Durante o encontro, que ocorreu na Casa Branca, em Washington, Donald Trump elogiou o domínio e a pronúncia da língua por parte do Presidente da Libéria, Joseph Boakai, desconhecendo que o inglês é a língua oficial desta nação da África Ocidental desde o século XIX.
A Libéria está historicamente ligada aos Estados Unidos da América pois foi fundada com o objetivo de realojar pessoas que tinham sido libertadas da condição de escravatura da nação norte-americana e que regressavam ao continente dos seus ancestrais.
Donald Trump convidou cinco líderes da África Ocidental - Gabão, Guiné-Bissau, Libéria, Mauritânia e Senegal - para uma reunião na Casa Branca que se realizou quarta-feira.
O presidente do partido liberiano da oposição Congresso para a Mudança Democrática-Conselho dos Patriotas, Foday Massaquio, disse que, embora as observações fossem típicas de Trump com líderes estrangeiros, o tom condescendente foi amplificado pelo facto de os líderes serem africanos.
"Na verdade, isso também prova que o Ocidente não nos leva a sério como africanos", lamentou, acrescentando que Trump "foi muito desrespeitoso para com o líder africano".
A porta-voz do gabinete de Boakai, Kula Fofana, frisou à agência norte-americana The Associated Press que o mais importante é que os jornalistas se foquem "nas discussões substantivas da reunião".
No entanto, na Libéria, os comentários de Trump aumentaram o sentimento de descontentamento, sentido desde há alguns meses.
No início deste mês, as autoridades norte-americanas dissolveram a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e afirmaram que já não seguiam o que chamavam de "modelo de ajuda externa baseado na caridade".
Essa decisão causou um choque na Libéria, onde o apoio dos EUA representava quase 2,6% do rendimento nacional bruto, a percentagem mais alta do mundo, de acordo com o Centro para o Desenvolvimento Global.
Os liberianos pensavam que seriam poupados dos cortes de Trump devido à estreita relação entre os dois países, sendo que, na nação africana, até as placas de rua, os táxis e os autocarros escolares são semelhantes aos de Nova Iorque.
A Libéria foi um dos primeiros países a receber apoio da USAID, a partir de 1961.
Num outro prisma, houve também quem defendesse que, dado o estilo pessoal de Trump, "as observações de quarta-feira foram feitas como um elogio".
"Para alguns, o comentário pode ter um tom de condescendência, ecoando uma tendência ocidental de longa data de expressar surpresa quando os líderes africanos demonstram fluência intelectual", disse Abraham Julian Wennah, diretor de Investigação da Universidade Metodista Episcopal Africana.
Na sua opinião, "em contextos pós-coloniais, a linguagem tem sido usada como arma para questionar a legitimidade e a competência". No entanto, "se olharmos para o estilo retórico de Trump, estas declarações foram um reconhecimento da elegância, inteligência e prontidão de Boakai para o envolvimento global", concluiu.
Leia Também: Trump elogia inglês do presidente da Libéria... a língua oficial do país