Protestos contra custo de vida lançam caos em Luanda. Bastou uma greve

Os distúrbios coincidiram com o primeiro dia de greve dos taxistas em Luanda, que reclamam a subida dos combustíveis, e com as manifestações contra o aumento do custo de vida em Angola. O presidente tinha também acabado de regressar ao país.

LuandaVídeo

© AFP via Getty Images

Notícias ao Minuto com Lusa
29/07/2025 08:35 ‧ ontem por Notícias ao Minuto com Lusa

Mundo

Luanda

A capital angolana foi abalada por uma onda de protestos violentos, marcada por episódios de vandalismo e pilhagens, que já causaram vítimas mortais - apesar de ainda não haver dados oficiais.

 

Os distúrbios coincidiram com o primeiro dia de greve dos taxistas em Luanda, que reclamam a subida dos combustíveis, e com as manifestações (programadas também para terça e quarta-feira) contra o aumento do custo de vida em Angola.

Os ânimos inflamaram e grupos de jovens revoltados com as condições no país invadiram diversas zonas da cidade e das periferias, causando o caos. Estradas bloqueadas com barricadas e pneus incendiados, estabelecimentos comerciais e viaturas vandalizadas, incluindo autocarros e carros da polícia.

Em vídeos divulgados nas redes sociais, milhares de pessoas são vistas pelas ruas, carregadas com produtos pilhados de lojas ou a perseguir transportes que circulavam nas ruas. Alguns queimaram cartazes com a imagem do presidente angolano João Lourenço, que regressou ao país no dia dos tumultos, depois de uma visita de três dias a Portugal.

Nas ruas, as autoridades disparavam para o ar para tentar dispersar as multidões e repor a ordem na capital, e foram obrigados a interditar as vias barricadas e com pneus incendiados para controlar os distúrbios.

Estabelecimentos encerraram mais cedo em Luanda 

A Associação das Empresas do Comércio e da Distribuição Moderna de Angola (Ecodima) anunciou que todos os estabelecimentos comerciais iam fechar mais cedo temporariamente para assegurar a "salvaguarda de pessoas e bens". Pelo menos nos próximos dias, o horário de encerramento passa a ser às 17h.

Ao longo do dia, outros estabelecimentos foram anunciando o encerramento dos balcões, pelo menos, até quarta-feira. Lojas, supermercados, e até algumas escolas, fecharam as portas por precaução, enquanto a capital angolana não regressa à normalidade.

E esta terça-feira a situação não foi diferente. 

A equipa da Lusa no terreno diz que o silêncio domina as principais avenidas, onde normalmente circulam milhares de veículos e mototáxis, os meios de transporte mais usados pela população, mas a visibilidade da polícia, relatos de tiroteios e pilhagens, bloqueios de estradas revelam que a tensão permanece.

Estabelecimentos comerciais, bancos e diversas instituições mantiveram as portas fechadas e muitas empresas optaram por colocar os funcionários em regime de teletrabalho, temendo pela segurança, após os episódios de pilhagem, barricadas e vandalismo ocorridos no dia anterior.

Estado angolano diz que desacatos são um "ataque ao estado democrático"

O estado angolano não demorou a reagir aos desacatos em Luanda. Num comunicado lido em televisão nacional, o governo disse que as "ações criminosas que atentam contra a estabilidade pública representam um ataque ao Estado democrático e de direito e ao bem-estar dos cidadãos".

Segundo o Ministério do Interior, "são atos premeditados de sabotagem e intimidação que não serão, em hipótese alguma, tolerados, pelo que as autoridades estão a tomar todas as medidas necessárias para a manutenção da ordem e tranquilidade públicas, bem como para identificar, responsabilizar e levar à justiça os mandantes e executores desses atos deploráveis".

Autoridades dizem que foram detidas mais de 100 pessoas

Em conferência de imprensa, o porta-voz da Polícia Nacional, o subcomissário Mateus Rodrigues garante que a situação já está sob controlo, e que cerca de 100 pessoas foram detidas por perturbação da ordem pública. E frisa que mais pessoas vão ser detidas e levadas à justiça pelos desacatos em Luanda.

"Temos dados, temos imagens, nós continuamos com a investigação e todos aqueles que praticaram os atos de pilhagem serão detidos, para além destes 100, haverá outras detenções e todos eles serão levados aos órgãos de justiça", afirmou o subcomissário.

Neste último balanço (até ao momento) as autoridades deram conta de pelo menos 20 autocarros destruídos, sendo que os que foram danificados ainda estão por contabilizar.

Quanto a vítimas, a polícia não forneceu qualquer tipo de informação, nem sobre feridos durante os tumultos. Na primeira intervenção, tinham mencionado uma pessoa ferida, que terá sido, entretanto, socorrida.

No entanto, os enviados da agência Lusa em Luanda dizem ter visto, pelo menos, um corpo na via pública, numa altura em que eles próprios eram ameaçados com apedrejamento pelos populares exaltados nas ruas. 

Outras testemunhas garantem que há mais mortos, apesar de a polícia não adiantar estas informações.

O porta-voz da Polícia Nacional fez, no entanto, questão de realçar que os dados apresentados ainda são preliminares e que a polícia continua a receber informações de vários pontos da cidade onde os tumultos ocorreram.

Consulado português em Luanda desaconselha deslocações

O consulado apela que os portugueses mantenham a "prudência e vigilância" e que evitem deslocações desnecessárias para a capital angolana. 

Em comunicado, publicado na página oficial do consultado, dizem que "a atual situação de segurança em Luanda é objeto de monitorização e acompanhamento próximo por parte da representação diplomática de Portugal em Angola". 

E sugerem que os cidadãos portugueses em Luanda adiram ao canal de WhatsApp do Consulado-Geral de Portugal em Luanda, disponível através da ligação: https://whatsapp.com/channel/0029Vb60CvfEquiG2BpxWf2g.

Apesar da garantia das autoridades angolanas de que a situação está sob controlo, quem está no terreno conta que o ambiente continuou agreste durante a noite, sobretudo em bairros periféricos onde foram reportados disparos e ataques a viaturas por grupos de jovens em fúria.

Esta terça-feira, o reforço policial nas ruas continua, com a presença de viaturas militares em pontos estratégicos.

Leia Também: Taxistas angolanos demarcam-se de atos de vandalismo e cancelam greve

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas