"Se há uma oportunidade em cada crise, como acho que dizem os chineses, também há uma oportunidade nesta crise da liderança dos Estados Unidos, porque nos mostrou que a Europa tem de saber por onde quer ir e não perder o controlo sobre a própria agenda, e, por outro lado, tem de diversificar parceiros no exterior", disse, em Macau, em declarações à Lusa, a ex-ministra portuguesa, após uma conferência no consulado-geral de Portugal.
Elisa Ferreira sublinhou, durante a sessão na representação diplomática, a importância do entendimento entre Estados Unidos e Europa desde o pós-Segunda Guerra, no entanto, considerou a estabilidade dessa aliança "muito ameaçada" e que há "nos EUA preocupações que têm de ser tomadas em conta".
Desde que regressou ao poder, em janeiro de 2025, Donald Trump recorreu a uma política de imposição de direitos aduaneiros sobre as importações para os Estados Unidos, utilizando as tarifas como instrumento de negociação com os parceiros comerciais de Washington. A imposição das taxas gerou ondas de choque na economia global, levou a retaliações e agitou mercados financeiros.
Neste contexto de instabilidade, a China "tem de ser um grande parceiro", considerou a académica.
"A China é uma grande potência. Acho que sempre foi latente, agora afirma-se completamente, sobretudo nas áreas de futuro, em matérias de novas tecnologias digitais e ambientais", afirmou à Lusa a ex-ministra do Ambiente (1995-1999) e do Planeamento e do Ordenamento Territorial (1999-2002) nos governos de António Guterres.
"Durante muito tempo, a Europa queria ser um impulsionador das novas tecnologias de energias limpas, de poupança energética, etc.; acho que a China, quando define fazer uma coisa, quando se determina, quando se organiza, acelera com uma velocidade imparável", notou.
Neste momento, é preciso voltar atrás e reaprender lições do pós-Segunda Guerra, disse ainda a académica, sublinhando a capacidade dos Estados, nesse período histórico, de se sentarem "à mesma mesa, em encontros internacionais, onde estabilizaram o sistema monetário, criaram o Banco Mundial e estabilizaram as correntes comerciais".
"O mundo mudou, as fontes de competitividade mudaram, mas acho que, como dizia [a presidente da Comissão Europeia] Ursula von der Leyen, a Europa tem de se manter unida, tem de se manter firme, e tem de encontrar outros parceiros", defendeu.
Em Macau a convite do Instituto de Estudos Europeus, Elisa Ferreira inaugurou hoje o ciclo "Conversas no Consulado", com a conferência "Portugal: Dos sucessos do Portugal democrático às encruzilhadas do presente".
Formada em Economia e docente na Universidade do Porto, a responsável foi deputada à Assembleia da República (2002-2004) e ao Parlamento Europeu (2004-2016), além de comissária europeia para a Coesão e Reforma (2019-2024).
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