Numa carta aberta divulgada na quarta-feira e publicada pela revista Variety, 38 realizadores afirmam que "a decisão da MUBI de fazer parceria com a Sequoia Capital demonstra uma total falta de responsabilidade para com os artistas e comunidades que ajudaram a empresa a prosperar".
No final de maio, a produtora, distribuidora e plataforma de 'streaming' MUBI foi criticada e alvo de pedidos de boicote depois de se saber que obteve um financiamento de 100 milhões de dólares (cerca de 87,3 milhões de euros) da empresa norte-americana Sequoia Capital.
Segundo a Variety, esta empresa tem ligações próximas com a 'start up' de tecnologia Kela, fundada por quatro veteranos de unidades de segurança israelitas, em resposta aos ataques terroristas do Hamas de 07 de outubro de 2023, e com fabricantes de 'drones' militares e outros aparelhos aéreos não tripulados.
"O crescimento financeiro da MUBI, como empresa, está agora explicitamente ligado ao genocídio em Gaza, o que implica todos nós que trabalhamos com a MUBI", afirmaram os realizadores.
Na carta aberta, apelam à MUBI para que condene publicamente a Sequoia Capital de "lucrar com o genocídio", que retire a empresa dos lugares de direção da distribuidora e que siga uma política de ética em futuros investimentos.
Em junho, quando foi criticada pelo investimento da Sequoia Capital, a MUBI justificou a decisão dizendo que fazia parte de um objetivo de "acelerar a missão de fazer chegar filmes ousados e visionários a mais públicos" e que "as crenças de cada investidor não refletem as opiniões da MUBI".
A carta é assinada por nomes como os portugueses Miguel Gomes e Maureen Fazendeiro, Aki Kaurismaki, Radu Jude, Jessica Beshir, Joshua Oppenheimer, Levan Akin, Courtney Stephens, Camilo Restrepo e Neo Sora.
A fase mais recente do conflito israelo-palestiniano foi desencadeada a 07 de outubro de 2023, com ataques protagonizados pelo movimento islamita palestiniano Hamas no sul de Israel, que causaram cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.
A retaliação de Israel a esses ataques já fez mais de 59 mil mortos, sobretudo civis, destruiu quase todas as infraestruturas de Gaza e provocou a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.
Além disso, incluiu a imposição de um bloqueio de bens essenciais a Gaza, como alimentos, água potável, medicação e combustível.
Mais de uma centena de organizações não-governamentais alertaram para o avanço da fome na Faixa de Gaza, afirmando que até os trabalhadores humanitários "estão a morrer lentamente".
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