ONU acusa Israel de só dar acesso a Gaza em troca de silêncio

O subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Tom Fletcher, acusou hoje Israel de condicionar a concessão de vistos para entrada em Gaza em troca por silêncio, denunciando ameaças constantes.

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Lusa
16/07/2025 21:32 ‧ há 6 horas por Lusa

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"Cada vez que reportamos o que vemos, enfrentamos ameaças de acesso ainda mais reduzido aos civis que estamos a tentar atender. Em nenhum outro lugar hoje a tensão entre o nosso mandato de advocacia e a entrega de ajuda é maior do que em Gaza. Os vistos não são renovados ou são reduzidos em duração por Israel, explicitamente em resposta ao nosso trabalho de proteção de civis", denunciou Fletcher.

 

Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU focada na situação humanitária em Gaza, Tom Fletcher não poupou nas críticas a Telavive, exigindo que Israel responda pelos mesmos princípios e leis que todos os outros Estados.

Segundo o representante das Nações Unidas, 56% das entradas negadas em Gaza em 2025 diziam respeito a equipas médicas de emergência, responsáveis por salvar vidas na linha da frente dos ataques israelitas.

"Não temos vocabulário suficiente para descrever as condições em Gaza. Mas deixe-me partilhar os factos convosco: a comida está a acabar e aqueles que a procuram correm o risco de serem baleados. As pessoas estão a morrer ao tentar alimentar as suas famílias", disse, insistindo que "os responsáveis" estão a tentar "silenciar" as equipas humanitárias.

Dirigindo-se diretamente aos 15 Estados que integram o Conselho de Segurança, o subsecretário-geral instou os diplomatas a avaliarem se Israel está efetivamente a cumprir as suas obrigações jurídicas internacionais em Gaza.

"[Israel] está a permitir e a facilitar a passagem rápida e desimpedida de ajuda humanitária imparcial, como exigem as regras da guerra? Ou é obstrução? Tirem as vossas próprias conclusões", apelou.

Fletcher frisou ainda que usar intencionalmente a fome como método de guerra é um crime de guerra, recordando declarações feitas por membros do Governo israelita, que "insinuaram que a fome pode ser 'justificada e moral' até que os reféns sejam libertados".

Na reunião de hoje esteve também presente a diretora executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Catherine Russell, que afirmou que a comunidade internacional "falhou para com as crianças" de Gaza.

Nos últimos 21 meses de guerra, mais de 17.000 crianças foram mortas e 33.000 feridas no enclave palestiniano. Uma média de 28 crianças mortas por dia. 

"É o equivalente a uma sala de aula inteira. Pensem nisso por um momento. Uma sala de aula inteira de crianças morta, todos os dias, durante quase dois anos", sublinhou Russell.

A diretora da UNICEF indicou que as crianças que sobreviverem à guerra em Gaza serão para sempre afetadas pela privação e exposição aos acontecimentos traumáticos que vivenciaram.

Mesmo antes do início da guerra, metade da população infantil de Gaza necessitava de cuidados de saúde mental e de apoio psicológico. Hoje, todas as crianças de Gaza necessitam destes serviços, declarou.

A reunião de hoje foi convocada pelo Reino Unido, Dinamarca, França, Grécia e Eslovénia, devido à "profunda preocupação com a abordagem desumana do Governo israelita à crise em Gaza". 

A embaixadora britânica junto à ONU, Barbara Woodward, considerou "imperativo" que Israel suspenda as suas restrições à entrada de ajuda em Gaza.

Com duras palavras dirigidas ao executivo israelita, a diplomata classificou como "abominável" que cerca de 800 pessoas tenham sido mortas pelas forças israelitas enquanto esperavam por comida.

Posição semelhante foi partilhada pela maioria dos Estados-membros do Conselho de Segurança, com a exceção dos Estados Unidos, que discordou de Tom Fletcher por "apontar o dedo da culpa apenas a Israel" e não ao grupo islamita palestiniano Hamas.

Centenas de palestinianos morreram nas últimas semanas nas filas organizadas pela Fundação Humanitária de Gaza, uma organização criada pelos Estados Unidos e autorizada por Israel para a distribuição de ajuda alimentar no enclave, que funciona à margem da ONU.

Essas distribuições de alimentos têm sido marcadas por vários episódios de caos, morte e violência, com a intervenção do exército israelita, que em diversas ocasiões disparou contra palestinianos que procuravam comida.

A diplomata norte-americana junto à ONU, Dorothy Shea, saiu em defesa da Fundação, alegando ter "razões credíveis para acreditar que elementos da multidão, armados e afiliados ao Hamas, fomentaram deliberadamente a agitação".

"Já passou da hora de os membros deste conselho e do sistema da ONU colocarem pressão sobre onde ela deve estar: no Hamas, que continua a prolongar esta guerra", defendeu Shea.

Leia Também: EUA anunciam acordo para parar ataques israelitas contra a Síria

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