Na quarta-feira, 42 pessoas, "a maioria mulheres e crianças", foram mortas em Mandakao, na região de Logone-Occidental (sudoeste), de acordo com o sistema de justiça chadiano, que suspeita que Succès Masra tenha provocado o massacre.
No entanto, a mensagem apresentada pelos tribunais para incriminar o ex-primeiro-ministro Succès Masra remonta a maio de 2023.
"Ainda estamos à espera de provas destas acusações contra o nosso cliente. Não nos podem apresentar esta alegada gravação de áudio que data de há vários anos", indicou à AFP Ndordji Allatan.
Além disso, de acordo com o seu colega Francis Kadjilembaye, "nada no áudio pode constituir um delito".
Segundo a tradução francesa do áudio na língua ngambaye, o ex governante diz: "Vamos ensinar-nos uns aos outros a usar uma arma de fogo, seja menina ou menino, mulher ou homem... sejamos todos escudos protetores".
Para os advogados, trata-se de um apelo à autodefesa do povo do sul do Chade, vítima de atrocidades.
"Se apelamos à autodefesa, é porque o governo falhou. O governo está a falhar", disse Ndorji Allatan.
"Nem sequer sabemos se o áudio é de Masra [...]. São os membros do governo que dizem que ele é autenticado, mas autenticado como", questionou, por outro lado, Francis Kadjilembaye.
"O coletivo deseja informar a opinião nacional e internacional de que esta detenção é altamente ilegal", lê-se ainda num comunicado do grupo de advogados que defende o ex-primeiro-ministro Succès Masra.
Os advogados, que reconhecem não ter tido ainda acesso aos autos, reservam-se ao direito de denunciar eventuais erros processuais durante o julgamento.
O ex-primeiro-ministro e líder do partido da oposição Transformers (de janeiro a maio de 2024) é suspeito de "incitamento ao ódio, revolta, formação e cumplicidade de gangues armados, cumplicidade em assassinato, incêndio, profanação de túmulos".
O sul é, segundo as Nações Unidas, a zona mais afetada pelos conflitos intercomunitários resultantes da "difícil convivência entre agricultores e pastores devido à escassez de pastagens e de áreas agrícolas".
O país parece por vezes dividido entre os grupos étnicos do sul, principalmente cristãos e animistas, e alguns grupos muçulmanos do norte com os primeiros a acusarem os segundos de acumularem poder e riqueza.
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