O movimento islamista Hamas afirmou, este sábado, que não se desarmará enquanto não for estabelecido um Estado palestiniano, tendo como capital a cidade de Jerusalém. Acusou ainda o enviado especial norte-americano de "uma encenação premeditada" após a sua visita à Faixa de Gaza.
Estas declarações surgem "em resposta aos relatos da comunicação social de que Steve Witkoff - enviado especial dos Estados Unidos para o Médio Oriente - terá alegado que o Hamas mostrou vontade de se desarmar".
"Reafirmamos que a resistência e as armas são um direito nacional e legítimo enquanto a ocupação [por parte de Israel] continuar. Este direito é reconhecido pelas leis e normas internacionais e não pode ser abandonado, exceto através da restituição completa dos nossos direitos nacionais - em primeiro lugar, o estabelecimento de um Estado palestiniano independente e totalmente soberano, tendo Jerusalém como sua capital", salientou o movimento islamita, citado pela Sky News.
O Hamas referiu ainda que a visita de Steve Witkoff a um centro de distribuição de ajuda em Gaza, na sexta-feira, não foi "nada mais do que uma encenação premeditada" e que sua deslocação foi "projetada para enganar a opinião pública", "limpar a imagem da ocupação" e "fornecer-lhe cobertura mediática para gerir a fome e continuar o assassinato sistemático de crianças indefesas e civis indefesos na Faixa de Gaza".
Recorde-se que, na sexta-feira, o enviado de Donald Trump, juntamente com o embaixador dos Estados Unidos em Israel, Mike Huckabee, esteve em Gaza a visitar pontos de distribuição de alimentos.
"Hoje passámos mais de cinco horas em Gaza (...)", confirmou Steve Witkoff, numa mensagem na rede social X, acrescentando que "o objetivo da visita foi proporcionar ao presidente Donald Trump uma compreensão clara da situação humanitária e desenvolver um plano para entregar alimentos e ajuda médica aos residentes de Gaza".
At @POTUS’s direction, @USAmbIsrael and I met yesterday with Israeli officials to discuss the humanitarian situation in Gaza. Today, we spent over five hours inside Gaza — level setting the facts on the ground, assessing conditions, and meeting with @GHFUpdates and other… pic.twitter.com/aCtLuMuhq1
— Special Envoy Steve Witkoff (@SEPeaceMissions) August 1, 2025
De notar que, este sábado, as autoridades da Faixa de Gaza, controladas pelo grupo islamita do Hamas, elevaram para mais de 60.400 o número de mortos.
Jihad islâmica acusa: "Espetáculo encenado"
A Jihad Islâmica, em comunicado difundido pela agência palestiniana Sanad, afirmou que a visita de Steve Witkoff ocorre num momento de crescente indignação internacional pelos "massacres e pela guerra de fome em curso" na Faixa de Gaza.
Esta organização classificou a visita como "um espetáculo encenado no cenário de um crime, onde o culpado se disfarça de médico", e acusou Steve Witkoff de fazer parte de uma "campanha de desinformação mediática destinada a travar a crescente indignação internacional".
"Todos sabem que a administração norte-americana é o parceiro, de facto, e principal apoiante da máquina de matar da entidade criminosa, na sua campanha contínua de esmagamento de Gaza e dos seus habitantes", concluiu a organização.
Vários países mostram intenção de reconhecer Estado da Palestina
De recordar que, na última semana, vários países mostraram a intenção de reconhecer o Estado da Palestina. O primeiro a fazer o anúncio foi o presidente francês, Emmanuel Macron, através das redes sociais: "Fiel ao seu compromisso histórico com uma paz justa e duradoura no Médio Oriente, decidi que a França reconhecerá o Estado da Palestina. Farei o anúncio formal na Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro próximo".
Seguiu-se o Reino Unido, com uma declaração do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, onde admitiu o reconhecimento caso Israel não tome medidas para "acabar com a situação terrível em Gaza", "chegue a um cessar-fogo" e "deixe claro que não haverá anexação na Cisjordânia".
Também o Canadá se juntou à lista, com o primeiro-ministro, Mark Carney, a defender que é necessária uma mudança de política para preservar a esperança na solução dos dois Estados.
A esta lista juntaram-se ainda Malta e Portugal.
"O Governo decidiu promover a auscultação de sua Excelência o Senhor Presidente da República e dos Partidos Políticos com representação na Assembleia da República, com vista a considerar efetuar o reconhecimento do Estado palestiniano, num procedimento que possa ser concluído na semana de Alto Nível da 80.ª Assembleia Geral das Nações Unidas, a ter lugar em Nova Iorque no próximo mês de Setembro", anunciou o primeiro-ministro, em comunicado.
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