Um dia depois de Bryan Kohberger ter sido sentenciado a quatro penas perpétuas pelos homicídios de quatro estudantes da Universidade de Idaho, nos Estados Unidos, foram conhecidas mais de 300 páginas com informações acerca do crime, que aconteceu em 2022.
Note-se que Kohberger, de 30 anos, considerou-se culpado pelas mortes destes estudantes, entre os quais estará uma lusodescendente (Kaylee Gonçalves), por forma a cumprir um acordo: Kohberger considerava-se culpado em troca de evitar a pena de morte.
O conjunto de novas informações foi revelado pouco depois da sentença ser conhecida, tendo a NBC News divulgado, esta quinta-feira, alguns dos detalhes que foram conhecidos.
As vítimas mortais são, para além de Kaylee Goncalves (21), Madison Mogen (21), Xana Kernodle (20) e Ethan Chapin (20). O crime ocorreu numa casa arrendada pelas vítimas, onde estariam ainda outros dois outros jovens, mas que foram poupados.
Kohberger foi detido cerca de sete semanas depois de o crime ter acontecido. As motivações do estudante de pós-graduação em criminologia são desconhecidas.
"Luta intensa", sangue e dezenas de facadas
O cenário descrito nas centenas de páginas agora consultadas dão conta de que o cenário com que as autoridades se depararam era sanguinário, dado que segundo o que é explicado, quando a polícia entrou no quarto de uma das vítimas, Xana, se percebeu que "era óbvio que tinha havido uma luta intensa."
"Havia sangue espalhado em vários objetos no quarto e por todo o chão", lê-se no documento, que detalha que "havia sangue espalhado pelas paredes em vários sítios, incluindo por cima do corpo de Xana."
O corpo desta jovem foi encontrado virado para baixo, com marcas de facadas nas mãos, o que indica que a jovem se tentou defender. A autópsia dá conta de que a jovem tinha pelo menos 50 facadas.
As outras três vítimas também foram encontradas ensanguentada, tendo Madison Mogen "um corte por baixo do olho direito que parecia ir do canto do olho até ao nariz."
Já Kaylee Gonçalves estava "irreconhecível, já que a sua estrutura facial estrava extremamente danificada."
A chamada para as autoridades
Bethany Funke, uma das sobreviventes desta situação, contou que acordou com a presença de alguém, e com 'luz' atrás da porta do quarto onde estava, que estava trancado. Após ter acordado, fez uma chamada com o outro sobrevivente, Dylan Mortensen, lhe terá dito para ir para os eu quarto. A jovem foi e tentaram ligar aos quatro colegas, que não atenderam - mas que também não era motivo de 'preocupação' na altura, dado que era tarde e acharam que os colegas estariam a dormir.
Funke explicou depois às autoridades que, apesar de terem visto alguém suspeito, não chamaram as autoridades porque pensaram que podia não ser nada, já que tinha bebido e ainda estavam a sentir os efeitos do álcool. Para além disso, a jovem disse ainda que poderia ser uma partida de um dos colegas de Chapin, uma das vítimas mortais.
Quando acordaram e perceberam que mais ninguém estava acordado, Funke e Mortensen chamaram dois amigos, dizendo-lhes que estavam com medo. um dos amigos que chegou e foi até ao andar de cima disse-lhes para sair de casa e chamaram ajuda, tendo sido aí que o 911 (número de socorro) foi chamado.
Kaylee Gonçalves achava que estava a ser seguida
Nas semanas antes, Gonçalves contou uma série de acontecimentos inquietantes aos dois colegas que sobreviveram, de acordo com os relatórios. Segundo o que indicam os relatórios, três semanas antes Gonçalves disse que achava que estava a ser seguida, nomeadamente, depois de ter visto uma sombra enquanto passava o cão.
Por volta da mesma altura, Gonçalves terá visto ainda um "homem desconhecido" perto da casa, fora do 'campus' universitário, a olhar para ela. Os documentos não relacionam Kohberger a estas situações.
O Tinder e as marcas (anteriores ao crime)
Segundo um colega de curso de Kohberger contou às autoridades, o jovem tinha marcas que pareciam "de unhas na cara": não só em novembro, quando aconteceram os homicídios, mas também em outubro.
Em duas ocasiões distintas, este colega disse que também viu feridas nos nós dos dedos de Kohberger, em duas ocasiões distintas, e perguntou-lhe sobre o que eram. "Respondeu que tinha sido num acidente de carro", recorda.
Já em 2024, uma mulher com quem Kohberger fez 'match' no Tinder no outono de 2022, uma aplicação de encontros, decidiu falar com as autoridades. Segundo o que esta mulher, não identificada, contou, nas primeiras conversas via 'app' começaram a falar de filmes de terror e Kohberger perguntou-lhe qual é que ela achava que era a pior maneira de morrer.
Ela respondeu que achava que era por esfaqueamento, e o homem perguntou-lhe: "Como com uma Ka Bar [faca usada na II Guerra Mundial]?"
A mulher deixou de lhe responder. Kohberger comprou uma faca Ka Bar na Amazon semanas antes dos homicídios. O estojo da arma foi encontrado no local do crime, mas a faca não.
Entre outras situações, fica por responder ainda qual foi a motivação que levou ao crime, ou mesmo a relação que o suspeito tinha com as vítimas. Também as roupas que Kohberger usou nunca foram encontradas.
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