Situação em Gaza? "Desrespeito descarado pelo Estado de Direito"

O secretário-geral adjunto da ONU, Maher Nasser, considerou que a situação na Faixa de Gaza demonstra "desrespeito descarado pelo Estado de direito" e pediu um cessar-fogo para levar ajuda humanitária ao enclave.

Gaza

© Getty Images

Lusa
26/07/2025 07:42 ‧ há 10 horas por Lusa

Mundo

Maher Nasser

Em entrevista à Lusa, o palestiniano descreveu como "insustentáveis e inacreditáveis" as condições no território, onde tem havido um aumento de mortes de crianças por subnutrição.

 

Nasser, nascido na Cisjordânia ocupada numa família de refugiados, começou a trabalhar para as Nações Unidas precisamente na Faixa de Gaza, em 1987, numa altura em que "dois terços" dos 750 mil habitantes eram refugiados.

"Eu morei lá, [entre] algumas das pessoas mais generosas e bondosas, e mesmo entre aqueles que tinham muito poucos [bens] materiais, partilhavam o que tinham", lembrou o dirigente, de 62 anos.

"E o que se passa em Gaza está e sempre esteve na minha mente, mesmo antes do que se passou há quase dois anos", disse Nasser, numa referência aos ataques liderados pelo grupo islamita palestiniano Hamas em 07 de outubro de 2023.

Ver, dia após dia, o que se passa com as pessoas que conheço e com os seus filhos parte o coração

Os ataques contra o sul de Israel causaram cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns, levando à retaliação por parte de Israel, que já provocou mais de 59 mil mortos e a destruição de quase todas as infraestruturas de Gaza.

"Ver, dia após dia, o que se passa com as pessoas que conheço e com os seus filhos parte o coração", admitiu Nasser, que trabalhou para a Agência da ONU para a Assistência aos Refugiados Palestinianos (UNRWA, na sigla em inglês).

A agência indicou ter seis mil camiões com "milhares de toneladas de alimentos, material de higiene e medicamentos à espera do lado de fora de Gaza para entrar a qualquer momento, se for permitido", sublinhou o dirigente.

"O desafio é o acesso e a capacidade de trazer os alimentos", lamentou, porque Israel proibiu a UNRWA de operar no território, acusando-a de estar profundamente infiltrada pelo movimento islamita Hamas.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, permite apenas a distribuição de assistência por parte da Fundação Humanitária de Gaza, controlada e financiada pelos Estados Unidos.

O resultado foi a morte de mais de mil residentes de Gaza por ataques realizados por agentes que guardavam os pontos de distribuição israelitas e, noutros casos, por forças militares, disse o Alto Comissariado para os Direitos Humanos.

"Não se pode encaminhar as pessoas para um lugar [onde] já vimos centenas de pessoas baleadas e mortas enquanto iam buscar ajuda", disse Maher Nasser.

"Isto não é viável e não está de acordo com o direito internacional humanitário. É uma violação do direito internacional", defendeu o secretário-geral adjunto da ONU.

Por outro lado, Nasser acrescentou que no enclave "também se joga o futuro das relações internacionais. É por isso que Gaza é importante".

"Se permitirmos o desrespeito descarado pelo Estado de direito numa parte do mundo, será muito difícil exigir que outros se comportem dentro do que é aceitável", sublinhou o palestiniano.

"É por isso que o secretário-geral [da ONU] António Guterres não tem parado de falar sobre Gaza e sobre a importância de se chegar realmente a um cessar-fogo", disse o dirigente.

É necessário haver um impulso para uma solução política real a longo prazo

Uma trégua vai permitir "à ONU intervir e começar a reconstruir vidas e meios de subsistência", assim como conseguir a libertação dos reféns israelitas que ainda estão retidos no enclave, referiu Nasser.

Mas destacou que este não é um conflito "que se possa resolver apenas pelo lado humanitário. É necessário haver um impulso para uma solução política real a longo prazo".

"Não podemos continuar a falar de uma solução de dois Estados e ter uma realidade de um Estado", disse Nasser, que foi nomeado por António Guterres como comissário-geral da participação da ONU na Expo2025 em Osaka.

Leia Também: Paris, Londres e Berlim exigem fim imediato da catástrofe em Gaza

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