"Os assassínios de palestinianos em busca de alimentos pelas forças israelitas são crimes de guerra", sublinha a organização de defesa dos direitos humanos num relatório hoje publicado.
"A terrível situação humanitária [em Gaza] é uma consequência direta da utilização da fome como arma de guerra por Israel - um crime de guerra - bem como do bloqueio intencional e contínuo à ajuda humanitária e aos serviços básicos", aponta a HRW.
Após 22 meses de uma guerra devastadora desencadeada por um ataque do grupo islamita Hamas a Israel, a 07 de outubro de 2023, a Faixa de Gaza está hoje ameaçada de "fome generalizada", segundo a ONU, e depende completamente de ajuda humanitária entregue por camiões ou por via aérea.
Israel aliviou parcialmente, no final de maio, o bloqueio total de bens essenciais imposto ao enclave palestiniano no início de março. O bloqueio provocou uma grave escassez de alimentos, medicamentos e outros bens essenciais e transformou a região numa das maiores crises humanitárias do mundo.
Nos últimos dois meses, apenas a Fundação Humanitária de Gaza (FHG), uma organização militarizada controlada por Israel e pelos Estados Unidos, teve autorização para entregar alimentos em Gaza, mas essa distribuição foi considerada por várias organizações, incluindo a ONU, como insuficiente e marcada por episódios de desespero, caos e de violência por parte das forças israelitas.
"Incidentes que resultaram num grande número de vítimas aconteceram quase diariamente nos quatro locais de distribuição de ajuda geridos" pela FHG, com a qual as organizações internacionais se recusam a trabalhar, adianta o relatório da HRW.
"Pelo menos 859 palestinianos foram mortos enquanto tentavam obter alimentos nestes locais da FHG entre 27 de maio e 31 de julho, a maioria dos quais pelo exército israelita, segundo as Nações Unidas", sublinha a mesma fonte.
"As forças israelitas não só matam deliberadamente à fome os civis palestinianos em Gaza, como também disparam quase diariamente contra aqueles que procuram desesperadamente comida para as suas famílias", acusa o vice-diretor da Divisão de Crise e Conflito da HRW, Belkis Wille, citado no relatório.
Israel, "apoiado pelos Estados Unidos e por fornecedores privados, estabeleceu um sistema de distribuição de ajuda humanitária defeituoso e militarizado, que transformou as operações de distribuição em armadilhas mortais, e tem que ser abandonado", conclui o relatório da HRW.
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