O suspeito, um adulto de idade não especificada, foi detido pouco antes das 21 horas local (19 horas em Lisboa) em Villeurbanne, informaram à agência de notícias francesa AFP o Ministério Público de Lyon e uma fonte policial.
O homem detido é descrito como "psicologicamente frágil", de acordo com as mesmas fontes.
A queima do Alcorão nesta mesquita foi qualificada como um ato "islamofóbico" pelos líderes muçulmanos e pelos conselheiros locais, num contexto de explosão de actos anti-muçulmanos em França.
No domingo à noite, pouco antes da primeira oração da manhã, "um indivíduo com o rosto descoberto entrou na sala de oração" da mesquita Errahma (em árabe, Misericórdia) de Villeurbanne, perto de Lyon, e "apoderou-se de um exemplar do Alcorão, incendiou-o e deixou-o no exterior (...) antes de fugir", anunciou o Conseil des Mosquées du Rhône (CMR, na sigla francesa), organismo que agrupa os locais de culto muçulmanos no departamento do Rhône, num comunicado de imprensa.
O suspeito entrou na mesquita por volta das 3:45 locais (1:45 em Lisboa) e teve uma troca de palavras com um fiel que lhe pediu para tirar os sapatos, disse uma fonte policial à agência de notícias francesa AFP.
Não houve violência, mas, à saída, pegou num Alcorão que estava à disposição dos fiéis e "queimou-o na rua", acrescentou.
O fiel que assistiu ao incêndio apagou as chamas sem dar o alarme porque não se apercebeu do que tinha acontecido, explicou Kamel Kabtane, reitor da Grande Mesquita de Lyon.
A testemunha acabou depois por avisar os responsáveis, que consultaram as imagens das câmaras de vigilância hoje e apresentaram queixa, acrescentou Kabtane.
Foi aberto um inquérito "para identificar o autor o mais rapidamente possível" e as suas motivações, disse a fonte policial, sendo favorecida "a possibilidade de um ato antirreligioso".
"Asseguramos aos nossos concidadãos muçulmanos do Ródano toda a atenção e apoio do Estado face aos atos odiosos de que são alvo", declarou Fabienne Buccio, presidente da região Auvergne-Rhône-Alpes, em comunicado.
Este ato "islamofóbico" é "extremamente grave (...) num contexto já marcado pela violência contra a nossa comunidade", denunciaram os responsáveis da mesquita Errahma no seu site.
Os primeiros três meses de 2025 foram marcados em França por um aumento substancial de atos anti-muçulmanos, mais 72% em comparação com o mesmo período de 2024, com 79 casos registados, de acordo com uma contagem do Ministério do Interior francês.
A CMR denunciou já aquilo que considera ser "uma série de ataques de ódio" e um "clima cada vez mais hostil para com os cidadãos de fé muçulmana", referindo-se nomeadamente ao assassinato do jovem maliano Aboubakar Cissé, esfaqueado 57 vezes no dia 25 de abril numa mesquita da região do Gard, e à morte a tiro de um tunisino na região do Var, no sábado, ambos no sudeste de França.
Este último foi um crime "premeditado", "claramente racista" e "provavelmente anti-muçulmano", segundo o ministro do Interior francês Bruno Retailleau.
A Tunísia, através do seu ministro do Interior, Khaled Nouri, condenou na segunda-feira o ataque classificando-o como "crime terrorista" e pediu ainda a adoção de uma "abordagem proativa" para evitar novos crimes semelhantes.
Bruno Retailleau numa conversa telefónica com o seu homólogo tunisino expressou "profunda tristeza e indignação da opinião pública tunisina" e sublinhou "a necessidade de garantir a segurança dos tunisinos residentes em França".
A Procuradoria Nacional Antiterrorista (PNAT, na sigla francesa) encarregou-se da investigação do caso, sendo a primeira vez que investiga um homicídio racista ligado à extrema-direita.
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