Cancro da pele: A importância da prevenção e os mitos associados à doença

Em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, a dermatologista Beatriz Vilela discute o aumento dos casos de cancro da pele em Portugal, os principais mitos e verdades sobre a doença, e a importância da prevenção e deteção precoce.

cancro da pele

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Mariana Moniz
23/07/2025 08:54 ‧ ontem por Mariana Moniz

Lifestyle

Cancro da pele

Chegaram os dias longos, os fins de semana na praia, os mergulhos à hora do almoço e as férias em família - mas também chegou uma das épocas mais críticas para a saúde da pele.

 

Num país com mais de 300 dias de sol por ano e onde o verão é sinónimo de ar livre, a exposição solar excessiva continua a ser um dos comportamentos mais negligenciados. Todos os anos, surgem cerca de 12 mil novos casos de cancro da pele em Portugal - e o número continua a crescer.

Para obter mais respostas acerca deste assunto, o Lifestyle ao Minuto entrevistou Beatriz Vilela, dermatologista na Unidade Local de Saúde de São José - Hospital de Santo António dos Capuchos, em Lisboa. Além de alertar sobre os principais cuidados a ter com a pele, a especialista apresentou ainda cinco mitos que existem relativamente ao cancro da pele.

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Adriano Guerreiro | 09:00 - 03/07/2025

"O cancro da pele surge quando as células da pele crescem de forma descontrolada, formando tumores malignos", começou por explicar. "Existem dois grandes grupos: o Melanoma e o Cancro de Pele Não-Melanoma (como o carcinoma basocelular e o carcinoma espinocelular), que se distinguem pelas células onde têm origem e pelas suas características específicas". 

"Ao contrário dos outros tumores da pele, que estão associados sobretudo à exposição solar crónica e cumulativa (como o carcinoma basocelular), o risco de desenvolver melanoma está mais relacionado com queimaduras solares (escaldões), especialmente na infância e adolescência, e com exposição solar intensa e intermitente, como nas idas ocasionais à praia ou à piscina sem proteção adequada", acrescentou.

O melanoma, a forma mais grave de cancro da pele, pode ter mais de 90% de taxa de cura, se for diagnosticado cedo. Mas quando os sinais são ignorados, o prognóstico muda drasticamente. Posto isto, quais são os principais riscos?

"O melanoma pode tornar-se fatal. O principal risco associado à sua progressão é a sua capacidade de metastizar, ou seja, de se espalhar para outros órgãos. Se for detetado numa fase inicial, é frequentemente curável. No entanto quando o diagnóstico é tardio, o risco de disseminação aumenta e o tratamento torna-se mais complexo. É por isso que o reconhecimento precoce dos sinais de alarme é essencial", realçou Beatriz Vilela na nossa entrevista.

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Questionámos a dermatologista sobre os principais comportamentos negligenciados pelas pessoas no que toca à prevenção do cancro da pele, nomeadamente no verão. O mais habitual é a exposição solar sem proteção.

"É comum a ideia de que 'bronzeado é sinal de saúde'. Na verdade, o bronzeado é uma resposta de defesa da pele contra a agressão dos raios UV. Quando a pele escurece, está a tentar proteger o seu ADN dos danos causados pela radiação solar, ou seja, o bronzeado é um sinal de dano. Não existe bronzeado seguro, é sempre sinal de maior risco de cancro de pele e de envelhecimento precoce", revelou.

Já no que diz respeito ao uso do protetor solar, Beatriz Vilela apontou três erros que são bastante comuns entre os portugueses. 

  • Não usar protetor solar ou escolher um fator baixo. O recomendado é um protetor de largo espetro (UVA e UVB) com FPS 50;
  • Não reaplicar. O protetor deve ser reaplicado de 2 em 2 horas, ou após nadar ou transpirar;
  • Achar que o protetor solar é suficiente. O protetor solar é uma ajuda, não uma solução isolada. É sempre preciso complementar com medidas como evitar o sol entre as 11h e as 16h, usar chapéu, roupa protetora e procurar sombra.

