"Ficou evidente que temos de manter a nossa rica história deste nosso partido que é ator incontornável no panorama político nacional (...). Manter a Renamo unida não custa para continuarmos a ganhar eleições", disse o líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), Ossufo Momade, em declarações no encerramento, na noite de quarta-feira, em Maputo, da conferência nacional da Associação dos Combatentes da Luta pela Democracia (Acolde), divulgadas entretanto pelo partido.
A conferência nacional da Acolde da Renamo foi convocada "com caráter de urgência", em 23 de maio, pela comissão política do partido, após mais de meia centena de antigos guerrilheiros terem acampado na sede para forçar a demissão de Ossufo Momade por alegada "má gestão", falta de pagamento de pensões e subsídios e falta do fundo de funcionamento da formação política.
O grupo instalou-se na sede da Renamo na cidade de Maputo, capital de Moçambique, em 15 de maio, mas foi retirado a 28, com recurso a tiros e gás lacrimogéneo pela Unidade de Intervenção Rápida moçambicana, pouco horas depois de ocupar também o gabinete do presidente da agora terceira força parlamentar.
Ao dirigir-se aos antigos guerrilheiros, Ossufo Momade voltou a criticar o encerramento da sede e delegações do partido, classificando as ações como "ilegítimas" e pediu fim de tido o que, disse, promove discórdia dentro da formação.
"Se o nosso desejo é o crescimento e manter o funcionamento normal do partido, como é que vamos atingir esse objectivo com as delegações e a sede nacional fechada? Por isso preciso virar a página e trazer a Renamo unida", disse Ossufo Momade.
"Sobre a situação política do partido, foi um pensamento unânime de que alguns comportamentos não nos vão ajudar no crescimento e fortalecimento do nosso partido, abrem portas para nossos opositores políticos para nos fragilizarem (...). Ficou claro que esta maneira de resolver os problemas está longe de qualquer solução e vai enfraquecer o partido", acrescentou o líder da Renamo.
Na quarta-feira, na abertura deste encontro, Ossufo Momade disse que o encerramento das delegações e ocupação da sede pelos antigos guerrilheiros é uma "grosseira afronta" aos princípios do partido moçambicano, na sua primeira aparição pública em mais de três meses.
"Os acontecimentos mais recentes dentro do partido, envolvendo pretensos desmobilizados, não só preocupam a liderança do partido, os membros e simpatizantes, os moçambicanos em geral, como representam uma grosseira afronta aos princípios mais elementares da democracia e da Renamo", disse.
Ossufo Momade assumiu a presidência da Renamo em janeiro de 2019, após a morte de Afonso Dhlakama (1953 --2018) e foi reeleito para o cargo em maio de 2024, num processo fortemente contestado internamente.
A Renamo perdeu o estatuto da segunda força política mais votada nas eleições gerais de 09 de outubro, passando de 60 deputados, que obteve nas legislativas de 2019, para 28 parlamentares.
Momade foi candidato presidencial nas eleições gerais de 09 de outubro de 2024, obtendo 6% dos votos, o pior resultado de um candidato apoiado pelo partido, que foi a principal força de oposição em Moçambique desde as primeiras eleições em 1994.
Durante 16 anos, Moçambique viveu uma guerra civil, que opôs o exército governamental e a Renamo, tendo terminado com a assinatura do Acordo Geral de Paz, em Roma, em 1992, entre o então Presidente, Joaquim Chissano, e Afonso Dhlakama, líder histórico da Renamo, abrindo-se, assim, espaço para as primeiras eleições, dois anos depois.
Leia Também: Moçambique. Vandalização deixa parte da cidade Chimoio sem eletricidade