No relatório sobre as perspetivas para a economia mundial, hoje divulgado, o Fundo Monetário Internacional (FMI) melhora a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial deste ano em 0,2 pontos percentuais face ao que projetava em abril e a de 2026 em 0,1 pontos.
Segundo a instituição, a trajetória reflete em particular quatro efeitos: um crescimento económico "mais forte do que o previsto" no início do ano, antes da entrada em vigor dos novos direitos aduaneiros anunciados pelos Estados Unidos da América (EUA) e da resposta dos parceiros comerciais; a aplicação de "taxas médias efetivas nos direitos aduaneiros dos EUA inferiores às anunciadas em abril"; uma melhoria "das condições financeiras, nomeadamente devido a um dólar norte-americano mais fraco"; e a existência de "expansão orçamental" nalgumas das principais economias.
Para os Estados Unidos, maior economia global, o FMI prevê um crescimento de 1,9% este ano (abaixo dos 2,8% de 2024) e uma melhoria para 2% no próximo ano.
Há uma revisão em alta em relação ao relatório de abril, altura em que projetava uma variação do PIB de 1,8% para 2025 e de 1,7% para 2026.
A China, segunda maior economia mundial, deverá crescer 4,8% (mais 0,8% do que o previsto em abril).
"Esta revisão reflete uma atividade mais forte do que o esperado no primeiro semestre de 2025 e a redução significativa das tarifas entre os EUA e a China", explica o FMI, que conta que a estabilização no volume dos inventários das mercadorias no segundo semestre "compense parcialmente" o efeito extraordinário que se verificou nas encomendas no início do ano.
Para 2026, o crescimento da China também foi revisto em alta em 0,2 pontos percentuais, para 4,2%, "refletindo novamente as taxas tarifárias efetivas mais baixas".
A Índia deverá registar uma variação de 6,4% tanto em 2025 como em 2026, crescendo em cada ano mais 0,2 pontos do que o previsto no relatório anterior. A melhoria reflete "um ambiente externo mais favorável do que o previsto", justifica o FMI.
Para a zona euro, a previsão de 2025 também melhora, mas a de 2026 não sofre alterações. O FMI aponta para um crescimento de 1% para este ano, mais 0,2 pontos percentuais do que fazia em abril (0,8%). Já para 2026 continua a prever os mesmos 1,2%.
O FMI salienta que a melhoria "é em grande parte impulsionada pelo forte resultado do PIB da Irlanda no primeiro trimestre do ano", ainda que este país "represente menos de 5% do PIB da zona do euro".
Segundo FMI, a Alemanha deverá crescer 0,1% este ano, França 0,6%, Itália 0,5% e Espanha 2,5%.
O Reino Unido deverá crescer este ano 1,2%, o Japão 0,7%, o Canadá 1,6% e a Rússia 0,9%.
O FMI alerta que uma subida das taxas aduaneiras pode conduzir a "um crescimento mais fraco" e que a "elevada incerteza" pode "começar a pesar mais fortemente sobre a atividade" se os prazos para a aplicação das tarifas se esgotarem sem que os EUA e outros parceiros cheguem "acordos substanciais e permanentes".
Da mesma forma, avisa que as tensões geopolíticas podem "perturbar as cadeias de abastecimento globais e fazer subir os preços das matérias-primas". Ao mesmo tempo, a existência de défices orçamentais mais altos ou de uma "maior aversão ao risco" podem levar a um aumento das taxas de juro de longo prazo e "restringir as condições financeiras globais", refere o FMI.
Conjugada com a fragmentação na economia, as restrições podem "reacender a volatilidade nos mercados financeiros", adverte.
Por outro lado, em sentido positivo, "o crescimento global pode ser impulsionado se as negociações comerciais levarem a um quadro previsível e a uma redução das tarifas".
Em relação à inflação, o fundo prevê um abrandamento para 4,2% em 2025 e para 3,6% em 2026, "uma trajetória semelhante à projetada em abril".
No entanto, sublinha que continuam a existir "diferenças assinaláveis" entre países, verificando-se uma inflação "acima do objetivo" nos EUA, mas mais "moderada" noutras grandes economias.
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