Caos no SNS: 3 bebés morrem em 3 semanas. "Medicina não resolve tudo"?

As situações parecem estar a multiplicar-se em pouco tempo: grávidas que apresentam complicações e acabam por ser vítimas do caos instalado no SNS. Em três semanas, três recém-nascidos morreram.

Ministra da Saúde, Ana Paula Martins

© Horacio Villalobos#Corbis/Corbis via Getty Images

Carolina Pereira Soares
11/07/2025 09:45 ‧ ontem por Carolina Pereira Soares

País

SNS

Em poucas semanas, três grávidas perderam os bebés nas regiões de Lisboa e de Leiria em situações que não serão alheias ao caos instalado no Serviço Nacional de Saúde (SNS), designadamente no que ao encerramento de urgências diz respeito - e não só.

 

O que aconteceu com estas grávidas?

O primeiro caso aconteceu a 22 de junho, com uma grávida de 40 semanas. Desde dia 10 de junho que a mulher de 37 anos ligava para o SNS24 com queixas de dores intensas e peso abdominal. Foi encaminhada para cinco hospitais desde a primeira queixa até ao dia do parto. No dia 21, o SNS 24 encaminhou-a para Cascais e foi apenas ao recusar-se a regressar a casa que seguiu para o Hospital de Santa Maria onde, no dia seguinte, o parto foi induzido.

Durante a cesariana, os médicos descobriram um hematoma grande do ligamento largo do útero, o que atrasou a extração do feto e levou a um episódio de baixa oxigenação do bebé. A menina nasceu com mais de quatro quilos, mas apresentava batimentos cardíacos baixos. Não resistiu.

Grávida com dores queixou-se em 5 hospitais. Bebé morreu após nascimento

Grávida com dores queixou-se em 5 hospitais. Bebé morreu após nascimento

Uma mulher, identificada como E.C., explica que passou por cinco unidades hospitalares em 13 dias - com queixas de dores. Acabou no Hospital de Santa Maria, onde deu à luz. Pouco tempo depois de ter a bebé, a recém-nascida morreu.

Notícias ao Minuto | 23:14 - 29/06/2025

O segundo caso passou-se com uma grávida de 31 semanas com residência no Barreiro, Setúbal. A mulher contactou o SNS24 por ter deixado de sentir o bebé. A linha encaminhou-a para o Hospital de Santa Maria, mas a grávida terá dito que não teria dinheiro para fazer a viagem. Uma situação para a qual o SNS24 não teve resposta. Acabou por ligar ao 112 e foram acionados os Bombeiros Voluntários do Barreiro que, no local, identificaram uma hemorragia interna.

Na Margem Sul, nenhuma urgência de obstetrícia estava a funcionar. A grávida foi, por isso, levada para o Hospital de Cascais, a mais de uma hora de distância. Durante o percurso, a mulher sofreu um deslocamento da placenta. Quando chegou ao hospital, o bebé já estava sem vida.

Fecho de urgências na Margem Sul 'levou' grávida até Cascais. Bebé morreu

Fecho de urgências na Margem Sul 'levou' grávida até Cascais. Bebé morreu

Mulher de 38 anos foi levada para o Hospital de Cascais, a mais de uma hora de distância da sua casa, mais de duas horas depois do seu primeiro pedido de ajuda. O bebé não sobreviveu.

Andrea Pinto | 08:41 - 04/07/2025

O caso mais recente aconteceu na manhã desta quinta-feira, em Leiria. A grávida de 26 semanas apresentava sangramento e contrações quando os Bombeiros da Nazaré chegaram ao local, vinte minutos depois de receberem o alerta. A mulher estava a ser levada para o Hospital de Leiria quando ocorreu o parto, a apenas 10 minutos da unidade hospitalar. Mãe e filho foram admitidos assim que chegaram, mas o recém-nascido acabou por morrer.

