Segundo o ministro da Defesa, o que Yair Golan fez foi um "libelo de sangue", uma acusação histórica que esteve na base da perseguição de judeus na Europa, e que alegava que os judeus assassinavam crianças cristãs (ou não judias) para usarem o sangue das vítimas sacrificadas em rituais religiosos.
Golan, que detém o posto de major-general e foi vice-chefe do Estado-Maior do Exército entre 2014 e 2017, depois de ter ocupado vários cargos de alto nível nas Forças de Defesa de Israel (FDI) nos anos anteriores, passa agora a estar proibido de usar uniforme ou de entrar em bases militares.
"As graves declarações de Golan serão utilizadas pelos inimigos de Israel para continuar a interpor processos contra os soldados das FDI em todo o mundo e para apelar aos tribunais, incluindo aos internacionais, que os prendem e privem da sua liberdade", disse Israel Katz numa mensagem publicada nas redes sociais.
"Como ministro da Defesa, responsável pelo bem-estar dos soldados, não posso ignorar isto", acrescentou, afirmando que "não há lugar para pessoas como Golan na vida pública".
O ministro adiantou ainda esperar que "todos os representantes públicos, de esquerda e de direita, o condenem e se distanciem da sua conduta".
Katz anunciou ainda que apoiará o projeto de lei apresentado ao parlamento, no qual a coligação governamental detém a maioria, para autorizar o ministro da Defesa a destituir os oficiais de reserva das suas patentes por declarações e comportamentos "deste tipo".
Golan respondeu de imediato ao anúncio de Katz, lembrando que "a última vez que usou o uniforme das FDI foi a 07 de outubro [de 2023]", referindo-se ao dia dos ataques realizados pelo Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) e outras fações palestinianas, que deram origem à atual guerra em Gaza.
"Fui para o sul para resgatar civis após a terrível falha de segurança do vosso Governo", afirmou, numa mensagem enviada a Katz nas redes sociais.
"Prometo que continuarei a fazer tudo o que puder por Israel e pela sua segurança e tenho a certeza de que [Katz] continuará a bajular [o primeiro-ministro israelita, Benjamin] Netanyahu e a sua máquina de veneno", sublinhou.
O líder da oposição disse, na terça-feira, numa entrevista à estação pública israelita Kan, que "Israel está a caminho de se tornar um Estado pária, como foi a África do Sul [durante o 'apartheid'], caso não volte a comportar-se como um país sensato".
"Um país sensato não luta contra civis, não mata bebés por diversão e não tem como objetivo expulsar a população [de Gaza]", acrescentou.
Os comentários de Golan levaram Benjamin Netanyahu a acusá-lo de espalhar "libelos de sangue" e de "incitação contra soldados heroicos e contra o Estado de Israel".
As FDI "são o exército mais moral do mundo e os nossos soldados estão a travar uma campanha pela nossa existência", garantiu o primeiro-ministro israelita.
Vários ministros, incluindo o da Segurança Nacional, o da Defesa e o dos Negócios Estrangeiros, bem como vários responsáveis da oposição, juntaram-se às críticas, repudiando as declarações de Golan e defendendo o trabalho do Exército na ofensiva de Gaza.
Alguns pediram mesmo ao líder da oposição para se retratar e pedir desculpa, algo que Golan se recusou a fazer, argumentando que as suas críticas eram dirigidas ao Governo e não às FDI.
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