Até agora, mais de 1.180 casos de cólera -- cerca de 300 dos quais em crianças -- e pelo menos 20 mortes foram relatados em Tawila, no Darfur do Norte, desde que o primeiro caso foi detetado, a 21 de junho de 2025, indicou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) num comunicado.
Tal representa um rápido aumento de casos na cidade, que acolheu mais de meio milhão de deslocados internos, em fuga ao violento conflito que desde abril deste ano se intensificou na região, sublinhou a agência especializada da ONU.
Nos cinco estados do Darfur, o número total de casos de cólera atingiu, até 30 de julho, quase 2.140, tendo-se registado pelo menos 80 mortes.
Segundo a organização internacional, as vidas de mais de 640.000 crianças com menos de 5 anos estão em risco elevado no Darfur do Norte devido não só à violência, como também a doenças e fome.
Centenas de milhares de pessoas viram-se obrigadas a fugir para Tawila, situada cerca de 70 quilómetros a norte da capital do estado, Al-Fasher, onde os combates prosseguem, continuando a enfrentar ali condições perigosas, com acesso limitado a alimentos, água potável e alojamento e a crescente ameaça da cólera e de outras doenças.
No Darfur do Norte, os hospitais foram bombardeados e as instalações de saúde nas áreas próximas dos combates viram-se forçadas a encerrar, referiu também a UNICEF.
"O acesso extremamente limitado a cuidados de saúde, combinado com a escassez de água potável e más condições de higiene, aumenta o risco de propagação da cólera e de outras doenças mortais, especialmente em locais de deslocamento superlotados", alertou.
"Avaliações recentes mostram que o número de crianças que sofrem de subnutrição aguda grave no Darfur do Norte duplicou no último ano, [o que] com a cólera, cria uma combinação letal: crianças cujos corpos estão enfraquecidos pela fome são muito mais propensas a contrair cólera e a morrer por causa disso", sublinhou também a organização.
"Sem acesso imediato e seguro a serviços de nutrição, saúde e água de emergência, o risco de mortes infantis evitáveis continuará a aumentar", advertiu a agência da ONU responsável por fornecer recursos humanitários e de desenvolvimento a crianças em todo o mundo.
Recordou ainda que "bens essenciais para salvar vidas, incluindo vacinas e alimentos terapêuticos prontos para consumo, estão praticamente esgotados, e os esforços para os repor são cada vez mais difíceis, pois o acesso humanitário está quase totalmente bloqueado e as colunas de ajuda são saqueadas ou atacadas", além de que "os contínuos obstáculos burocráticos à entrega de bens e serviços aumentaram a gravidade da situação".
"Apesar de ser evitável e facilmente tratável, a cólera está a devastar Tawila e outras localidades no Darfur, ameaçando a vida das crianças, especialmente as mais novas e vulneráveis", afirmou Sheldon Yett, representante da UNICEF no Sudão, citado na nota de imprensa.
"Estamos a trabalhar sem descanso com os nossos parceiros no terreno para fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para conter a propagação e salvar vidas, mas a violência implacável está a aumentar as necessidades mais rapidamente do que conseguimos satisfazê-las", explicou o responsável.
"Apelamos e continuamos a apelar para um acesso seguro e sem obstáculos para reverter urgentemente a situação e chegar a estas crianças necessitadas. Elas não podem esperar nem mais um dia", vincou Sheldon Yett.
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