De acordo com o relatório daquela agência das Nações Unidas, entre 24 e 30 de julho, Chiúre sofreu um fluxo significativo de famílias deslocadas, "forçadas a abandonar as suas casas devido à crescente insegurança causada por Grupos Armados Não Estatais, afetando particularmente o posto administrativo de Chiúre Velho".
De acordo com a OIM, as novas incursões provocaram deslocações para pelo menos 11 bairros, incluindo Chiúre Velho Sede, Miconi e Magaia.
A província de Cabo Delgado, no norte do país, rica em gás, enfrenta desde 2017 uma rebelião armada, que provocou milhares de mortos e uma crise humanitária, com mais de um milhão de pessoas deslocadas.
"Até 30 de julho, os registos oficiais indicam que 11.597 agregados familiares (49.093 indivíduos) foram registados como recém-chegados a Chiúe Sede", refere, avançando que 57% dos refugiados são crianças.
Das famílias afetadas, 6.220 agregados (25.953 indivíduos) estão acolhidos no Centro de Trânsito de Miconi, 5.374 agregados (23.127 indivíduos) no Centro de Namissir e três agregados (13 indivíduos) no Bairro 30 Junho, refere.
"As avaliações realizadas pelo Serviço Distrital de Planeamento e Infraestruturas, em colaboração com a OIM (...) e a Matriz de Rastreio de Deslocações, identificaram necessidades humanitárias urgentes, incluindo assistência alimentar, artigos não alimentares, abastecimento de água, kits de dignidade e higiene e abrigo de emergência", avança.
No centro de Namissir, aquela agência da ONU alerta que um grande número de famílias está atualmente a dormir debaixo de árvores, aumentando "significativamente" os riscos de proteção: "Muitas famílias estão também a recorrer à pernoita em comunidades anfitriãs, sobrecarregando ainda mais os já limitados recursos locais".
Segundo a OIM, foram realizadas distribuições de 'kits' de produtos de higiene, dignidade e alimentos, tendo como alvo as famílias que chegaram a Chiúre, entre sexta-feira e domingo, nos dois centros de trânsito.
O governador de Cabo Delgado, Valige Tauabo, reconheceu na quinta-feira à Lusa um recrudescimento da atividade de grupos armados nos últimos três meses, mais acentuada desde final de junho, nomeadamente no sul da província, que só nos últimos dias provocou milhares de deslocados, em fuga para Chiúre e para a vizinha Nampula.
Elementos associados ao grupo extremista Estado Islâmico reivindicaram um ataque, no passado dia 24, à aldeia e ao posto policial de Chiúre Velho, igualmente no sul da província de Cabo Delgado, com armas automáticas, levando material do seu interior.
As autoridades moçambicanas reconheceram no mesmo dia que cerca de 12 mil pessoas estão deslocadas devidos aos ataques, com agências no terreno a contabilizarem pelo menos 34.000 novos deslocados só entre 20 e 25 de julho, devido a novos ataques insurgentes, nos distritos de Chiúre, Ancuabe e Muidumbe.
Pelo menos 349 pessoas morreram em ataques de grupos extremistas islâmicos no norte de Moçambique em 2024, um aumento de 36% face ao ano anterior, segundo um estudo divulgado em fevereiro pelo Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS).
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