O ex-líder dos Super Dragões, Fernando Madureira, foi condenado esta quinta-feira a três anos e nove meses de prisão efetiva, no âmbito da Operação Pretoriano. Madureira foi o único dos 12 arguidos a ser condenado a uma pena efetiva.
O coletivo de juízes do Tribunal Criminal de São João Novo, no Porto, deu como provada a existência de um "plano criminoso" para "criar um clima de intimidação e medo" na Assembleia Geral (AG) do FC Porto de novembro de 2023, na qual ocorreram confrontos e agressões, para garantir a aprovação da proposta de alteração dos estatutos do clube, do "interesse da direção" então liderada por Jorge Nuno Pinto da Costa.
De acordo com os jornalistas no local, o ex-líder da claque do FC Porto, que teve a agravante de assumir um papel de liderança, fica também interdito de entrar em recintos desportivos por dois anos e seis meses.
Note-se que o Ministério Público (MP) tinha pedido uma pena superior a cinco anos, em regime de pena efetiva. Madureira cumpriu mais de um ano de prisão preventiva.
Já a mulher de Fernando Madureira, Sandra Madureira, foi condenada a dois anos e oito meses de prisão com pena suspensa, sofrendo a mesma proibição de frequentar recintos desportivos, por um período de seis meses.
O FC Porto reagiu, entretanto, à decisão, sublinhando que foi dado como provado o plano criminoso, algo que consideram inaceitável.
Apenas dois ilibados
Fernando Saúl, antigo oficial de ligação aos adeptos do FC Porto e 'speaker' do Estádio do Dragão, assim como José Dias, foram os únicos arguidos ilibados de todos os crimes.
Vítor 'Catão', conhecido adepto portista, sairá da prisão domiciliária, tendo sido condenado três anos e seis meses de prisão, para além de um ano e meio de interdição à entrada em recintos desportivos, tendo sido o único a quem foi atribuído o crime de atentado à liberdade de imprensa.
Hugo 'Polaco' foi sentenciado a dois anos e nove meses de prisão e Hugo 'Fanfas', condenado também por um crime de detenção de arma proibida no decorrer das buscas domiciliárias, a quatro anos e um mês.
Entre os 10 arguidos condenados, Vítor 'Aleixo' viu ser-lhe atribuída uma pena de prisão com a duração de dois anos e dez meses, enquanto o filho, do mesmo nome, foi condenado a três anos e três meses.
Para além de o Ministério Público ter pedido penas de prisão efetiva superiores a cinco anos para Fernando Madureira, também as pediu para a esposa, Sandra Madureira, Vítor Catão, Hugo Polaco e os dois Vítor Aleixo.
"Desde o primeiro dia que não tive nada a ver com isto, nunca estive envolvido em nada. Cheguei tardíssimo à Assembleia. Tenho muita pena da devassa pública que fazem das pessoas, culpam as pessoas antes de serem julgadas", diz Fernando Saul.
Fernando Madureira era o único arguido que estava em prisão preventiva, desde 31 de janeiro de 2024, enquanto Vítor Catão estava em prisão domiciliária e Hugo Polaco já foi libertado.
"Não quero saber de futebol, mas reconheço-lhe características de líder"
Considerando que a mudança dos estatutos, que necessitava da aprovação de três quartos dos sócios presentes, era um "manifesto sinal de apoio a Pinto da Costa" e reforço da direção em funções, Madureira fez-se valer do seu estatuto para coagir e constrangir sócios que tivessem um sentido de voto contrário.
O tribunal deu também como provado que Fernando Madureira, em conjunto com Hugo 'Polaco', outro dos arguidos, se posicionou na zona de acreditação, apoderando-se das pulseiras de entrada na AG, de modo a garantir o acesso a não-sócios no exterior, para além de incentivar elementos por si convocados a passarem à frente da fila.
Depois de conhecido o desfecho do processo, a juíza Ana Dias Costa concluiu os trabalhos dirigindo-se diretamente a Fernando Madureira, frisando que este deveria assumir um "papel apaziaguador" em situações de tensão, apesar de lhe reconhecer valências no seu período à frente do grupo organizado de adeptos.
"Dirijo-me a si porque foi a pessoa em torno da qual este processo de desencadeou. Não quero saber de futebol, mas reconheço-lhe características de líder. Tem carisma e capacidade para gerir pessoas. Foi uma pena a forma como acabou a sua liderança da claque Super Dragões. O que se passou foi uma imposição de uma ditadura e o tempo de Salazar já foi há muito. A mudança pode custar, mas as pessoas têm o direito à sua opinião. Isto não pode acontecer no desporto nem na nossa cidade", finalizou.
A decisão é passível de recurso, pelo que a defesa de Madureira, o único dos condenados que ficará privado da liberdade poderá avançar por essa via.
[Notícia atualizada às 18h51]
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