Em declarações à agência Lusa, o investigador garante que "há efetivamente um aumento em relação às eleições passadas", o que "se enquadra no movimento global que está a acontecer neste momento: A desinformação está a crescer em todos os países e Portugal não é exceção".
Contudo, refere que ainda "não há um nível de desinformação preocupante", pois "o facto de ser noticiado que existem laboratórios, em Portugal, que estão atentos a este fenómeno teve algum efeito nos partidos".
João Canavilhas afirma também que se está a verificar, tal como noutros países, "um crescimento da extrema-direita, acompanhado também de uma maior produção de desinformação por parte destes partidos".
"Em Portugal, percebemos que mais de 80% dos casos identificados no estudo são do Chega, que também acaba por explorar todas as variedades de desinformação", afirmou o académico.
Além disso, o estudo, da Entidade Reguladora para a Comunicação (ERC) e da Universidade da Beira Interior, concluiu que o formato vídeo é o mais eficaz para passar determinada mensagem, o que para o investigador "é preocupante" porque redes como o TikTok estão muito ligadas aos jovens.
"Os estudos dizem que há cada vez mais jovens a informam-se através das redes sociais, enquanto nas gerações mais velhas ainda existe um contrapeso com os media tradicionais", sendo que "as pessoas acabam por ser mais crentes em relação ao que veem, face ao que leem ou ouvem", daí esta ser uma das estratégias utilizadas pelos partidos políticos, explica o académico.
Em matéria de utilização de Inteligência Artificial (IA) nestes vídeos, João Canavilhas acredita "que não tenha sido necessário o recurso à IA", mencionando apenas questões básicas de edição.
"No momento em que a IA começar a ser usada para a criação de 'deepfakes' (...) tornar-se-á bastante difícil distinguir aquilo que é um vídeo verdadeiro daquilo que é um vídeo complemente criado pela IA", afirma.
Para o investigador, este fenómeno salienta ainda mais um problema referente à verificação de factos, explicando que "a circulação do desmentido nunca atinge o mesmo número de pessoas que a falsa notícia", sendo que a IA vem acelerar ainda mais este processo porque coloca desinformação a circular mais rápido, ao mesmo tempo que é mais difícil fazer a distinção.
João Canavilhas concluiu refletindo sobre o problema das redes sociais fechadas, como os grupos no WhatsApp, onde "é impossível de controlar a desinformação [porque] são injetadas pílulas informativas falsas que surtem efeitos".
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