Moçambique aposta na testagem local para conter surto de mpox

As autoridades sanitárias garantem que Moçambique está preparado para lidar com o mpox, com capacidade para 4.000 testes, feitos localmente, tendo já usado meia centena no surto em Niassa, apesar de alguma falta de informação nas ruas.

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Lusa
27/07/2025 06:32 ‧ há 5 horas por Lusa

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"Temos capacidade boa para poder fazermos a testagem. A questão de testagem, pelo menos para o nosso país, está garantida", disse à Lusa o coordenador do Centro Operativo de Emergências em Saúde Pública (COESP), Filipe Murimirgua.

 

O atual surto de mpox (monkeypox) está localizado no distrito de Lago, província do Niassa, junto ao Malaui e Tanzânia, com pelo menos 13 casos confirmados desde 11 de julho, todos em situação estável, segundo as autoridades de saúde.

"Tratando-se de uma doença infetocontagiosa, há sempre um risco de alastramento, razão pela qual todas as províncias estão em alerta, também já começaram a suspeitar de casos e a testar", disse, reconhecendo que há casos suspeitos em Maputo, Cabo Delgado, Zambézia, Manica e Tete, mas com melhorias nos processos face ao surto de 2022.

"O país está melhor organizado, sobretudo a questão de deteção precoce dos casos. [No surto no Niassa] foi possível detetar os casos com a colaboração dos outros países vizinhos, Malaui, por exemplo, que apoiou na identificação e reporte, que foi bastante útil essa colaboração", disse Murimirgua.

A mpox é uma doença viral zoonótica, identificada pela primeira vez em 1970, na República Democrática do Congo. No atual surto, na África austral, desde 01 de janeiro já foram notificados 77.458 casos da doença, em 22 países, com 501 óbitos.

O primeiro caso de mpox em Moçambique aconteceu em outubro de 2022, com um doente em Maputo. O coordenador do COESP, órgão da Direção Nacional de Saúde Pública, aponta a capacidade de testagem que agora existe nas províncias, com 4.000 testes disponíveis e mil para análises de reagentes para identificar estirpes de casos positivos, como a grande mudança em três anos.

"Assim que foi declarada a Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional [pela OMS, em agosto de 2024] pela segunda vez, o país investiu na capacidade laboratorial para testar ao nível das províncias também", assumiu Filipe Murimirgua.

Moçambique tem agora capacidade para testar em todas as capitais de província, através dos laboratórios de Saúde Pública: "Há uma capacidade enorme de testagem. Diria que ainda é subutilizada a nossa capacidade. Todos os casos que estão suspeitos são testados e conseguimos dar os resultados em tempo útil".

Murimirgua garante que a Saúde Pública está a fazer um "esforço para poder conter o surto", ainda localizado no distrito de Lago, mas que tudo depende da "colaboração da população", sobretudo no isolamento: "É um dos desafios que nós temos para o controlo. Se tivermos a colaboração, penso que ainda há condições de contermos o surto naquela região".

Em Maputo, a 2.300 quilómetros do surto no Niassa, local do único caso até hoje confirmado no sul do país, a preocupação com a mpox sente-se timidamente nas ruas, entre desconhecimento sobre prevenção.

"Tem que publicitar porque aquela doença é perigosa", diz à Lusa Albino Paulo, 56 anos, assumindo saber pouco sobre mpox.

"Quando você come uma coisa, lavar a mão porque as pessoas pensam que tomar banho é luxo, não é isso, é tirar as impurezas para você ficar puro", arrisca Albino Paulo, sobre os cuidados necessários.

Aureliana Felipe, 75 anos, camponesa, aplica à mpox os cuidados com outras doenças contagiosas, com a varíola, os mesmos "desde há muito tempo": "Nós, no nosso tempo, evitávamos [doenças] com o banho de cacana [planta], limpeza bem feita dentro da casa, arrancar folhas de eucalipto".

Sem rodeios no receio com a mpox, atira: "Se alguém souber que no hospital detetaram essa doença, tem que se cuidar, lavar as mãos com sabão e tirar cartão de saúde".

Na baixa da cidade de Maputo, Suzana Eugênio Novela, 34 anos, vendedora, já ouviu falar da doença nas redes sociais, entre um misto de desconhecimento e receio.

"Na verdade, não sei exatamente dizer o que é, só que já vi essa doença, já vi na internet, no Facebook. Então, eu vi que é uma doença que, na verdade, mata", diz, assumindo não saber bem como prevenir.

No terreno, as autoridades de saúde tentam fazer passar a mensagem, com foco no Niassa, sendo o isolamento dos casos positivos e suspeitos o "grande desafio", até "porque a maioria dos doentes são clinicamente estáveis".

"Só tem lesões na pele, de vez em quando febre, não está grave para ficar isolado dentro de casa. Então, ele continua a fazer as suas atividades diárias, pese embora que o setor cada vez mais monitora e informa quais são as medidas e os riscos", diz Filipe Murimirgua, garantindo que "tudo está a ser feito" com o apoio das comunidades e dos líderes comunitários.

"Estamos confiantes. Eu penso que temos a capacidade, primeiro a capacidade diagnóstica, também temos a capacidade de isolamento, tanto domiciliário, assim como nas unidades sanitárias, estamos a criar espaços para isolamento dos casos graves, e também temos a componente muito mais de comunicação", concluiu.

Leia Também: Tratores para transporte só onde não se pode construir estradas em Moçambique

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