Todos os anos, a "marcha pela paz" percorre os 100 quilómetros entre Srebrenica, cidade onde as forças sérvias da Bósnia massacraram cerca de 8.000 homens e rapazes muçulmanos em julho de 1995, até à aldeia de Nezuk, para onde fugiram muitos dos sobreviventes da chacina.
Após a captura de Srebrenica em 11 de julho de 1995 - cidade declarada "área segura da ONU" e lar de mais de 40.000 pessoas, muitas destas deslocadas pela guerra - as forças lideradas pelo general sérvio bósnio Ratko Mladic realizaram execuções em massa.
O massacre de Srebrenica é o único crime da guerra da Bósnia (1992-1995), na qual morreram 100.000 pessoas. O massacre foi classificado como genocídio pela justiça internacional.
Entre os cerca de 6.000 manifestantes, Amir Kulaglic, de 65 anos, prepara-se para voltar ao caminho que percorreu pela primeira vez há 30 anos, quando conseguiu escapar do inferno de Srebrenica.
"Para mim, a marcha durou sete dias e oito noites", disse à agência de notícias France-Presse (AFP) o homem, que na altura fazia parte do Exército bósnio.
"Todos aqueles que, como eu, percorreram este caminho tinham apenas um objetivo: sobreviver e encontrar a família", acrescentou Kulaglic.
Depois de escapar a emboscadas e bombas, foi um dos primeiros a chegar a Nezuk, à frente de uma coluna de refugiados com 11 quilómetros de comprimento. O pai de Kulaglic e vários familiares não sobreviveram ao ataque das forças sérvias-bósnias.
O pai de Elvisa Masic e mais de uma dezena de familiares do sexo masculino também morreram neste massacre.
"Encontrámos restos mortais, um ou dois ossos, a maioria de membros da minha família que enterrámos. Mas do meu pai nunca encontrámos nada", afirmou Elvisa Masic.
Embora os tribunais tenham condenado Ratko Mladic, de 83 anos, e [o antigo presidente sérvio] Radovan Karadzic, de 80, a prisão perpétua por crimes de guerra e genocídio, a negação deste crime ainda prevalece na Bósnia e na vizinha Sérvia.
Amir Kulaglic disse esperar que, em breve, a nova geração de sérvios reconheça tudo o que aconteceu em Srebrenica --- uma cidade que atualmente faz parte da região sérvia da Bósnia --- e peça perdão.
"Perdoaremos e tentaremos construir uma nova Srebrenica, uma cidade de paz, tolerância e respeito", disse Kulaglic.
Espera-se que os manifestantes cheguem ao Memorial Srebrenica-Potocari na quinta-feira, onde estão sepultadas quase 7.000 vítimas.
Durante estas cerimónias, serão sepultados os restos mortais de sete vítimas, entre as quais dois adolescentes de 19 anos e uma mulher de 67 anos.
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