Estudantes de Medicina alertam: Degradação do ensino com aumento de vagas

A Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM) manifestou-se hoje preocupada com o aumento de vagas para os cursos de Medicina, afirmando que têm sido ultrapassados os valores recomendados e que está em causa a qualidade do ensino.

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Lusa
25/08/2025 19:30 ‧ há 3 horas por Lusa

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Ensino Superior

Em declarações à Lusa, o presidente da ANEM, Paulo Simões Peres, lembrou a proposta do grupo de trabalho para a área da formação médica, designado pelo anterior Governo, para estimar as necessidades formativas em Medicina em Portugal nos próximos 10 anos, o qual refere que "devia haver um aumento de 1% ou 2%" anualmente.

 

"Nos últimos seis anos temos ultrapassado largamente esta recomendação. Por isso, achamos que (...) devemos usar esses dados para conseguirmos fazer um planeamento adequado daquilo que será o SNS [Serviço Nacional de Saúde] daqui a 6 e a 13 anos", disse.

Nos cursos de Medicina, que voltam a estar entre os cursos com as médias de acesso mais elevadas, ficaram colocados 1.647 estudantes.

De acordo com o estudante da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), todos os anos há "praticamente um aumento do número de vagas".

"Nós vemos isto como particularmente preocupante, porque de facto o ensino em Medicina não é um ensino que se limita à sala de aula, e, tal como outros cursos de saúde, contacta com pacientes e contacta com outros profissionais de saúde e também é presente nos hospitais, nas unidades de saúde familiar, nos centros de saúde", referiu.

Paulo Simões Peres realçou que há "uma implicação ética também para os doentes", além da falta de tutores, e que "não é através do aumento do número de vagas que se vão resolver os problemas no SNS".

"Não vai ser esta solução, este penso rápido, digamos assim, que vai resolver os problemas no SNS. O que nós defendemos, acima de tudo, é que tem de haver um planeamento a curto, médio e longo prazo, dos profissionais de saúde a nível nacional, que não se restrinja ao SNS. Tem que envolver todo o sistema de saúde para perceber quantos médicos temos", salientou.

O presidente da ANEM recordou que Portugal tem profissionais de saúde acima da média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e que é preciso perceber os tipos de contrato com o SNS, com os setores privado e social, para depois fazer um planeamento adequado. Portugal conta 5,6 médicos por mil habitantes, mais 1,9 do que média da OCDE.

"Quantos mais estudantes temos para um docente mais vai degradar a qualidade ensino. Isto é relevante na parte do ensino clínico, ou seja, normalmente são os anos finais do curso em que nós vamos ter um tutor. Há casos em que chega a mais de 15 estudantes e isto é incomportável. Termos um tutor com 15 estudantes não vai conseguir fazer uma formação com tanta qualidade", sublinhou.

Além da redução de vagas, a ANEM defendeu um corpo docente "bastante especializado" e condições bastante específicas nas escolas médicas.

"Temos mais de 10 escolas médicas em Portugal, e nós conseguimos que estas escolas médicas abranjam uma área territorial maior. E isto já acontece em alguns casos, em que temos faculdades que têm afiliações hospitalares que não são na cidade de sede da própria escola", observou, acrescentando que "seria mais positivo" espalhar os estudantes pelas "diversas afiliações hospitalares".

O dirigente deu os exemplos da Universidade do Minho, que "tem estágio em Braga, em Guimarães e em Viana do Castelo" e da FMUP, que "também consegue fazer estágios em várias afiliações hospitalares, como em Gaia".

"É necessário haver as condições logísticas adequadas para os estudantes conseguirem fazer os seus estágios, nomeadamente a nível de alojamento, de transportes, e também a nível das refeições, que tendencialmente nos hospitais são mais caras que a refeição social das instituições de ensino superior", frisou.

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