Chegaram os dias longos, os fins de semana na praia, os mergulhos à hora do almoço e as férias em família - mas também chegou uma das épocas mais críticas para a saúde da pele.
Num país com mais de 300 dias de sol por ano e onde o verão é sinónimo de ar livre, a exposição solar excessiva continua a ser um dos comportamentos mais negligenciados. Todos os anos, surgem cerca de 12 mil novos casos de cancro da pele em Portugal - e o número continua a crescer.
Para obter mais respostas acerca deste assunto, o Lifestyle ao Minuto entrevistou Beatriz Vilela, dermatologista na Unidade Local de Saúde de São José - Hospital de Santo António dos Capuchos, em Lisboa. Além de alertar sobre os principais cuidados a ter com a pele, a especialista apresentou ainda cinco mitos que existem relativamente ao cancro da pele.
"O cancro da pele surge quando as células da pele crescem de forma descontrolada, formando tumores malignos", começou por explicar. "Existem dois grandes grupos: o Melanoma e o Cancro de Pele Não-Melanoma (como o carcinoma basocelular e o carcinoma espinocelular), que se distinguem pelas células onde têm origem e pelas suas características específicas".
"Ao contrário dos outros tumores da pele, que estão associados sobretudo à exposição solar crónica e cumulativa (como o carcinoma basocelular), o risco de desenvolver melanoma está mais relacionado com queimaduras solares (escaldões), especialmente na infância e adolescência, e com exposição solar intensa e intermitente, como nas idas ocasionais à praia ou à piscina sem proteção adequada", acrescentou.
O melanoma, a forma mais grave de cancro da pele, pode ter mais de 90% de taxa de cura, se for diagnosticado cedo. Mas quando os sinais são ignorados, o prognóstico muda drasticamente. Posto isto, quais são os principais riscos?
"O melanoma pode tornar-se fatal. O principal risco associado à sua progressão é a sua capacidade de metastizar, ou seja, de se espalhar para outros órgãos. Se for detetado numa fase inicial, é frequentemente curável. No entanto quando o diagnóstico é tardio, o risco de disseminação aumenta e o tratamento torna-se mais complexo. É por isso que o reconhecimento precoce dos sinais de alarme é essencial", realçou Beatriz Vilela na nossa entrevista.
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Questionámos a dermatologista sobre os principais comportamentos negligenciados pelas pessoas no que toca à prevenção do cancro da pele, nomeadamente no verão. O mais habitual é a exposição solar sem proteção.
"É comum a ideia de que 'bronzeado é sinal de saúde'. Na verdade, o bronzeado é uma resposta de defesa da pele contra a agressão dos raios UV. Quando a pele escurece, está a tentar proteger o seu ADN dos danos causados pela radiação solar, ou seja, o bronzeado é um sinal de dano. Não existe bronzeado seguro, é sempre sinal de maior risco de cancro de pele e de envelhecimento precoce", revelou.
Já no que diz respeito ao uso do protetor solar, Beatriz Vilela apontou três erros que são bastante comuns entre os portugueses.
- Não usar protetor solar ou escolher um fator baixo. O recomendado é um protetor de largo espetro (UVA e UVB) com FPS 50;
- Não reaplicar. O protetor deve ser reaplicado de 2 em 2 horas, ou após nadar ou transpirar;
- Achar que o protetor solar é suficiente. O protetor solar é uma ajuda, não uma solução isolada. É sempre preciso complementar com medidas como evitar o sol entre as 11h e as 16h, usar chapéu, roupa protetora e procurar sombra.
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Já se sabe que o verão é "a época de maior risco" para a nossa pele. Contudo, pode também ser a melhor época para prevenir e detetar sinais suspeito. "Como estamos mais expostos e com a pele mais à vista, é também uma boa altura para observar alterações suspeitas. Mas a vigilância deve ser feita durante todo o ano, porque o cancro da pele pode surgir em qualquer estação", elucidou.
Mas então, o que podemos fazer para identificar alterações suspeitas e como deve ser feita essa autoavaliação? "Devemos observar a pele de forma regular e de forma sistematizada. Procurar sinais que mudaram de forma, cor ou tamanho, ou que começaram a sangrar, formar crosta ou que não cicatrizaram", são algumas das maneiras.
Porém, Beatriz Vilela revelou ainda uma outra forma de reconhecer lesões suspeitas - A chamada 'regra do ABCDE' que implica:
- Assimetria;
- Bordos irregulares;
- Cor variável;
- Diâmetro superior a 6 mm;
- Evolução ao longo do tempo;
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Outra questão importante que Vilela fez questão de referir, é a forma como se encara o trabalho de um dermatologista, visto que, muitas vezes, este profissional "é confundido com um especialista de estética".
"O dermatologista é o médico que melhor conhece a pele e que está treinado para reconhecer precocemente sinais de cancro", esclareceu. "Pode parecer um sinal inofensivo, mas um diagnóstico feito a tempo pode salvar vidas. O acompanhamento dermatológico deve ser visto como uma medida fundamental".
Para concluir, Beatriz Vilela apresentou alguns dos principais mitos que existem relativamente ao cancro da pele.
Mito 1: Lâmpadas solares e câmaras de bronzeamento (solários) são mais seguras do que o sol
Desmistificação: Estas fontes artificiais de radiação UV não são mais seguras do que a luz direta do sol. Pelo contrário, as lâmpadas solares e as cabines de bronzeamento (solários) causam danos na pele e aumentam o risco de melanoma. A exposição a estas fontes artificiais deve ser evitada.
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Mito 2: O protetor solar oferece proteção total e é a medida principal para evitar o cancro da pele
Desmistificação: É importante notar que a proteção que os protetores solares conferem é limitada. Por isso, devem ser pensados como uma medida de proteção extra e não como medida de proteção principal. A proteção eficaz exige o uso de protetor solar de largo espetro (que filtre UVA e UVB) com FPS 50, reaplicado de duas em duas horas ou após o banho, mas deve ser complementado por outras medidas, como evitar o sol entre as 11h e as 16h, usar chapéu, vestuário de proteção e procurar a sombra.
Mito 3: Apenas pessoas de pele clara correm risco de desenvolver cancro da pele
Desmistificação: É verdade que pessoas com pele clara, olhos claros e sardas têm maior risco, mas ninguém está imune. Pessoas com pele mais escura também podem desenvolver cancro da pele, e muitas vezes o diagnóstico é feito mais tarde por passar despercebido.
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Mito 4: Os protetores solares reduzem a produção de Vitamina D
Desmistificação: A radiação solar tem um papel importante na síntese de vitamina D, contudo bastam alguns minutos de exposição por dia para que ocorra a sua síntese. Nenhum protetor solar é capaz de filtrar toda a radiação que atinge a pele e, por isso, não afeta de forma significativa a síntese da vitamina D.
Mito 5: Não precisamos de colocar protetor solar no inverno nem em dias nublados
Desmistificação: A radiação UV está presente todo o ano, mesmo nos meses de inverno. As nuvens conseguem diminuir a intensidade da luz solar que chega até nós, no entanto, cerca de 80% dos raios UV conseguem atravessá-las. Como tal, é fundamental usar proteção solar diariamente.
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