O porta-voz dos moradores do bairro do Talude Militar, e membro do Movimento Vida Justa, Engels Amaral, alertou, em declarações à Lusa, que o que aconteceu no seu local de residência passou-se em simultâneo na Amadora, no bairro Mina de Água.
No entanto, deixou o alerta que em Santa Iria da Azoia - no município de Loures - foram sinalizadas habitações precárias.
"No caso da Amadora, que se passou em simultâneo com o Talude, demoliram lá oito construções. Em Santa Iria da Azoia, por exemplo, temos informações de que foram sinalizadas todas as casas" no final de julho, contextualizou o ativista são-tomense, de ascendência portuguesa, que frisou ainda que nestes bairros existem também portugueses e não apenas imigrantes.
Também Amélia da Costa - uma ativista que nasceu na Guiné-Bissau, mas vive em Portugal desde os 4 anos de idade - advertiu de que este fenómeno das barracas não é novo e que nem todas as habitações precárias, que recentemente foram reportadas, foram construídas nos últimos tempos.
"Eu estou em Portugal desde os meus 4 anos de idade. Tenho 48, portanto já estou em Portugal há 44, e eu lembro-me, quando era estudante universitária, de ter tido o primeiro contacto com barracas em Carcavelos e na Portela [de Sacavém]", contextualizou.
Agora, entre 2024 e 2025, por fazer parte do movimento Voluntários a Semear Esperança, em que participam alguns militantes do Partido Socialista (PS), realizou visitas aos "bairros da Quinta do Mocho [Loures], Zambujal [Amadora] e o Talude Militar" e verificaram "não só a existência de barracas, como também de pessoas a fazerem construções".
A ativista Catarina Paiva, apoiante do movimento, realçou que por estar no terreno tem vindo a saber de "casos em Almada e em Odivelas".
Após ter realizado estas visitas ao terreno, Amélia da Costa disse estranhar como é "que as autarquias dizem que não sabem da existência de barracas com pessoas que já moram lá há muitos anos e outras que foram, obviamente, construídas recentemente".
Para a ativista, quem está a candidatar-se às autarquias, de uma forma geral, tem de conhecer muito bem o território e a situação no Talude Militar, especificamente, que acontece há anos.
"Existem pessoas que estão lá há anos e são pessoas que descontam, são pessoas que trabalham, são pessoas que, infelizmente, devido ao aumento dos preços das casas, não conseguem, por exemplo, com o ordenado mínimo - que neste momento está em 870 euros - pagar sequer um quarto de 450 euros, quanto mais um T2 para viver", lamentou.
Na sua opinião, as pessoas constroem por uma questão de desespero, "para não ficarem debaixo da ponte".
No entanto, a ativista socialista crê que, com a dimensão do que aconteceu em Loures, nenhum autarca vai ter coragem de agir perante essas habitações precárias antes das eleições autárquicas de outubro.
Há uma corresponsabilidade entre as embaixadas dos imigrantes que vivem nestas situações e do Governo português: "As embaixadas deveriam preocupar-se em saber como é que essas pessoas vêm, se ao chegarem aqui têm as mínimas condições para viver e fazer também o próprio acompanhamento das mesmas. Por outro, deviam fazer pressão junto do Estado português. Há uma corresponsabilidade, tanto de quem recebe, como quem também deveria proteger", sublinhou.
Como possível solução, as ativistas defendem o reaproveitamento de casas das câmaras que estejam fechadas, mais construção acessível e, de forma temporária, o uso de contentores devidamente equipados em terrenos camarários.
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