Bebé morre após chegar ao Hospital de Leiria. Parto foi em ambulância

Bebé morre após chegar ao Hospital de Leiria. Parto foi em ambulância

Grávida que acionou o INEM às 26 semanas foi levada pelos Bombeiros Voluntários da Nazaré até Leiria. No caminho o bebé nasceu, mas acabou por morrer na chegada ao hospital, que era o de referência.

 Notícias ao Minuto | 23:10 - 10/07/2025

"A medicina ainda não consegue resolver tudo", diz ministra

Na quarta-feira, Ana Paula Martins disse lamentar o desfecho dos dois primeiros casos (os que eram conhecidos na altura), mas que "dificilmente seria evitado", dado que "a medicina ainda não consegue resolver tudo".

Em entrevista à SIC Notícias, a ministra da Saúde defendeu que a situação das urgências na Margem Sul melhorou muito este ano, mas que ainda está longe de ser perfeita. Mesmo assim, admite que não se deve normalizar haver urgências fechadas, mas pede tempo aos portugueses para retirar o SNS da crise que vive e reorganizar a rede de urgências.

Morte de bebés? Ministra aponta que

Morte de bebés? Ministra aponta que "desfecho dificilmente seria evitado"

A ministra da Saúde considerou que o desfecho dos casos das grávidas que perderam os bebés nas últimas semanas "dificilmente seria evitado", já que "a medicina ainda não consegue resolver tudo".

Daniela Filipe | 22:41 - 09/07/2025

Em ambos os casos das grávidas da Margem Sul, as entidades de saúde garantem que o acesso aos cuidados de saúde foram garantidos e que não houve deficiências nos atendimentos. Quanto à situação ocorrida em Leiria, o comandante dos Bombeiros da Nazaré, Mário Cerol, disse à Renascença "não identificar qualquer irregularidade no transporte da grávida nem das comunicações com o INEM."

Partidos pedem que Ana Paula Martins assuma responsabilidades

Entre as várias polémicas no SNS (desde falhas no INEM a contratações de helicópteros de emergência), os partidos da oposição exigem que Ana Paula Martins assuma responsabilidades, confrontando ainda o primeiro-ministro Luís Montenegro.

Pedido de demissão, auditoria ao INEM e salvar o SNS. Que foi dito?

Pedido de demissão, auditoria ao INEM e salvar o SNS. Que foi dito?

O INEM tem estado no centro de várias polémicas desde há uns meses e que tem gerado várias reações vindas dos partidos políticos, mas também dos candidatos às eleições presidenciais. Há quem volte a pedir a demissão da ministra da Saúde e há quem defenda que é preciso fazer uma auditoria completa ao INEM.

Notícias ao Minuto com Lusa | 08:52 - 08/07/2025

A coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, afirmou que a ministra "tem de assumir responsabilidades sobre aquilo que se está a passar no SNS." O presidente do Chega afina pelo mesmo diapasão, defendendo que Ana Paula Martins tem de "assumir a sua quota parte de responsabilidade" relativamente às falhas que tem havido.

Já o secretário-geral do PS, José Luís Carneiro, exigiu respostas do primeiro-ministro, Luís Montenegro, sobre as urgências hospitalares na Área Metropolitana de Lisboa e em particular nas especialidades de pediatria, ortopedia e obstetrícia na península de Setúbal, tendo colocado perguntas  que espera ver respondidas "nos próximos dias".

O recém-eleito líder socialista quer nomeadamente saber "se o Governo já tem ou não um plano de emergência para a gestão das urgências hospitalares para a Área Metropolitana de Lisboa, para Lisboa e Vale do Tejo", e por que razão é que a península de Setúbal até agora tem tido dias e semanas sem uma resposta condigna do ponto de vista da resposta particularmente à pediatria, à ortopedia e também à obstetrícia".

Por seu turno, o PCP acusou o Governo de estar deliberadamente a pôr em risco as mulheres grávidas, considerando que a "total ausência de medidas" na saúde gerou uma "situação de insegurança e desumanidade".

Leia Também: Marcelo espera ouvir da ministra plano para o SNS nos próximos anos

 

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas