Mahmoud Khalil, o ativista pró-palestiniano da Universidade de Columbia que foi detido por agentes federais de imigração a 8 de março, em Nova Iorque, e transferido para um centro de detenção de imigrantes em Jena, no Louisiana, denunciou o tratamento por parte do governo dos Estados Unidos e deu conta dos “danos irreparáveis” que a sua detenção teve na sua família.
“Sofri – e continuo a sofrer – como consequência das ações do governo contra mim. […] Os danos mais imediatos e viscerais que sofri estão diretamente relacionados com o nascimento do meu filho, Deen. Em vez de segurar a mão da minha esposa na sala de parto, estava agachado no chão de um centro de detenção, sussurrando através de uma linha telefónica crepitante, enquanto ela dava à luz, sozinha”, lamentou o estudante argelino de 30 anos, numa carta incluída no processo para uma injunção preliminar no seu processo federal, divulgada na quinta-feira pelos meios norte-americanos.
O jovem, que é residente legal nos Estados Unidos, detalhou ainda como ouviu “a dor dela, tentando confortá-la enquanto outros 70 homens dormiam ao [seu] redor”.
“Quando ouvi os primeiros gritos do meu filho, enterrei o rosto nos meus braços, para que ninguém me visse chorar", confessou.
Khalil condenou também as alegações “grotescas e falsas” feitas contra si por parte da Casa Branca e do presidente Donald Trump, depois de ter participado em manifestações pró-palestinianas naquela universidade nova-iorquina.
O estudante apontou ainda que a sua família foi alvo de assédio, na sequência das alegações “profundamente racistas” que o rotularam como uma “preocupação da política externa dos EUA” e como apoiante do Hamas.
O jovem revelou, inclusive, que tinha aceitado um cargo na Oxfam International como conselheiro político, mas a oferta de emprego foi revogada.
“Acredito firmemente que a decisão de Rubio, a minha prisão e detenção - e o estigma público que se seguiu - desempenharam um papel significativo nesta decisão. Não fiquei surpreendido; papéis como este dependem da nossa reputação”, disse.
Os advogados de Khalil contestaram a legalidade da sua detenção, dizendo que a administração de Donald Trump está a tentar reprimir a liberdade de expressão.
A detenção de Khalil pelas autoridades federais de imigração foi a primeira de um número crescente de tentativas de deportação de estudantes estrangeiros que se juntaram a protestos pró-palestinianos ou expressaram críticas a Israel.
Embora a administração Trump tenha sugerido que o papel de Khalil como porta-voz dos manifestantes provou que o jovem estava "alinhado com o Hamas", não se conhecem provas dessa alegação.
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