O anúncio feito durante uma reunião em Cabul está a ser encarado como o apoio mais significativo por parte de Pequim ao regime talibã, que regressou ao poder no Afeganistão em agosto de 2021 e que não conta com o reconhecimento internacional.
O regime de Cabul também avançou ter sido convidado formalmente a aderir à iniciativa chinesa 'Uma Faixa, Uma Rota'.
O ministro dos Negócios Estrangeiros do regime talibã, Amir Khan Muttaqi, descreveu a China como um bom parceiro comercial e afirmou que o volume de comércio anual entre os dois países atinge os mil milhões de dólares (cerca de 858 milhões de euros, ao câmbio atual).
De acordo com o representante talibã, Wang Yi prometeu que Pequim "continuará a dar apoio político e económico ao Afeganistão e esforçar-se-á por eliminar os obstáculos existentes na área dos produtos agrícolas afegãos e outras importações".
Durante a reunião, Muttaqi apresentou ao homólogo chinês "propostas práticas" de cooperação no domínio dos transportes e das relações bancárias e apelou à criação de comissões intergovernamentais para expandir a cooperação económica.
A reunião bilateral decorreu à margem de uma cimeira trilateral realizada hoje em Cabul, na qual participou também o ministro dos Negócios Estrangeiros do Paquistão, Ishaq Dar, e que visa reforçar a cooperação política e económica na região.
Muttaqi, através de um comunicado, fez saber que Cabul tem todo o interesse em expandir a colaboração económica com Islamabad, especificamente nos setores do comércio, do trânsito e dos projetos de desenvolvimento conjunto.
O chefe da diplomacia do regime talibã instou a delegação paquistanesa a tomar "medidas práticas para resolver os desafios e facilitar" as áreas que almeja desenvolver e reforçou que a política externa de Cabul é "equilibrada e centrada na economia".
"O Emirado Islâmico procura estabelecer relações positivas, baseadas no respeito mútuo, com todo o mundo, incluindo o Paquistão", afirmaram as autoridades talibãs, na mesma nota informativa.
Além disso, os talibãs manifestaram preocupação com a situação dos refugiados afegãos no Paquistão e apelaram a Islamabad para que "evite violar os direitos dos afegãos que aí residem e dos que chegarão no futuro".
Por seu lado, segundo os talibãs, Ishaq Dar sublinhou o empenho de Islamabad em reforçar os seus laços com Cabul, nomeadamente nos domínios do comércio bilateral e do trânsito.
A Universidade do Instituto de Estabilidade da Ásia do Sul (SASSI), do Paquistão, anunciou hoje que irá acolher um diálogo regional, a 25 e 26 de agosto, com a participação de figuras da oposição afegã no exílio, uma reunião que foi descrita por alguns especialistas como "extremamente insensata".
Milhares de afegãos têm sido repatriados desde o Paquistão e só nos últimos quatro meses mais de 78.000 entraram no Afeganistão através da passagem fronteiriça de Spin Boldak.
Este fluxo constante resulta de uma campanha maciça de expulsão de refugiados afegãos por parte do Paquistão. Muitos dos que agora são forçados a regressar fazem parte dos centenas de milhares de afegãos que fugiram do Afeganistão em agosto de 2021, com receio do regresso dos fundamentalistas ao poder.
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