Desde que o Presidente norte-americano, Donald Trump, iniciou funções em janeiro passado, no seu regresso à Casa Branca, que prometeu usar tarifas adicionais sobre vários territórios como "arma" nesta guerra comercial, o que acabou por se concretizar relativamente à UE em março.
Apesar de a Comissão Europeia - que detém a política comercial da UE - sempre se ter demonstrado pronta para "combater", não alcançou o resultado pretendido, que era de zero tarifas entre o bloco comunitário e os Estados Unidos.
Em vez disso, no domingo, estas tensões foram amenizadas com um acordo comercial que fixa em 15% as tarifas aduaneiras norte-americanas sobre os produtos europeus, prevendo também o compromisso da UE sobre a compra de energia norte-americana no valor de 750 mil milhões de dólares (cerca de 642 mil milhões de euros), o investimento de 600 mil milhões adicionais (514 mil milhões de euros) e um aumento das aquisições de material militar.
Diplomatas em Bruxelas viram este acordo como as "tarifas mais baixas possíveis" e uma "oportunidade para estabilizar as relações transatlânticas", dado que UE e Estados Unidos são os maiores parceiros comerciais do mundo, mas a ambição europeia era maior, de tarifas zero para bens industriais, como a Comissão Europeia chegou a propor.
Foi possível alcançar uma tarifa única de 15% sobre a maioria dos bens exportados para os Estados Unidos, em vez dos 30% ameaçados por Donald Trump, isentando setores estratégicos como semicondutores, componentes aeroespaciais e certos produtos farmacêuticos.
Eis uma cronologia com os principais acontecimentos dos últimos meses:
20 de janeiro
O republicano Donald Trump inicia funções no seu segundo mandato à frente da Casa Branca.
Dias depois, anuncia tarifas 25% sobre produtos do Canadá e México e 10% sobre produtos da China.
União Europeia foi mencionada, mas não foi taxada. Bloco comunitário reage com preocupação por ameaça de ser visado em setores como aço, alumínio, maquinaria e automóveis.
12 de março
Estados Unidos aplicam tarifas de 25% sobre aço e de 10% sobre o alumínio para todos os países, incluindo a UE, como já havia acontecido no primeiro mandato de Donald Trump.
A UE anuncia retaliações equivalentes, mas suspende-as por 90 dias, dando margem para negociações.
13 de março
Donald Trump ameaça impor tarifa de 200% sobre vinhos e bebidas europeias. A UE estuda uma resposta proporcional e fala em incompatibilidade com a Organização Mundial do Comércio (OMC), apesar de preferir via negocial.
26 de março
Donald Trump impõe tarifa de 25% sobre automóveis importados e peças automóveis provenientes da União Europeia.
02 de abril
Entra em vigor percentagem de 25% dos Estados Unidos aos carros da UE.
Trump apresenta um programa de tarifação recíproca global, incluindo 20% sobre as importações provenientes da UE, a aplicar a partir do dia 09 de abril.
07 de abril
Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anuncia ter proposto tarifas zero para bens industriais nas trocas comerciais entre a UE e os Estados Unidos e estar a ouvir as empresas comunitárias para adotar contramedidas comunitárias.
09 de abril
Donald Trump anuncia a suspensão por 90 dias da aplicação das novas taxas aduaneiras a mais de 75 territórios, enquanto decorrem negociações comerciais, nomeadamente à UE.
10 de abril
Comissão Europeia saúda anúncio dos Estados Unidos e suspende oficialmente todas as medidas retaliatórias sobre tarifas do aço e alumínio por 90 dias, apelando ao regresso ao acordo de quotas de 2021.
11 de abril
Comissão Europeia divulga primeiras avaliações económicas de tarifas norte-americanas à UE.
Cálculos do executivo comunitário dão conta de que os novos direitos aduaneiros norte-americanos implicam perdas de 0,8% a 1,4% no Produto Interno Bruto (PIB) até 2027, sendo esta percentagem de 0,2% do PIB no caso da UE.
No pior cenário, isto é, se os direitos aduaneiros forem permanentes ou se houver outras contramedidas, as consequências económicas serão mais negativas, de até 3,1% a 3,3% para os Estados Unidos e de 0,5% a 0,6% para a UE.
Em termos globais, o executivo comunitário estima uma perda de 1,2% no PIB mundial e uma queda de 7,7% no comércio mundial em três anos.
Na altura, falava-se de taxas de 25% ao aço, alumínio e automóveis europeus e de 20% em tarifas recíprocas ao bloco comunitário.
14 de abril
Comissão Europeia suspende oficialmente contramedidas da União Europeia para responder às tarifas aduaneiras impostas pelos Estados Unidos ao aço e alumínio comunitários até 14 de julho para permitir negociações.
08 de maio
Comissão Europeia propõe lista de bens industriais e agrícolas dos Estados Unidos, num valor de 95 mil milhões de euros, para taxar caso as negociações com Washington não resultem, preparando ainda um litígio na OMC.
23 de maio
Trump anuncia tarifas recíprocas de 50% sobre bens da UE, com vigência prevista para 01 de junho e depois adiada para 09 de julho.
Executivo comunitário começa a alistar bens norte-americanos para retaliar.
09 de julho
Data de prazo informal estabelecido pelos Estados Unidos para negociações sobre tarifas recíprocas, depois adiado.
Nada acontece e administração norte-americana começa a focar-se noutro prazo, o de 01 de agosto.
12 de julho
Donald Trump Trump anuncia oficialmente tarifas recíprocas de 30% sobre bens da UE (e do México) com início a 01 de agosto, baixando a percentagem que era de 50%.
14 a 21 de julho
UE intensifica preparativos de retaliação, mas acentua esforços de negociação (ao nível técnico e político) para um acordo preliminar.
Diálogo continua e surgem primeiras indicações de convergência para uma tarifa de 15%.
24 de julho
Comissão Europeia adota pacote total de retaliação orçado em 93 mil milhões de euros.
Em meados de julho, o executivo comunitário propôs uma lista de bens importados dos Estados Unidos, num total de 72 mil milhões de euros, para taxar caso a administração norte-americana imponha tarifas recíprocas.
Em causa estão 6,4 mil milhões de euros em produtos agroalimentares e 65,8 mil milhões de euros em bens industriais, entre os quais aeronaves e peças de aeronaves, automóveis e respetivas peças, maquinaria, produtos químicos e plásticos, dispositivos médicos e equipamento elétrico.
Este foi um segundo pacote que se seguiu ao primeiro de 21 mil milhões de euros, divulgado em março e concebido como resposta às tarifas norte-americanas sobre o aço e o alumínio.
Ao todo, a UE preparou-se para impor tarifas de retaliação sobre bens dos Estados Unidos no valor de 93 mil milhões de euros.
27 de julho
Donald Trump e Ursula Von der Leyen reúnem-se no 'resort' de golfe do republicano em Turnberry, no sudeste da Escócia.
Anunciam acordo comercial que evita acentuada guerra comercial.
As partes acordam que os Estados Unidos vão aplicar uma tarifa de 15% sobre a maioria das exportações da UE, em vez dos 30% ameaçados, excetuando-se produtos estratégicos (aeronaves e componentes, produtos químicos, drogaria genérica, equipamento semicondutor), com tarifas zero bilaterais.
As tarifas sobre o aço e alumínio permanecem, mas serão substituídas por um sistema de quotas.
O acordo ainda é preliminar e não totalmente oficial, com detalhes pendentes.
Leia Também: Maros Sefcovic: Acordo é melhor do que guerra comercial com EUA