Em entrevista à agência Lusa, à margem de uma conferência a decorrer em Lisboa, Jim O'Brien afirmou que as ações de Donald Trump têm "um impacto enorme" nas relações do seu país com a Europa, tendo abalado a confiança de todos.
Admitindo que nada na relação entre a Europa e os Estados Unidos (EUA) será como antes, depois de Donald Trump, o ex-secretário de Estado-adjunto da administração democrata de Joe Biden reconheceu que "caberá aos americanos reconstruir" essa confiança.
No entanto, considerou, "é importante que os europeus tenham confiança de que a América será um parceiro fiável no futuro" e "ainda há muito para fazer juntos".
Para o diplomata, é "importante que se olhe para além destes anos" de mandato do líder republicano, porque "se Trump conseguir um 'divórcio', ficaremos todos muito mais fracos, enquanto a China se fortalecerá".
Enquanto esperam que surja um novo chefe de Estado com quem possam reconstruir a confiança existente nos últimos 80 anos, os europeus devem encontrar uma outra forma de trabalhar com os EUA em questões importantes como a economia ou a defesa, sugeriu Jim O'Brien.
De acordo com o antigo governante, que é atualmente membro do 'think tank' (grupo de reflexão) Council of Foreign Affairs, há duas questões-chave para lidar com Donald Trump.
"A primeira é guiá-lo para que se mova numa direção menos prejudicial" e a outra é "atrasar a sua decisão sobre um acordo" para diminuir o impacto da sua impulsividade, considerou.
"Trump conta uma história quando fala aos jovens sobre como os empresários de sucesso funcionam a partir do impulso. E é assim que ele está a governar. Quer ir rápido, mas não sabe para onde vai", explicou.
Para Jim O'Brien, Trump "precisa de uma manchete todos os dias, e nos dias em que está desesperado por uma manchete, fará acordos muito fracos".
O especialista em assuntos europeus acha mesmo que é isso que a Comissão Europeia já está a fazer relativamente às negociações comerciais, após Trump ter imposto tarifas à União Europeia (UE).
"Entre as ameaças de Trump e a resposta há uma disputa sobre o calendário" e, dessa forma, Bruxelas "está a manobrá-lo para um espaço onde o acordo pode ser melhor para a Europa", disse.
Uma das questões nas quais o afastamento dos EUA com a Europa é mais visível é, sem dúvida, a NATO, a organização militar criada para segurança dos membros (sobretudo europeus) depois da II Guerra Mundial.
Neste ponto, Jim O'Brien concorda que os Estados da Europa devem fazer mais para se defenderem e protegerem, sem ficarem tão dependentes dos EUA.
"Penso que a NATO precisa de ser revigorada e transformada" e "é claro que a Europa é suficientemente próspera para pagar mais pela sua própria defesa do que pagou durante décadas", afirmou, lembrando que, já na administração Biden, os aliados concordaram em financiar os planos regionais de defesa da NATO, aumentando o financiamento da organização para cerca de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB).
O compromisso da Europa em investir mais na sua indústria de defesa "deverá ajudar a NATO a fortalecer-se, porque será uma relação mais equilibrada", defendeu, adiantando que as economias dos dois lados do Atlântico também "se tornarão mais semelhantes, porque os EUA investem muito na indústria de defesa".
Os EUA "veem a defesa como uma fonte de inovação", mas acho que, "na Europa, a defesa tem sido vista como dinheiro que não enriquece as pessoas. Isso tem de ser mudado", insistiu.
Apesar de esta questão já ter levado Donald Trump a ameaçar sair da NATO, o diplomata mostra-se otimista.
"O Presidente Trump não gosta de alianças e vai fazer barulho sobre querer sair. Mas o meu palpite é que as coisas fundamentais que nos mantêm unidos o manterão [na aliança]", disse.
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