Émile Soleil desapareceu há dois anos, a 8 de julho de 2023, em Haut-Vernet, em França. Os pais do menino que, na altura, tinha dois anos e meio, quebraram o silêncio esta terça-feira, tendo considerado que nada lhes “foi poupado”. Confessaram, ainda assim, que “saber a verdade” sobre o que aconteceu ao filho os ajudará a “reconstruir” as suas vidas, que foram “amputadas para sempre”.
“Hoje faz dois anos. Passaram dois anos desde que o desaparecimento de Émile destruiu as nossas vidas, desde que o chão nos caiu aos pés e nos afogámos na angústia. Imediatamente, naquela noite terrível de 8 de julho, tivemos de sobreviver. Esta angústia não nos matou de imediato; para nossa grande surpresa, deixou-nos vivos, mas como é que podíamos viver com ela? [...] E tivemos de aprender a sobreviver sem ele, a voltar a ver luz e alegria neste mundo que este vazio infinito tinha deixado baço, negro e turvo”, lê-se, num comunicado divulgado pela RTL.
Marie e Colomban Soleil salientaram ainda que “foram também dois anos impiedosos”, uma vez que, enquanto lutavam “para não perder o pé”, tampouco para não serem “sugados para o buraco negro da angústia”, se viram forçados a “suportar a injunção permanente de a exibir em plena luz do dia”.
“Nada nos foi poupado, é um grande paradoxo: a nossa posição de vítimas e a nossa grande fragilidade, em vez de despertar respeito e proteção, parecem ter dado todos os direitos sobre nós próprios. Vimos os nossos rostos, o nosso passado, os nossos percursos profissionais, as nossas opiniões políticas reais ou fantasiadas, a nossa fé católica, os nossos hábitos, as nossas qualidades, os nossos defeitos, os dos nossos queridos familiares e amigos, serem postos a nu e decifrados. Vimos as pessoas que amamos serem arrastadas pela lama, caluniadas vezes sem conta. Em todo o lado: nos meios de comunicação social, nas redes. Fomos espiados, fotografados sem o nosso conhecimento, cercados nas nossas casas por câmaras”, lamentaram.
O casal justificou, por isso, ter permanecido em silêncio por nada ter a dizer, ao mesmo tempo que considerou que “saber a verdade” os ajudará a seguir em frente.
“Porque é que nos pedem para justificar o que nos está a acontecer? Seremos assim tão maus para que nos possa acontecer uma coisa tão terrível? Quem é que realmente merece tal sofrimento? Acreditamos sinceramente que ninguém merece sofrer assim, e não o desejamos a ninguém. O mal existe e pode acontecer a qualquer um de nós. Nós próprios temos dificuldade em encarar o mal que foi feito à nossa criança maravilhosa e, acima de tudo, inocente”, frisou.
A dupla complementou: “Somos pais e, mesmo sabendo que o nosso menino está eternamente feliz no Céu, continuaremos com todas as nossas forças a defender a sua memória e a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que lhe seja feita justiça, graças aos juízes e aos investigadores, a quem agradecemos mais uma vez o seu empenhamento e a sua humanidade. Isto é o mais importante.”
Marie e Colomban Soleil assumiram que têm de “reconstruir” as suas vidas, que foram “amputadas para sempre”, com a ajuda de quem lhes demonstrou “bondade e amor gratuito, em atos, palavras e orações”. “Só eles tornaram estes dois anos suportáveis para nós, e por isso estamos infinitamente gratos. Graças a eles, continuaremos a sobreviver”, disseram.
E garantiram: “Continuaremos a pensar no Émile, a falar dele, a dá-lo a conhecer aos seus irmãos e irmãs e àqueles que não o conheceram, a olhar para cada fotografia que já sabemos de cor, a tentar recordar os seus traços, a sua voz que ouvimos pela última vez há dois anos, os seus beijos e a sua ternura de menino. Continuaremos a falar com ele, a visitar a sua campa e a amá-lo. Até o voltarmos a encontrar.”
Recorde-se que a criança desapareceu na tarde do dia 8 de julho de 2023, enquanto brincava no jardim de casa dos avós maternos, onde a família passava férias. Em março de 2024, os seus restos mortais foram encontrados, mas as circunstâncias da morte permanecem um mistério.
As cerimónias fúnebres do menino ocorreram a 8 de fevereiro deste ano e, um mês depois, os avós e dois tios de Émile foram detidos por suspeitas de homicídio voluntário e de ocultação de cadáver, na sequência de escutas telefónicas que revelaram conflitos familiares. No entanto, foram libertados sem qualquer acusação, ainda que o seu envolvimento no caso não tenha sido descartado.
Também este ano, e após o funeral de Émile, o padre que o batizou colocou termo à própria vida. Claude Gilliot costumava ser próximo da família, relação que se desfez depois de o pároco ter divulgado uma fotografia da criança e dos pais à imprensa.
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