Em comunicado, a Zero - Associação Sistema Terrestre Sustentável precisa que o que designa de "ponto central do acordo" é a "promessa de 700 mil milhões de euros para comprar combustíveis fósseis e energia nuclear dos Estados Unidos da América (EUA) nos próximos três anos".
Considerando que tal terá um "impacto negativo" na descarbonização, os ambientalistas apelam "ao Parlamento Europeu e aos Estados-Membros para que analisem e rejeitem quaisquer elementos do acordo que prejudiquem os objetivos climáticos, a soberania energética ou a credibilidade internacional da Europa".
O Presidente norte-americano, Donald Trump, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciaram no domingo um acordo comercial que fixa em 15% as tarifas aduaneiras norte-americanas sobre os produtos europeus.
O acordo prevê também o compromisso da UE sobre a compra de energia norte-americana no valor de 750 mil milhões de dólares (cerca de 642 mil milhões de euros) -- visando nomeadamente substituir o gás russo - e o investimento de 600 mil milhões adicionais (514 mil milhões de euros), além de aumentar as aquisições de material militar.
"Num momento em que a UE deve investir numa maior utilização de renováveis e na suficiência energética como meios para aumentar a sua resiliência ambiental e económica, este suposto acordo comercial agora firmado vem aumentar a dependência dos combustíveis fósseis (importados), pôr em perigo os objetivos de descarbonização (que já ficam aquém do que a ciência indica que seria necessário) e dar um sinal contrário à sociedade e aos mercados", sublinham os ambientalistas.
Sustentam que "não é credível" a justificação de que os "volumes de importações energéticas dos EUA substituirão as importações russas", citando dados da organização de estatísticas europeia Eurostat que indica que "os EUA já detêm uma quota de 50% do mercado de gás natural liquefeito (GNL) da UE". "Mesmo substituindo totalmente os restantes 17% fornecidos pela Rússia, isso acrescentaria apenas cerca de 9 mil milhões de euros anualmente --- apenas 2,5% do total das importações energéticas" da União, adiantam.
"Em 2024, as importações totais de energia da UE foram avaliadas em cerca de 370 mil milhões de euros. Mesmo nos cenários mais radicais, a transferência das importações de petróleo e gás para os EUA renderia menos de 100 mil milhões de euros adicionais por ano --- muito aquém da meta de 250 mil milhões de dólares/ano anunciada no acordo".
O apelo que faz segue-se, segundo a Zero, a um pedido no mesmo sentido por parte do European Environmental Bureau (EEB - Gabinete Europeu do Ambiente), que se apresenta como a maior rede de organizações não-governamentais de ambiente da Europa.
Leia Também: Comissão permite que Estados-membros aumentem pagamentos a agricultores