O suspeito do ataque a um mercado de Natal, na Alemanha, em dezembro do ano passado, enviou várias cartas às vítimas do incidente onde pede que os feridos o "perdoem”.
As cartas, escritas à mão, foram enviadas a pelo menos cinco pessoas, incluindo uma criança de seis anos, ao longo deste mês. A informação foi confirmada um porta-voz do Ministério Público do estado alemão Saxónia-Anhalt.
"Inicialmente, não conseguíamos acreditar”, disse um sobrevivente do ataque ao jornal alemão Magdeburger Volksstimme, citado pelo The Guardian.
À rádio local MDR uma outra vítima conta: "ficámos chocados quando regressamos das férias e encontrámos a carta no correio. Como é que é possível um assassino conseguir a morada das vítimas?”
Ao mesmo órgão, uma psicóloga das vítimas constatou que "nenhum dos afetados com quem estou em contato está interessado num pedido de desculpas”.
O conteúdo das cartas
Conta a imprensa local que o médico saudita de 50 anos, que se encontra em prisão preventiva a aguardar julgamento em Berlim, terá pedido o "perdão” das vítimas e desejou-lhes as melhoras. As cartas terão ainda "devaneios confusos” sobre outros requerentes de asilo da Arábia Saudita, num discurso aparentemente semelhante àquele que o médico publicava nas redes sociais.
Taleb A. pediu ainda às vítimas que o visitassem ou que, pelo menos, respondessem por carta, acrescentando que deviam também incluir em futuras correspondências com ele um envelope selado com o endereço do remetente - para que o médico pudesse responder mais facilmente.
As cartas são uma "violação"
A diretora da organização nacional de assistência às vítimas Bianca Biwer criticou duramente a conduta das autoridades, que permitiram o envio destas cartas.
Em entrevista ao jornal alemão Der Spiegel, Biwer considerou que isto demostra que "não há qualquer tipo de empatia para com as vítimas” e que o envio das cartas é uma violação dos lares dos feridos no ataque.
"Deixa as vítimas à mercê do agressor”, acrescentou, realçando que muitos arguidos tentam mostrar arrependimento pelos seus crimes numa tentativa de reduzir as suas sentenças.
O provedor de justiça do governo alemão para os direitos das vítimas criticou também o incidente, defendendo que a lei não deveria restringir a partilha de informação que permitisse contatar as vítimas. Em entrevista à agência de notícias DPA considerou ainda que a lei atual "não tem consideração pela proteção das vítimas”.
A forma como o alegado agressor conseguiu o nome e a morada das vítimas não é clara. Os meios de comunicação conseguem apenas especular que pode ter sido através dos autos do processo da investigação, que terão sido disponibilizados aos advogados de defesa, e daí partilhados com o suspeito.
A posição das autoridades
O mesmo jornal alemão contatou o Ministério Público alemão que disse estar a monitorizar o correio do suspeito, mas decidiu deixar os destinatários decidirem por si próprios se queriam ou não ler as cartas.
O documento estaria dentro de um envelope selado onde ia também um aviso sobre o conteúdo no interior.
No seguimento da resposta das vítimas, indignadas por terem recebido as cartas, o ministério disse ter mudado a sua política. A partir de agora se Taleb A. quiser enviar nova correspondência às vítimas, as autoridades vão "reter as cartas e informar as vítimas (por telemóvel) que ele lhes escreveu”.
O ataque ao mercado de Natal
A 20 de dezembro do ano passado Taleb A., terá conduzido um carro contra uma multidão que visitava um mercado de Natal. Seis pessoas morreram e mais de 300 ficaram feridas no incidente.
O condutor foi detido no local, quando tentava fazer marcha-atrás, e até hoje Taleb A. permanece o único suspeito do crime.
Durante a investigação, o governo alemão afirmou que o médico saudita apresenta sinais de perturbações psiquiátricas.
"O que chama a atenção são as milhares de declarações" feitas pelo alegado autor do ataque nas redes sociais "que indiciam uma psique patológica", declarou a ministra do Interior, Nancy Faeser, após uma audição na comissão de Assuntos Internos da Câmara Nacional dos Deputados.
Em causa estão milhares de publicações na rede social X, onde o homem expressava opiniões hostis contra o Islão. Recorde-se que Taleb A. era requerente de asilo por ter recebido ameaças após ter rompido com a sua religião (islâmica) e com o seu país de origem.
A 1 de dezembro de 2023 publicou um texto em que criticava a forma como os alemães tratavam os requerentes de asilo sauditas e ameaçava vingar-se.
Psiquiatra e opositor do Islão. O autor do ataque na Alemanha
Parece estar excluída uma motivação islamista e os meios de comunicação social alemães apontam para uma motivação islamofóbica.
Notícias ao Minuto com Lusa | 11:12 - 21/12/2024Leia Também: Alemanha aumenta orçamento da Defesa em 1/3 para 82.700 milhões de euros
