"O Canadá pretende reconhecer o Estado da Palestina na 80ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro de 2025", disse Carney numa conferência de imprensa.
A França anunciou intenção semelhante na semana passada, tornando-se o primeiro país do G7 a fazê-lo, e o Reino Unido também admitiu na terça-feira o reconhecimento do Estado da Palestina, caso Israel não acabe com a "situação catastrófica em Gaza", decrete um cessar-fogo no enclave palestiniano e garanta que não vai anexar a Cisjordânia.
Carney enquadrou a decisão como uma resposta ao "sofrimento insuportável" causado pelas ações de Israel para impedir a distribuição de ajuda humanitária em Gaza, à violência dos colonos israelitas na Cisjordânia e aos planos de anexação do território palestiniano.
"O Canadá está há muito empenhado numa solução de dois Estados: um Estado palestiniano independente, viável e soberano, ao lado de um Estado de Israel em paz e segurança. Durante décadas, esperou-se que este resultado fosse alcançado como parte de um processo de paz", explicou Carney.
"Infelizmente, esta abordagem já não é alcançável", acrescentou numa conferência de imprensa em Otava.
Embora Carney tenha abordado a rejeição do Hamas da solução de dois Estados e o ataque de 07 de Outubro de 2023 por este movimento palestiniano, atribuiu a culpa da crise humanitária ao governo israelita.
"O nível de sofrimento humano em Gaza é intolerável. E está a agravar-se rapidamente. O Governo israelita permitiu que a situação se deteriorasse", continuou.
O líder canadiano observou que manteve conversações com o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, a quem comunicou que a decisão do Canadá "baseia-se" no seu "desejo" de implementar "grandes reformas", como a realização de eleições gerais em 2026 e não a militarização do território palestiniano.
Carney insistiu ainda que o Hamas não pode participar nas eleições de 2026 nem ter qualquer papel na futura governação da Palestina, deve desarmar-se e libertar imediatamente todos os reféns que tem mantido desde o ataque de 07 de outubro de 2023.
O primeiro-ministro canadiano afirmou que está a cooperar diretamente com outros países, como a Jordânia, para prestar apoio à população palestiniana nos próximos dias e que "intensificará" os seus esforços com outros parceiros internacionais "para desenvolver um plano de paz fiável", que "estabelecerá mecanismos de governação e segurança para a Palestina e garantirá que a ajuda humanitária necessária chega a Gaza".
Até ao momento, pelo menos 142 dos 193 países-membros da ONU reconhecem o Estado palestiniano, segundo dados da agência noticiosa France-Presse.
Entre os 27 da União Europeia, cinco países reconhecem o Estado palestiniano: Espanha, Irlanda, Noruega, Eslovénia e Suécia.
A Conferência Internacional para a Solução de Dois Estados no Médio Oriente terminou terça-feira com uma declaração que apoia "inabalavelmente" uma solução de dois Estados para o conflito israelo-palestiniano e a guerra em curso em Gaza.
A "Declaração de Nova Iorque" estabelece um plano por fases para pôr fim ao conflito de quase oito décadas e a guerra em Gaza, culminando com uma Palestina independente e desmilitarizada, ao lado de Israel, e a eventual integração deste país na região do Médio Oriente.
Numa declaração conjunta assinada no final da conferência sobre a solução dos dois Estados, nas Nações Unidas, Portugal admite reconhecer o Estado da Palestina e declara-se empenhado em trabalhar no "dia seguinte" em Gaza.
"Antes da reunião dos chefes de Estado e de Governo que terá lugar durante a semana de alto nível da 80.ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU 80) em setembro de 2025, (...) [os chefes da diplomacia de 12 países europeus, Canadá, Austrália e Nova Zelândia] já reconhecemos, expressámos ou expressamos a vontade ou a consideração positiva dos nossos países em reconhecer o Estado da Palestina, como um passo essencial para a solução de dois Estados", lê-se na declaração conjunta, subscrita pelo ministro dos Negócios Estrangeiros português, no final da conferência, que terminou na terça-feira, em Nova Iorque.
Pela Europa, assinam a declaração Andorra, Finlândia, França, Islândia, Irlanda, Luxemburgo, Malta, Noruega, Portugal, San Marino, Eslovénia e Espanha.
[Notícia atualizada às 23h41]
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