A China estará a contornar as sanções do ocidente e a enviar, discretamente, motores de drones feitos em território chinês para uma fábrica detida pelo estado russo.
Os envios estarão identificados como “unidades industriais de refrigeração” para evitarem serem descobertas.
A informação é avançada pela agência Reuters, que teve acesso a documentos oficiais de segurança, onde há indícios de que a empresa russa de fabrico de armas IEMZ Kupol conseguiu aumentar significativamente a produção dos drones de ataque Garpiya-A1, graças aos motores chineses.
Os Garpiya são drones de longo alcance, usados para atingir alvos civis e militares no interior do território ucraniano. Segundo um comunicado dos serviços de inteligência militar da Ucrânia, por mês, a Rússia envia 500 drones deste género.
A ser verdade, significa que a China está ativamente a ir contra os desejos da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos, que em outubro do ano passado implementaram sanções no sentido de prejudicar a produção destes drones.
Um documento interno da Kupol, a que a Reuters teve acesso, mostra que a empresa assinou um contrato com o ministério de defesa russo para a produção, este ano, de seis mil drones Garpiya. São mais quatro mil do que em 2024, quando o contrato só previa a produção de 2 mil drones nesse ano.
O documento fez também nota de que em abril mais de 1.500 drones já tinham sido entregues.
Como funciona o esquema
Em setembro, a Reuters tinha reportado que a Kupol estava a fabricar os drones Garpiya usando tecnologia chinesa. Foi no seguimento desta notícia que o ocidente implementou sanções a diversas empresas envolvidas na produção de drones, para tentar travar esta linha de fornecimento entre Pequim e Moscovo.
A solução da chinesa terá sido trocar a produção para empresas que não foram sancionadas. A Reuters mostra faturas, cartas e documentos de transporte como provas.
De notar também que os Garpiya são inspirados em drones iranianos, mas incorporam tecnologia chinesa - uma informação que já foi confirmada por três fontes europeias e também pela agência de inteligência militar ucraniana.
Há documentação que indica também que os motores (enviados por uma empresa chinesa chamada Xichao) são entregues a uma empresa de fachada russa, que os reencaminha depois para uma outra organização (a LIBSS).
Num contrato entre a LIBSS e a Kupol está explícito que os motores devem ser descritos como “unidades de arrefecimento” em todos os documentos de envio, devido à sua “natureza sensível”, diz a Reuters.
Os motores iriam, então, de Pequim para Moscovo e depois para Izhevsk, no leste russo, onde se encontram as fábricas da Kupol.
Segundo três fontes de segurança, a descrição dos produtos como “unidades de arrefecimento” tem permitido que os motores evadam a fiscalização das autoridades chinesas.
A China nega qualquer envolvimento
Em comunicado, o ministro dos negócios estrangeiros chinês afirmou não ter conhecimento de qualquer exportação de partes dos drones Garpiya, e garantiu que há um controlo das vendas externas de bens de dupla utilização, em conformidade com a legislação chinesa e as obrigações internacionais.
“A China sempre se opôs às sanções unilaterais por não terem fundamento no direito internacional e não serem autorizadas pelo Conselho de Segurança da ONU”, acrescentou o ministro.
Tanto os Estados Unidos como a UE têm imposto sanções frequentes a empresas de outros países, incluindo a China, acusados de fornecer tecnologias de dupla utilização à Rússia.
A própria Kupol tem sido alvo de sanções da UE desde dezembro de 2022, com as dos Estados Unidos a chegarem um ano depois, em dezembro de 2023. Em causa está o envolvimento da empresa no setor da defesa russo.
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