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Já se sabe que o verão é "a época de maior risco" para a nossa pele. Contudo, pode também ser a melhor época para prevenir e detetar sinais suspeito. "Como estamos mais expostos e com a pele mais à vista, é também uma boa altura para observar alterações suspeitas. Mas a vigilância deve ser feita durante todo o ano, porque o cancro da pele pode surgir em qualquer estação", elucidou.

Mas então, o que podemos fazer para identificar alterações suspeitas e como deve ser feita essa autoavaliação? "Devemos observar a pele de forma regular e de forma sistematizada. Procurar sinais que mudaram de forma, cor ou tamanho, ou que começaram a sangrar, formar crosta ou que não cicatrizaram", são algumas das maneiras.

Porém, Beatriz Vilela revelou ainda uma outra forma de reconhecer lesões suspeitas - A chamada 'regra do ABCDE' que implica:

  • Assimetria;
  • Bordos irregulares;
  • Cor variável;
  • Diâmetro superior a 6 mm;
  • Evolução ao longo do tempo;

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Outra questão importante que Vilela fez questão de referir, é a forma como se encara o trabalho de um dermatologista, visto que, muitas vezes, este profissional "é confundido com um especialista de estética".

"O dermatologista é o médico que melhor conhece a pele e que está treinado para reconhecer precocemente sinais de cancro", esclareceu. "Pode parecer um sinal inofensivo, mas um diagnóstico feito a tempo pode salvar vidas. O acompanhamento dermatológico deve ser visto como uma medida fundamental".

Para concluir, Beatriz Vilela apresentou alguns dos principais mitos que existem relativamente ao cancro da pele.

Mito 1: Lâmpadas solares e câmaras de bronzeamento (solários) são mais seguras do que o sol

Desmistificação: Estas fontes artificiais de radiação UV não são mais seguras do que a luz direta do sol. Pelo contrário, as lâmpadas solares e as cabines de bronzeamento (solários) causam danos na pele e aumentam o risco de melanoma. A exposição a estas fontes artificiais deve ser evitada.

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Mito 2: O protetor solar oferece proteção total e é a medida principal para evitar o cancro da pele

Desmistificação: É importante notar que a proteção que os protetores solares conferem é limitada. Por isso, devem ser pensados como uma medida de proteção extra e não como medida de proteção principal. A proteção eficaz exige o uso de protetor solar de largo espetro (que filtre UVA e UVB) com FPS 50, reaplicado de duas em duas horas ou após o banho, mas deve ser complementado por outras medidas, como evitar o sol entre as 11h e as 16h, usar chapéu, vestuário de proteção e procurar a sombra.

Mito 3: Apenas pessoas de pele clara correm risco de desenvolver cancro da pele

Desmistificação: É verdade que pessoas com pele clara, olhos claros e sardas têm maior risco, mas ninguém está imune. Pessoas com pele mais escura também podem desenvolver cancro da pele, e muitas vezes o diagnóstico é feito mais tarde por passar despercebido.

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Mito 4: Os protetores solares reduzem a produção de Vitamina D

Desmistificação: A radiação solar tem um papel importante na síntese de vitamina D, contudo bastam alguns minutos de exposição por dia para que ocorra a sua síntese. Nenhum protetor solar é capaz de filtrar toda a radiação que atinge a pele e, por isso, não afeta de forma significativa a síntese da vitamina D.

Mito 5: Não precisamos de colocar protetor solar no inverno nem em dias nublados

Desmistificação: A radiação UV está presente todo o ano, mesmo nos meses de inverno. As nuvens conseguem diminuir a intensidade da luz solar que chega até nós, no entanto, cerca de 80% dos raios UV conseguem atravessá-las. Como tal, é fundamental usar proteção solar diariamente.

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