"O projeto que hoje lançamos não começou agora, é uma linha contínua que remonta ao final do século passado, quando os arquitetos Vittorio Gregotti e Manuel Salgado o imaginaram", disse Nuno Vassallo e Silva, presidente do conselho de administração da Fundação Centro Cultural de Belém (CCB), durante a cerimónia de assinatura do contrato.
O contrato de subcessão do direito de superfície para edificação e exploração de hotel e área de comércio, por um período de 65 anos, hoje assinado, resultou de um procedimento internacional para a construção dos módulos 4 e 5 do CCB, do qual saiu vencedor o grupo Alves Ribeiro.
O projeto foi lançado em outubro de 2023 e envolve um investimento de cerca de 80 milhões de euros.
A construção destes novos módulos constava já do projeto de arquitetura originalmente traçado na década de 1990 pela dupla de arquitetos Vittorio Gregotti (italiano) e Manuel Salgado/ Atelier Risco, a par dos módulos 1, 2 e 3, onde estão o Centro de Congressos e Reuniões, o Centro de Espetáculos e o Centro de Exposições, agora Museu MAC/CCB.
Para Vassalo e Silva, esta é também uma "homenagem" aos arquitetos e aos seus antecessores à frente do CCB, que "sonharam e persistiram na defesa de um espaço que hoje é uma identidade de Lisboa e que se projeta para o futuro".
"De facto, foi um combate de décadas para a conclusão de um projeto que nunca se realizou plenamente e, sobretudo, reforçando esta ideia deste longo caminho que veio desde o projeto inicial do Gregotti e do Salgado de criar este caminho pedonal que liga a Praça do Império até à Torre de Belém", disse o responsável aos jornalistas.
Nuno Vassallo e Silva acredita que o projeto vai tornar aquela zona "mais atrativa" e destacou que as novas valências serão fontes de receita, vão dinamizar o setor cultural e artístico e vão tornar o CCB cada vez mais sustentável.
"O terreno vai ser entregue muito em breve e vão começar já este ano os trabalhos e algumas escavações", estando a abertura prevista para 16 de julho de 2029.
De acordo com o calendário das principais fases do projeto, entre 21 de julho e 30 de setembro deste ano, decorrem as sondagens e os estudos geotécnicos, seguindo-se as obras de demolição, escavações e contenções, de 02 julho de 2026 a 12 de janeiro de 2027.
A obra de arquitetura e especialidades terão lugar entre 25 de junho de 2027 e 30 de maio de 2029.
A obra contemplará uma unidade hoteleira com 161 quartos duplos e um aparthotel com 126 unidades, além de um centro de comércio e novos serviços, numa área de construção de cerca de 32.500 metros quadrados.
A sustentabilidade financeira do CCB é um aspeto "fundamental", pois esta nova fonte de receita permitirá aumentar as receitas próprias, disse Vassallo e Silva.
"E isso começa a partir de hoje. Há uma renda anual que vai escalonada de 350 mil euros, agora, até, daqui a 40 anos, 01 milhão e 250 mil euros", afirmou.
De acordo com o plano faseado, o valor das rendas será de 350 mil euros, nos primeiros quatro anos, 650 mil euros, do 5.º ao 10.º ano, 1.000.000 de euros, do 11.º ao 40.º ano, e 1.250.000 euros, daí em diante, até ao 65.º ano.
"É um valor muito significativo", afirmou o presidente do CCB, sublinhando que o encargo de toda a responsabilidade da construção, do ponto de vista financeiro, cabe a Alves Ribeiro.
Vassallo e Silva adiantou ainda que está para breve o anúncio da criação de um bilhete único, ligando várias instituições, que começará com o CCB, o MAAT -- Museu de Arte Arquitetura e Tecnologia e o Pavilhão Julião Sarmento.
Esses vão ser os primeiros e é um bilhete único, com a validade de um mês, que tem um desconto de 20% relativamente ao PVP das instituições e que vai arrancar em breve, previsivelmente, ainda durante o ano.
"A nossa perspetiva e a intenção do CCB, enquanto polo dinamizador deste projeto de conciliação entre os vários equipamentos de arte contemporânea, é estender aos outros equipamentos aqui do distrito de Belém, e já estamos em conversações com o MACAM [Museu de Arte Contemporânea Armando Martins], afirmou.
Uma das propostas em estudo para o CCB, entregue ao 'designer' Nuno Gusmão, é a criação de um "quarteirão das artes", inspirado nas sete artes clássicas.
O projeto prevê espaços interiores e exteriores com obras de arte, incluindo calçada portuguesa com desenhos reinterpretados, poesia gravada, esculturas, projeções e pinturas de jovens artistas portugueses, explicou hoje o autor do projeto.
Os espaços comerciais serão abertos a artistas e artesãos, funcionando como 'ateliers', lojas e locais de restauração em formato de "porta aberta", explicou o artista.
Está ainda prevista uma sala de cinema para 55 pessoas, que será multifuncional, e quartos de hotel de estilo minimalista com aposta em peças de 'design' português, tal como o restaurante "de luxo", com vista para o rio, acrescentou Nuno Gusmão.
Apesar da apresentação deste projeto, com todas as suas especificidades, Vassallo e Silva ressalvou que o quarteirão das artes ainda "não é um conceito fechado" e que, para já, não será anunciado nada.
O trabalho que está a ser desenvolvido é no sentido de "reforçar a zona de Belém", e o quarteirão das artes "é uma ideia", um caminho que está a ser feito.
Segundo Vassallo e Silva, "o CCB não está terminado e talvez nunca venha a estar. Está sempre em movimento e em processo".
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