"Poderemos até falar como é que o podemos fazer de uma forma mais veemente, agora não posso obrigar o Governo [a recuar no aumento da capacidade do aeroporto]. Posso influenciar, posso estar presente, posso dizer que não, e tenho-o feito cada vez que estou com algum membro do Governo, em particular até com o senhor primeiro-ministro [Luís Montenegro, do PSD], refiro este tema e a preocupação para os lisboetas", afirmou o social-democrata Carlos Moedas.
Em reunião pública da câmara, o PCP apresentou uma moção "contra as obras no Aeroporto Humberto Delgado (AHD) que permitem um aumento da capacidade de movimentação de aeronaves", que foi subscrita por todos os membros do executivo, inclusive da liderança PSD/CDS-PP (que governa sem maioria absoluta).
Sobre o mesmo tema, o PS propôs um voto de repúdio pela expansão da capacidade do AHD e pela "inércia" da liderança da Câmara Municipal de Lisboa (CML), tendo a proposta sido viabilizada com os votos contra de PSD/CDS-PP.
Na apresentação do voto, o vereador do PS Pedro Anastácio lembrou a posição unânime assumida pela câmara em setembro de 2024, através de uma moção, em que a autarquia recusou liminarmente qualquer aumento da capacidade aeroportuária do AHD, face aos impactos já nessa altura "muito significativos para a saúde pública, o ambiente e a qualidade de vida dos lisboetas".
Em causa está a decisão do Governo de PSD/CDS-PP de avançar com obras para a expansão da capacidade do AHD, aumentando os movimentos por hora de 38 para 45.
Na perspetiva do PS, o presidente da CML, depois de subscrever a moção aprovada em setembro, "nada fez nem disse" após o anúncio das obras de expansão por parte do Governo.
Além de repudiar a atitude de "inércia e ausência de intervenção pública" por parte de Carlos Moedas, o voto do PS condena a "incapacidade política" do autarca do PSD para influenciar o Governo e exige que a CML adote, com urgência, todas as diligências legais e institucionais ao seu alcance, inclusive se oponha à emissão de Declaração de Impacte Ambiental pela APA - Agência Portuguesa do Ambiente, "para proteger os interesses da cidade e dos lisboetas".
Quanto à moção proposta pelo PCP, a câmara deliberou "repudiar veementemente" a intenção do Governo de avançar com obras que visem o aumento da capacidade do AHD, reafirmando o conteúdo integral do posicionamento tomado em setembro e instando o Governo a que o respeite.
Outro dos pontos é para mandatar o presidente da câmara para "interceder, com caráter de urgência, junto do Governo", no sentido de assegurar a reversão do plano de obras de expansão no AHD.
No âmbito do debate sobre o tema, o PS considerou que a moção do PCP "é uma boia de salvação para Carlos Moedas", ideia recusada pelos comunistas, que assinalaram a mudança de posição do autarca do PSD quanto ao aeroporto e exigiram uma atitude "mais interventiva" na defesa dos interesses da cidade.
O social-democrata reforçou que a sua posição está em linha com a do PCP: "Não querer voos noturnos, não querer um aumento de capacidade neste aeroporto. Queremos um outro aeroporto".
Quanto ao voto de repúdio do PS, Carlos Moedas disse que é uma proposta "que não é fácil de acompanhar", porque é "do contra, de um bloco do contra", lembrando que em anteriores mandatos os socialistas defenderam "exatamente o contrário" do que agora exigem.
O executivo da Câmara de Lisboa, que é composto por 17 membros, integra sete eleitos da coligação Novos Tempos - PSD/CDS-PP/MPT/PPM/Aliança, três do PS, três dos Cidadãos Por Lisboa, dois do PCP, um do Livre e um do BE.
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