A esposa do CEO da OceanGate, Stockton Rush, reagiu à implosão do Titan sem saber, de acordo com imagens que constam do documentário da BBC ‘Implosion: The Titanic Sub Disaster’ [‘Implosão: O desastre do submersível do Titanic’, em tradução livre], com estreia marcada para 27 de maio.
"O que foi aquele estrondo?", questionou Wendy Rush, num vídeo obtido pela Guarda Costeira dos Estados Unidos (USCG, na sigla em inglês).
As imagens foram submetidas como prova ao Conselho de Investigação da Marinha da USCG, que passou os últimos dois anos a investigar a falha catastrófica do submarino.
Wendy Rush, que dirigia a empresa com o marido, encontrava-se sentada em frente a um computador usado para receber e enviar mensagens ao submersível, no navio de apoio Polar Prince, enquanto o Titan mergulhava rumo aos destroços do Titanic.
Quando o submarino atingiu uma profundidade de cerca de 3.300 metros, ouviu-se um ruído semelhante a uma porta a bater. Wendy questionou, então, os outros membros da tripulação quanto à origem barulho. Instantes depois, recebeu uma mensagem de texto do submersível, indicando que tinha deixado cair dois pesos, pelo que julgou, erradamente, que a expedição estava a decorrer como seria esperado.
Contudo, e de acordo com a USCG, o ruído era, de facto, o Titan a implodir. A mensagem de texto, que provavelmente foi enviada imediatamente antes da falha catastrófica, demorou mais tempo a chegar ao navio do que o som da implosão.
A Guarda Costeira revelou também que as camadas de fibra de carbono do casco começaram a partir-se e a separar-se na 80.ª expedição, que tinha ocorrido um ano antes do desastre, devido a um processo chamado delaminação.
Na altura, os passageiros também relataram terem ouvido um estrondo quando o Titan regressou à superfície, mas Rush assegurou que era apenas a estrutura do submarino a adaptar-se à pressão. No entanto, os dados recolhidos pela Guarda Costeira indicam que o ruído foi provocado pela delaminação do submersível.
"A delaminação no mergulho 80 foi o princípio do fim. Todos os que embarcaram no Titan depois do mergulho 80 estavam a arriscar a vida", alertou a tenente comandante Katie Williams.
A Guarda Costeira deu ainda conta de que encontrou roupas do CEO da OceanGate, cartões de visita e autocolantes do Titanic entre os destroços do Titan. No final do ano, será publicado um relatório com as conclusões da investigação, que visa não só identificar o que correu mal, como também evitar que um desastre semelhante volte a ocorrer.
Recorde o caso (e as críticas)
O incidente tirou a vida ao empresário e explorador Hamish Harding, ao empresário paquistanês Shahzada Dawood e ao filho, Suleman Dawood, ao CEO da OceanGate, Stockton Rush, e ainda ao especialista no Titanic Paul-Henri Nargeolet.
Apesar da esperança de que os tripulantes pudessem estar vivos, depois de sons subaquáticos terem sido detetados, a operação contrarrelógio teve um final trágico ao fim de cinco dias, com a localização de escombros que correspondiam à parte exterior do submersível na área dos destroços do Titanic.
No final de junho de 2023, as autoridades canadianas recolheram os destroços do submersível no porto de St. John’s, numa operação que contou também com o apoio da Guarda Costeira dos Estados Unidos.
Mais tarde, o organismo revelou que foram encontrados possíveis "restos mortais" nestes componentes do Titan, que seriam analisados por uma equipa médica.
De notar que James Cameron, o diretor do filme 'Titanic' que desenhou submarinos capazes de atingir uma profundidade três vezes superior à do Titan, equacionou que os críticos de Stockton Rush estavam corretos ao denunciar que um casco de fibra de carbono e titânio permitiria a entrada microscópica de água, levando a uma falha progressiva do veículo ao longo do tempo. Contudo, o CEO da OceanGate acreditava que a fibra de carbono teria uma relação força-flutuabilidade melhor do que o titânio.
Sublinhe-se ainda que, em 2018, um funcionário da OceanGate foi demitido por ter alertado para preocupações com o controlo de qualidade do Titan, tendo sido acusado pela empresa de quebra de contrato, fraude e apropriação indevida de segredos comerciais. O homem recusou as acusações e processou a entidade, num processo que foi resolvido fora do tribunal
Já em 2021, a OceanGate assegurou que o submersível "foi construído e projetado em consulta com engenheiros e fabricantes especializados", além de incluir "vários sistemas de segurança".
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