"O fogo veio lá de cima de Arouca para baixo e às 08h00 já estava em cima do lugar. Os bombeiros não vieram aqui. Nós é que andámos a cercar isto aqui senão queimava-se tudo", disse à Lusa Serafim Rocha, de 70 anos.
Um dia depois de ter estado isolado pelas chamas, o lugar do Seixo, na freguesia de Real, com cerca de duas dezenas de habitantes, vive uma tranquilidade inusitada, tendo em conta o cenário dantesco que encontramos até chegar à povoação.
Serafim Rocha, a única pessoa que encontramos na rua, disse à Lusa que o fogo "atacou de tudo quanto foi lado" e foi necessário os moradores usarem os seus próprios meios para combater as chamas.
"Foi como a gente pôde, todos juntos, com mangueiras e bombas de puxar água, para livrar as casas, porque o monte ardeu todo", disse, adiantando que os únicos danos materiais foram numa sucata que foi consumida pelas chamas no fim da povoação.
Apesar dos momentos difíceis que se viveram, Serafim diz que não chegou a sentir aflição e que até já está acostumado a estas situações.
"Temos que manter a calma e fazer o máximo que puder, mais nada, não tem outro jeito. Não vale a pena ficar a apavorar muito. É fazer o máximo que pudermos e proteger as casas, e o resto deixar queimar", contou.
A conversa é interrompida pela chegada do padeiro José Teixeira, que anda numa carrinha a fazer a distribuição do pão.
"Aqui só vimos à terça e à quinta, mas o lugar estava isolado e não dava para passar. Hoje, já está mais ou menos controlado e já dá para passar, mas está tudo queimado. Eu andei hoje por outras zonas, desde Arouca para cá, e não há verde em lado nenhum", descreveu.
Andamos algumas dezenas de metros e encontramos Joaquim Moreira, de 52 anos, a preparar o almoço para ele e para a mãe, de 81 anos, que na terça-feira se refugiou dentro de casa, enquanto o filho andava com os vizinhos a apagar o fogo.
"Foi horrível. O fogo vinha lá de cima e depois de repente já ardia por todo o lado, por um lado e por outro. E acendeu-se tudo por aí fora. Nós é que andámos a ajudar a apagar o fogo. Uns apagavam de um lado, outros do outro", contou.
Joaquim Moreira disse que sentiu medo e chegou a pensar que ia arder tudo. "Ainda ardeu aqui a sucata em cima e arderam ali umas ovelhas de uns vizinhos", referiu.
O incêndio de Castelo de Paiva teve origem no fogo de Arouca que alastrou também ao vizinho concelho de Cinfães, no distrito de Viseu, e destruiu parte dos Passadiços do Paiva, uma das principais fontes de receita para a economia local.
Pelas 19h00, o incêndio de Arouca estava a ser combatido por 702 operacionais, 248 viaturas e quatro meios aéreos, segundo a página na Internet da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil.
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