"Os danos são piores do que aqueles que a 'Guerra dos 16 anos' causou nestas vilas que estou a fazer referência aqui na província da Zambézia. E é só visto, dito ninguém acredita", afirmou Daniel Chapo, após a visita de três dias que realizou àquela região do centro do país, que terminou no sábado.
"São bens públicos e privados, o prejuízo é enorme. Estas vilas que eu estou a falar aqui, Morrumbala, Mocubela e o distrito da Macurra, mesmo durante a 'Guerra dos 16 anos' não houve este nível de destruição que aconteceu durante as manifestações. Durante a 'Guerra dos 16 anos', a Renamo chegou à vila, invadiu, mas vivia nestas casas", apontou Chapo, assumindo que estas vilas ficaram "totalmente destruídas" nos protestos, incluindo hospitais ou mercearias, apelando à reconciliação nacional.
As autoridades da Zambézia estimaram anteriormente necessitar de 1.500 milhões de meticais (20 milhões de euros) para reabilitar as infraestruturas destruídas nestes protestos pós-eleitorais.
A guerra civil de Moçambique, também conhecida como a 'Guerra dos 16 anos', opôs as forças do Governo moçambicano, da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), de 1977 a 1992, terminando então com o Acordo Geral de Paz, após estimativas de um milhão de mortos e elevada destruição.
Na Zambézia, o chefe de Estado fez um paralelo com as manifestações pós eleições gerais de 09 de outubro até março último e as consequências destas em várias zonas daquela província.
"[a Renamo, durante a guerra] viviam nesta casa de administrador, viviam nesta secretaria, viviam nesta escola, viviam nesse hospital, viviam até incluindo neste posto policial ou comando policial. Portanto a vila foi ocupada, mas não destruíram, viviam lá. Por isso, quando houve o Acordo Geral de Paz, algumas infraestruturas de algumas vilas sede como estas que estou a fazer referência estavam em condições. Mas estou a dizer uma vila inteira que desapareceu", apontou.
Moçambique viveu desde as eleições de 09 de outubro de 2024 um clima de agitação social, com manifestações e paralisações convocadas por Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais que deram vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frelimo, partido no poder, como quinto Presidente.
Segundo organizações não-governamentais, cerca de 400 pessoas morreram em resultado de confrontos com a polícia, além de destruição de património público e privado, saques e violência, conflitos que cessaram após encontros entre Mondlane e Chapo em 23 de março e em 20 de maio, com vista à pacificação.
O Ministério Público (MP) moçambicano acusou Venâncio Mondlane de ter apelado a uma "revolução" nos protestos pós-eleitorais, provocando "pânico" e "terror" na população, responsabilizando-o pelas mortes e por mergulhar o país no "caos".
No despacho de acusação, entregue na terça-feira na Procuradoria-Geral da República (PGR), em Maputo, ao ex-candidato presidencial, e a que a Lusa teve acesso, o MP recorre, como grande parte da prova, aos apelos à contestação, greves, paralisações e de mobilização para protestos feitos nos diretos de Venâncio Mondlane nas redes sociais, ao longo das várias fases da contestação ao processo eleitoral de 2024 em Moçambique.
"Os factos praticados pelo arguido colocaram em causa, de forma grave, bens jurídicos fundamentais, tais como a vida, a integridade física e psíquica das pessoas, a liberdade de circulação, a ordem, segurança e tranquilidade públicas, bem assim o normal funcionamento das instituições públicas e privadas", lê-se.
O MP imputa a Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados eleitorais, a "autoria material e moral, em concurso real de infrações", os crimes de apologia pública ao crime, de incitamento à desobediência coletiva, de instigação pública a um crime, de instigação ao terrorismo e de incitamento ao terrorismo.
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