Construído pelo Fundo de Fomento da Habitação, depois extinto, o bairro esteve sob alçada do Instituto de Gestão e Alienação do Património Habitacional do Estado, também extinto, passando, em 2005, para a posse da NHC (Social) -- Cooperativa de Solidariedade, com sede em Lisboa.
O bairro é composto por 26 edifícios com 208 fogos no total (de tipologia T2 a T4), revelou à agência Lusa Albertina Mateus, membro da direção da NHC, cooperativa criada em 1999 para desenvolver projetos sociais, sobretudo na área da habitação.
Dos 208 fogos, nove são do Município de Leiria e 53 de propriedade individual.
Albertina Mateus explicou que o objetivo inicial do bairro foi "responder à pressão sentida pela chegada de muitas famílias provenientes das ex-colónias, neste caso, maioritariamente de Angola, mas também serviu para realojar algumas famílias não retornadas, principalmente vindas das ilhas e moradoras já na zona de Leiria".
Segundo os dados da NHC, nos 146 fogos da cooperativa vivem 340 pessoas a que se somam uma estimativa de mais 200 pessoas nos restantes 62 fogos.
"Cerca de metade das famílias ainda têm algo a ver com os retornados, ou são os moradores originais ou os filhos. As restantes famílias já têm sido realojadas por serem carenciadas", referiu Albertina Mateus.
Dados da NHC indicam que nos fogos da cooperativa moram 70 crianças e jovens até aos 18 anos. Já adultos até aos 64 anos são 188, morando também 82 pessoas maiores de 65 anos que "ainda são, na quase totalidade, angolanos".
"Atualmente, verifica-se uma procura crescente por parte de retornados venezuelanos, de origem madeirense", adiantou esta responsável, notando que cinco famílias já foram realojadas pela cooperativa, assim como de "imigrantes, mormente brasileiros, e ainda por parte de muitos idosos que se veem despejados por parte de muitos proprietários que lhes exigem rendas que as suas fracas reformas não comportam".
Albertina Mateus descreveu o bairro como "multicultural, de gente trabalhadora, afável, simpática e que gosta de viver no bairro", considerando que o estigma que pesou sobre o bairro, devido a problemas sociais que potenciaram uma imagem negativa, "vai-se diluindo e está em vias de ser ultrapassado".
Sobre os desafios que a NHC tem no bairro, a dirigente apontou, "em primeiro lugar, o apoio às famílias que mais necessidade têm de ajuda", encaminhando-as "para o emprego e solicitando o apoio de organizações parceiras tendo em vista a sua formação", para reconhecer ainda "a existência de um ou dois focos de dependência".
"Do ponto de vista do edificado, após a reabilitação exterior no sentido de dar maior conforto térmico e acústico aos edifícios, e de, diariamente acorrermos a situações solicitadas pelos moradores, tentamos, agora, reabilitar profundamente o interior dos edifícios, aproveitando os apoios dos fundos europeus", adiantou Albertina Mateus.
De acordo com a responsável, a candidatura ao Plano de Recuperação e Resiliência está aprovada, mas suspensa "por falta de tempo útil" para a concretizar até 2026, pelo que se aguardam "instruções sobre novas possibilidades de apoio".
A vereadora da Câmara de Leiria Ana Valentim acrescentou que se trata de um bairro "eclético", de "várias nacionalidades e várias dimensões sociais".
No local, a autarquia desenvolve o projeto "Viver Melhor".
"É um projeto de intervenção comunitária, que tem como objetivo criar um espaço de convívio, lazer e atividade física, e dar a conhecer à população residente redes de suporte social. O projeto está muito focado para a população idosa, nomeadamente para prevenir o isolamento", esclareceu Ana Valentim.
Este programa, lançado em 2002, visava então promover o exercício da cidadania e melhorar a imagem do bairro junto da comunidade exterior e dos seus membros, tendo depois registado um interregno até ser reativado no final de 2018.
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