As mulheres faziam uma vigília pela libertação dos filhos, que dizer ser presos políticos, detidos desde 2024, no âmbito da repressão e dos protestos contra os resultados das eleições presidenciais de 28 de julho do ano passado, cujos resultados a oposição contesta.
O ataque de que foram alvo, segundo um comunicado divulgado pelo Coletivo Surgentes (CS), teve lugar pelas 22:00 locais de terça-feira (03:00 de quarta-feira em Lisboa), e foi perpetrado por um grupo de 70 pessoas encapuzadas, empunhando armas de fogo e outros objetos.
"Os contingentes da Polícia Nacional Bolivariana e do Grupo de Ações Especiais que se encontravam junto à manifestação retiraram-se. Minutos depois, o grupo para-policial [atacante] apareceu em motas e a pé, alguns encapuzados e outros com a cara descoberta. Espancaram as pessoas presentes, incluindo uma mãe com um bebé e uma mulher grávida. Roubaram carteiras, documentos de identidade, telefones, chaves, um altifalante e várias tendas", denunciou o CS.
Segundo esta organização não governamental (ONG), os atacantes "arrastaram pelo chão quem se opôs a entregar os seus haveres", e "empurrou todos as pessoas, na sua maioria mães de diferentes regiões do país, durante quatro ou cinco quarteirões, dispersando-as".
"Perante estes atos, o CS exige que o Ministério Público inicie imediatamente uma investigação, assim como que a 'Defensoria del Pueblo' [Provedoria de Justiça] se pronuncie", lê-se no comunicado divulgado na X.
Por outro lado, na mesma rede social, a ONG Justiça, Encontro e Perdão afirmou "condenar veemente os atos de violência perpetrados", precisando que além dos familiares dos presos políticos, foram também afetados ativistas do Comité de Mães em Defesa da Verdade, que participavam na vigília pacífica.
O Programa Venezuelano de Educação e Ação em Direitos Humanos (Provea) questionou a falta de ação das forças de segurança do Estado venezuelano, denunciando que "minutos antes dos ataques se tenham retirado das instalações" do STJ.
"Uma das investigações que está a ser levada a cabo pela Procuradoria do Tribunal Penal Internacional é a atuação dos grupos paramilitares pró-governamentais nos crimes contra a humanidade perpetrados na Venezuela e a sua ação coordenada com as instituições do Estado", explicou o advogado Marino Alvarado, coordenador da Provea, na X.
O ativista explicou ainda que os venezuelanos têm o direito de exigir, de maneira pacífica, a liberdade dos seus familiares.
"A direção do STJ deve também levar a cabo uma investigação sobre a possível cumplicidade da equipa de segurança dos magistrados com as ações destes grupos, em coordenação com a Direção Geral de Contra-Inteligência Militar [serviços de informações militares]", afirmou.
Segundo a ONG Justiça, Encontro e Perdão, "a inação das forças de segurança do Estado não só facilitou o ataque, como também constitui uma grave omissão do seu dever de proteger o direito de protesto pacífico".
"Esta falta de proteção contribui para um ambiente de impunidade que põe em risco a vida e a integridade das pessoas que exercem os seus direitos fundamentais", explicou na X.
Segundo a ONG Foro Penal (FP), em 21 de julho, a Venezuela tinha 853 pessoas detidas por motivos políticos, 759 homens e 94 mulheres.
Do total de presos políticos, 684 são civis e 169 militares, 849 adultos e quatro adolescentes.
Esta organização diz desconhecer o paradeiro de 46 presos políticos na Venezuela.
Pode ver, na galeria acima, imagens da vigília pelos presos políticos.
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