O atirador que matou quatro outras pessoas, incluindo um polícia, num arranha-céus no centro de Nova Iorque, na segunda-feira, terá redigido uma nota na qual detalhava ter encefalopatia traumática crónica (ETC), apelando a que o seu cérebro fosse estudado.
Shane Devon Tamura, de 27 anos, tinha um bilhete de suicídio no bolso de trás das calças, alegando sofrer de ETC, uma doença cerebral ligada a traumatismos cranianos e frequentemente associada a jogadores de futebol americano, devido aos golpes repetidos na cabeça, noticiou a CNN.
“O futebol de Terry Long deu-me ETC e fez-me beber um galão de anticongelante. […] Não se pode ir contra a Liga Profissional de Futebol Americano (NFL), eles esmagam-nos”, lia-se na nota de três páginas, que foi encontrada após o tiroteio, segundo disseram fontes ligadas à investigação àquele meio norte-americano.
O jovem, que tinha um histórico de problemas psiquiátricos, foi jogador de futebol americano quando era mais novo. No bilhete, Tamura referia-se ao caso do atleta Terry Long, antigo jogador dos Pittsburgh Steelers diagnosticado com ETC, que colocou termo à vida depois de beber anticongelante, em 2005.
“Estudem o meu cérebro, por favor. Lamento. Digam ao Rick que lamento tudo”, apelou ainda.
Entretanto, o Departamento de Polícia de Los Angeles está a averiguar se o jovem tinha alguma ligação àquela força de segurança, na sequência de rumores que circularam nas redes sociais.
“Levamos estes assuntos a sério e estamos a investigar ativamente a informação. Neste momento, estamos a trabalhar para confirmar os detalhes e reunir os factos”, disse um porta-voz das autoridades, citado pela NBC News.
Além dos quatro mortos, um dos trabalhadores da NFL ficou gravemente ferido no ataque, encontrando-se hospitalizado, mas estável.
Saliente-se que os serviços de emergência foram chamados por volta das 18h00 (22h00 de segunda-feira em Lisboa) para uma ocorrência no bairro nova-iorquino Midtown Manhattan.
As câmaras de vigilância filmaram um homem a sair de um carro preto, armado com uma espingarda de assalto M-4. O suspeito entrou no edifício e começou a disparar contra o agente da polícia, antes de "alvejar quem estava no átrio", relatou a chefe da polícia de Nova Iorque, Jessica Tisch.
De acordo com a responsável, o agressor tinha visivelmente decidido atacar o 345 Park Avenue, um grande edifício de escritórios que abriga as instalações da NFL, da gigante financeira Blackstone e da empresa de consultoria e auditoria KPMG.
Tisch disse acreditar que o suspeito, natural de Las Vegas, agiu sozinho.
Vários meios de comunicação, incluindo a CNN e o New York Post, publicaram uma fotografia de um homem de bigode a caminhar sozinho na rua com uma espingarda na mão direita, com óculos escuros e um casaco escuro.
Muito rapidamente, após o ataque, centenas de polícias, alguns com coletes à prova de bala, e várias ambulâncias chegaram ao local, observou um jornalista da agência France-Presse.
Com mais armas de fogo em circulação do que habitantes, os Estados Unidos apresentam a taxa de mortalidade por arma de fogo mais elevada de todos os países desenvolvidos.
Os ataques a tiro são um flagelo recorrente, que sucessivos governos federais e estaduais não conseguiram até agora conter, com o direito privado ao uso e porte de arma jogado como trunfo político recorrentemente.
Em 2024, mais de 16.000 pessoas, sem contar os suicídios, foram mortas por armas de fogo, de acordo com a ONG Gun Violence Archive.
Em dezembro, Brian Thompson, o chefe da maior seguradora de saúde do país, a UnitedHealthcare, foi assassinado na rua no mesmo bairro em que ocorreu o incidente de hoje.
Luigi Mangione, um jovem engenheiro informático, foi detido e acusado no âmbito desse caso. Em abril, Mangione declarou-se inocente de homicídio perante um tribunal federal de Manhattan.
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Se estiver a sofrer com alguma doença mental, tiver pensamentos auto-destrutivos ou simplesmente necessitar de falar com alguém, deverá consultar um psiquiatra, psicólogo ou clínico geral. Poderá ainda contactar uma destas entidades:
- SOS Voz Amiga (entre as 16h e as 24h) - 213 544 545 (Número gratuito) - 912 802 669 - 963 524 660
- Conversa Amiga (entre as 15h e as 22h) - 808 237 327 (Número gratuito) e 210 027 159
- SOS Estudante (entre as 20h e a 1h) - 239 484 020 - 915246060 - 969554545
- Telefone da Esperança (entre as 20h e as 23h) - 222 080 707
- Telefone da Amizade (entre as 16h e as 23h) – 228 323 535
Todos estes contactos garantem anonimato tanto a quem liga como a quem atende. No SNS24 (808 24 24 24 - depois deve selecionar a opção 4), o contacto é assumido por profissionais de saúde. A linha do SNS24 funciona 24 horas por dia.
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