"Não sei o que fazer sem ela". Ivana perdeu a filha por chumbar num teste

Ivana Nikoline Brønlund, uma mãe de 18 anos, foi sujeita a testes de competência parental usados na Dinamarca para avaliar apetências psicométricas, apesar de as provas terem sido recentemente proibidas por lei em cidadãos da Gronelândia.

dinamarca retira bebé a gronelandesa
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© Ivana Nikoline Brønlund

Carolina Pereira Soares
24/08/2025 12:20 ‧ há 5 horas por Carolina Pereira Soares

Mundo

Gronelândia

Aviaja-Luuna tinha apenas uma hora de vida quando foi arrancada dos braços da mãe pelas autoridades dinamarquesas.

 

A mãe de 18 anos, Ivana Nikoline Brønlund, foi sujeita a testes de competência parental usados na Dinamarca para avaliar apetências psicométricas, apesar de as provas terem sido recentemente proibidas por lei em cidadãos da Gronelândia.

Ivana nasceu na capital gronelandesa, Nuuk, e deu à luz no dia 11 de agosto no hospital de Hvidore, perto de Copenhaga, onde atualmente vive com a família.

Pouco depois do parto, chegaram representantes do governo regional, alegando que Ivana não era capaz de cuidar da filha e decidindo que Aviaja-Luuna iria para o sistema de adoção. 

Ivana só pode ver a filha de duas em duas semanas durante 2h

Desde aí, Ivana só viu a filha uma vez, durante uma hora - e não pôde sequer tocar na criança.

"O meu coração ficou despedaçado quando a supervisora parou o tempo. Foi tão triste. Chorei o caminho todo até ao carro e depois dentro do carro", contou Ivana ao The Guardian. "Foi tudo tão rápido. O meu coração está em pedaços. Eu não sei o que fazer sem ela."

A primeira visita terminou mais cedo, porque a supervisora considerou que a bebé estava demasiado cansada e muito estimulada.

Ivana pode voltar a ver a sua filha, mas sempre debaixo de um olho atento, e apenas a cada duas semanas durante duas horas. 

O recurso que pôs em tribunal por causa da situação só vai ser ouvido no dia 16 de setembro. Até lá, Ivana tem de se sujeitar às visitas duas vezes por mês.

Ivana foi submetida ao teste depois de ser proibido por lei

Os testes de competência parental, conhecidos como FKU (forældrekompetenceundersøgelse), foram banidos em pessoas da Gronelândia ou com parentes de lá no início do ano, após anos de críticas e protestos de direitos humanos, que argumentavam que os testes eram racistas e que não se enquadrar aos padrões culturais do povo indígena Inuit.

A proibição entrou em vigor em março, mas os testes a Ivana começaram em abril.

O governo local terá dito que a nova lei não se aplicaria a Ivana por ela não ser "gronelandesa o suficiente", apesar de ter nascido na Gronelândia, filha de pais que também nasceram na região autónoma.

Ivana chumbou no teste por ter sido abusada sexualmente na infância

Três semanas antes de dar à luz, as autoridades disseram a Ivana que não lhe seria permitido ficar com a criança, por ter sido abusada sexualmente na infância às mãos do pai adotivo.

"Eu não queria entrar em trabalho de parto porque sabia o que ia acontecer a seguir. Pude manter a minha bebé perto de mim enquanto ela estava na minha barriga, e isso era o mais perto que alguma vez estaria dela", contou Ivana.

O governo local recusa comentar o caso, alegando que está obrigado a manter a confidencialidade do processo. No entanto, admitiu que houve falhas no caso e diz estar a fazer os possíveis para que as ações judiciais em tribunal tenham "o melhor desfecho possível" para a família.

A ministra dos Assuntos Sociais da Dinamarca já disse estar preocupada com os relatório que lhe estão a chegar e também já terá pedido explicações ao responsável por detrás da decisão.

Dinamarca e Gronelândia estão em protesto por Ivana

O caso gerou polémica na praça pública dinamarquesa e levou a inúmeros protestos por toda a Gronelândia, assim como em algumas cidades da Dinamarca, com os manifestantes a exigirem que o governo reúna mãe e filha.

Dida Pipaluk Jensen que está a ajudar a organizar um novo protesto considera que os testes são "horrendos" e que o que foi feito a Ivana foi uma injustiça.

"Uma das razões que o governo local alegou para lhe retirar a filha foi devido a traumas anteriores na vida de Ivana. É simplesmente errada castigá-la por algo que ela nem sequer fez", defendeu.

Os testes são mais usados em gronelandeses do que em dinamarqueses

Por norma, os testes em causa são usados quando há suspeitas de que a criança está com problemas comportamentais ou emocionais. No entanto, a psicóloga clínica Isak C Nelleman, que costumava realizar os FKU para o estado dinamarquês, disse que, muitas vezes simplesmente ser da Gronelândia é o suficiente para os assistentes sociais ficarem alertas.

Um estudo de 2022 concluiu que as crianças eram removidas de pais gronelandeses em 5,6% dos casos. Em pais dinamarqueses o número descia para 1%.

E o teste é praticamente impossível de passar, segundo Nelleman, que confessou que nem ele nem os seus colegas o conseguiram. 

Os FKU incluem perguntas como "Do que é que o vidro é feito?" e "Qual é o nome da grande escadaria em Roma?". Perguntas que não só Nelleman, mas também outros ativistas, alegam serem culturais e pouco úteis para efetivamente medir a inteligência emocional de alguém.

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