
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